Vinte e oito.

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— Essa rocha é mágica o suficiente?

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Estou de pé no topo de uma enorme colina esverdeada, olhando para uma rocha pontuda erguendo-se em direção aos céus. O vento está açoitando meus cabelos sob o gorro e minhas bochechas doem. Começou a chover mais ou menos quinze minutos depois de começarmos a caminhada e parou ainda agora, então estou levemente úmida e fria.

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Também estou encantada. Quando Rafaella me contou no café da manhã que havia algo que ela queria me mostrar, eu não imaginei que fosse nada assim.

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— A mais mágica de todas — confirmo, observando a Old Man of Storr.

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Rafaella não tinha mentido sobre essa parte de Skye ser bela de doer e também cheia de rochas. Parece que estou em outro planeta, ou quase, todo descampado e montanhoso, e pedrinhas soltas sob meus pés. Até os outros turistas corajosos o suficiente para encarar essa subida numa manhã úmida e com ventos fortes não diminuem a beleza do lugar ou a sensação de que estou num lugar completamente diferente e desconhecido.
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Sorrindo, Rafaella se abaixa para pegar um seixo solto, jogando-o para o alto com a mão. Ela está vestindo uma jaqueta vermelha e calça preta, o cabelo dourado enfiado sob um chapéu. Seu nariz também está vermelho e ainda assim ela parece quase pronta para uma foto de revista.

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É o jeito de Rafaella, eu acho.

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Então ela aponta para a rocha e diz com a voz alta suficiente para encobrir o ruído do vento:

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— Então me fala sobre ela!

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Fecho o rosto numa expressão confusa, tentando tirar o cabelo dos olhos.
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— Do que, da rocha?

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— Sim, Andrade, a grande rocha mágica. Fale pra mim tudo o que você sabe sobre rochas, tudo que está nesse seu cérebro enorme.

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Constrangida, apoio as mãos no bolso de trás da calça, olhando para a pedra. Ninguém, além de Miguel, se importava com todo o meu papo sobre rochas, então algo em mim se acendeu ainda mais quando vi que Rafaella parecia interessada, mesmo que minimamente.
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— Bom, ela é feita de dois tipos de rochas — começo, e Rafaella senta no chão, dobra os joelhos contra o peito e abraça-os.

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É uma pose muito distante do jeito usual de Rafaella e eu quase solto uma risadinha ao vê-la assim, sentada como uma estudante ansiosa e deslumbrada.

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— Mais alto! — ela grita, e reviro os olhos.
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— Dois tipos de rochas! — repito. — Em camadas, está vendo?

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Aponto e ela acena com a cabeça.

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— Então isso significa que a rocha é bem frágil e suscetível às intempéries, e foi isso que aconteceu aqui. Todo esse vento e a chuva por anos meio que… a talhou assim. Nessa grande rocha.
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Rafaella espreme os olhos enquanto observa aquela pedra gigante e pontuda, e então diz:
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— Diz a lenda que tem um gigante enterrado nesse morro e que esse é o polegar dele, saindo do solo.
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SUA ALTEZA REALOnde histórias criam vida. Descubra agora