Nove.

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- Você realmente não sabia que estava dividindo o quarto com a princesa? - Marcela pergunta quando nos sentamos num sofá desconfortável num local que chamam de "a sala de estar leste".

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Há uma mesa de comida encostada na parede do fundo com várias xícaras de chá e pires, além de fileiras de bolos e biscoitos, mas definitivamente não estou com fome agora. Eu aceitei o sanduíche de pepino que Ma me ofereceu do seu prato, mas estou mais esmagando o sanduíche no guardanapo do que comendo.

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- Eu realmente não sabia - conto para Marcela num tom de voz baixo. - Mas, sério, isso parece o tipo de coisa que alguém deveria ter me contado. Quer dizer, recebi cinco mil e-mails sobre os tipos de meias que precisava comprar, mas não recebi um aviso de "ei, você vai morar com a realeza".

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Eu não conto que estou aqui graças a uma bolsa de estudos e, até onde sei, insultar a família real é motivo automático para que toda a grana da bolsa seja tomada de volta.

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Meu Deus, por que escolhi esse único momento da minha vida para ser arrogante com alguém?

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Manu está empoleirada em uma cadeira de aspecto frágil que ela pegou do outro lado da sala, e ela se aproxima com os cotovelos ossudos apoiados nos joelhos.

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- Faz sentido eles terem feito isso de propósito - ela diz. - Juntá-la com alguém que, tecnicamente, não é um subordinado. - Ela levanta os ombros estreitos com indiferença. - É uma boa ideia, na verdade. Deixa tudo menos incômodo.

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Recordo do que fiz, de ter chamado a princesa de Veruca Salt e revirado os olhos para ela.

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- Eu... já posso ter deixado a situação um pouco incômoda - confesso. - Embora ela não tenha agido com o refinamento que se espera de uma princesa, então não é totalmente minha culpa. Eu acho.

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Marcela e Manu arregalam os olhos e Ma agarra minha mão.

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- O.k., me conta tudo a-go-ra.

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Nós ficamos sentados no sofá, enquanto belisco o sanduíche mais um pouco e visões de eu sendo destituída do meu novo e sofisticado uniforme logo no dia de estreia circundam meu cérebro enquanto conto a eles o que aconteceu no meu primeiro encontro com Sua Alteza Estressante. Quando chego à parte da Veruca Salt, Manu solta um berro.

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- Ai, meu Deus, eu daria tudo pra ver a cara dela quando você disse isso.

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- Vai ficar tudo bem, né? - pergunto, amassando meu guardanapo cheio de farelos. - Quer dizer, eles não vão...

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- Te jogar numa masmorra? - Ma pergunta, e faço uma careta.

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- Não, eu não sou uma americana tão ignorante assim. Estava pensando em ser expulsa ou algo do tipo. Estou aqui com uma bolsa, e se a punição por insultar um colega de classe da realeza for a expulsão ou... eu não sei, deméritos ou algo assim?

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Manu sacode a cabeça antes de pegar um bolinho de chá do prato da Marcela.

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- Não se preocupe com isso - ela diz antes de engolir o bolinho numa bocada só. - O objetivo todo de enviar os filhos da realeza pra cá é forçá-los a viver como estudantes normais. Sem privilégios especiais, sem frescuras. Se eles não te expulsariam por me chamar de Veruca Salt, eles não podem te expulsar porque você disse isso a ela. Esse é o esquema.

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Falando na dita-cuja, justamente naquele momento Rafaella entra na sala acompanhada por duas garotas, ambas com cabelos tão brilhantes quanto os dela, mas não tão atraentes. As duas também estão de uniforme, mas Rafaella ainda está vestindo aquele suéter caro e os jeans de marca.

SUA ALTEZA REALOnde histórias criam vida. Descubra agora