Anjo de Neve

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Nos dias que se seguiram Embry retornou com Andy para La Push diversas vezes, queria fazê-la conhecer o ambiente em que vivia e coisas de que gostava. Em cada visita programou uma atividade diferente: houve um passeio pela floresta, outro pela praia, a montagem de um boneco de neve, conto das histórias e lendas quileutes, entre outras ideias vindas de sua cabeça lupina apaixonada... Ele realmente estava se esforçando para conquistá-la, mas os olhos azulados ainda permaneciam em completo mistério, não dando sequer uma dica se estava atingindo seu objetivo ou não.

Em seu íntimo Andy sentia algo diferente, talvez desde o primeiro momento ela sentira, mas não quisera admitir. Era estranho pensar naquilo, na forma com que ela abaixara sua guarda tão rapidamente para ele, aproximando-se e o deixando se aproximar também.

― O que posso fazer se ele me inspira confiança? – pensa ela todas as vezes que se lembra do assunto.

Quantas pessoas já se aproximaram dela de maneira pouco receptiva, muitas vezes humilhando-a diante dos outros como se não fosse capaz de fazer as coisas sozinhas. Mas com Embry era diferente, ele a induzia a fazer coisas que nunca tinha feito antes, sem questioná-la se conseguiria ou não. Ele a amava.

Amar. Andy nunca imaginou poder ouvir tal palavra de um garoto, ainda mais se referindo a ela... Sinceramente, a ruiva imaginava que envelheceria sozinha, deixada às traças sem que nunca ninguém a notasse, mas então ele apareceu e achou seus olhos bonitos, achou que ela não deveria se esconder, que era legal e a fez sentir-se especial.

Embry parecia não perceber o que incomodava a tantas pessoas, mas ela não o culpava, passara tantos anos tentando esconder aquilo e arriscando parecer uma garota normal, que acabou tornando-se convincente no que fazia, e somente as pessoas que a conheciam a longa data não podiam ser ludibriadas.

― Você está bem? – pergunta Embry, puxando-a de volta a realidade. – Ainda não me respondeu: o que gostaria de fazer hoje?

Andy coça o queixo enquanto pensava. O prazo do lobo estava chegando ao fim, faltavam apenas dois dias, talvez devesse escolher algo especial.

― Anjo de neve – responde finalmente.

― O quê?

― Vamos fazer um anjo de neve.

― Está falando sério?

― Sim. – Baixa a cabeça envergonhada, tudo o que menos queria era que ele achasse a sua ideia imbecil.

Andy crescera sem os pais, sua avó era idosa e nunca teve muita disposição para certas brincadeiras. Todos os dias ela ouvia as crianças pedindo aos familiares para fazerem anjos de neve, para que não ficasse aquela costumeira marquinha de mão na hora de levantar-se, mas ela nunca tinha a quem pedir. Aquela brincadeira tão boba e infantil acabou tornando-se o seu grande sonho...

― Está bem! – concorda o lobo, mais uma vez a puxando para a realidade. – Façamos um anjo de neve então... Sabe que eu nunca consegui fazer um desses sem deixar a marca da minha mão, na hora de levantar? – diz ele, olhando para o céu enquanto caçava as lembranças em sua memória.

― Podemos tentar fazer isso, eu ajudo você e você me ajuda – cogita Andy, insistindo na ideia.

O lobo concorda, e, agarrando as mãos da menina, a guia para um lugar onde a neve acumulada colaboraria para seu jogo. Ele gostava de estar no comando do passeio e Andy parecia não se importar com isso, sempre o seguia para onde quisesse.

Meia hora depois, eles chegavam ao local ideal, uma pequena abertura em meio à floresta que lembrava a clareira onde o bando costumava se encontrar. A neve estava bastante acumulada ali, branca, intacta e imaculada desde o dia em que caíra. Nem mesmo o bando parecia ter passado por aquela parte da floresta, pois não havia sinais de patas gigantes ali.

Olhos de VidroOnde histórias criam vida. Descubra agora