Quatro dias. Já fazia quatro longos dias que Andy permanecia trancafiada naquele quarto, como um cordeirinho esperando pelo dia do abate.
Sentada numa cama que não lhe pertencia e envolvida por cobertas cuja cor desconhecia, a ruiva fecha os olhos em meditação, recordando como fora seu primeiro dia naquele lugar, do desespero que a tomara por não reconhecer nada ao seu redor, pois, apesar de tanto treino, sua avó não havia lhe preparado para algo como aquilo. Entretanto, as coisas melhoraram depois disso, porque Andy logo recobrou sua razão ao perceber que seus sequestradores não lhe dirigiam a palavra e não a maltratavam.
Sair do lago do desespero e tomar posse de seu autocontrole foi a melhor atitude que ela poderia ter tomado e o maior erro que os vampiros poderiam ter cometido. Assim que recobrou sua razão, Andy colocou tudo de si para trabalhar como uma máquina, sentindo e captando mensagens que nenhum outro humano poderia compreender, ouvindo, tocando, cheirando... Talvez a linha inimiga realmente tivesse subestimado sua deficiência e as melhorias que ela tivera em seus outros sentidos.
Andy era cega, mas não burra: ouviu ruídos, murmúrios, sentiu a presença e o odor de alguém real. Dos sons ela não pudera ouvir nada sobre os planos dos sequestradores, no entanto pudera distinguir com fiel certeza os timbres feminino e masculino nas vozes. Ela não sabia quantos haviam de cada sexo, mas não se deixaria enganar: havia homem e mulher envolvidos.
Era engraçado pensar naqueles detalhes agora, pois algumas coisas não se encaixavam na história que Embry contara. Se ele estava sozinho, se ele era o mandante, quem era a mulher? Por que ela só sentia o perfume extremamente adocicado do que julgava ser uma fragrância feminina?
Eram muitas peças não encaixadas naquele quebra-cabeça e, mergulhando ainda mais em sua meditação, Andy se lembrou de um tiro. Nunca poderia dizer de que arma partira e nem se acertara alguém, mas lembrava-se perfeitamente de um tiro e depois de um longo período de silêncio, e na sequência sentiu o cheiro doce retornar ao quarto, como se seu dono – ou sua dona – estivesse novamente a observando.
Ela até poderia ter perguntado se havia alguém ali, mas algo dentro de si a mandou ficar quieta, ordenando que não se manifestasse ou eles descobririam sobre suas habilidades em adquirir informações à segunda vista, e ela seria uma mulher morta.
― Melhor deixá-los pensar em minha incapacidade – pensa ela em meio aos seus devaneios.
Pensar naquelas coisas era até estranho, ela poderia estar apavorada, gritando e chorando por alguém que a salvasse, mas não, estava apenas "pensando".
De todas as coisas que tinha para entender, a que mais lhe atormentava era a conversa que tivera com Embry, se é que poderia chamar aquilo de conversa. Suas palavras agressivas a magoaram grandemente, porém, também tumultuaram sua mente, deixando-a muito confusa: por que ele falaria aquilo depois de tudo o que dissera na casa dos Cullens? Por que se contradizia? Ele era bipolar? Tinha dupla personalidade? Estaria dizendo a verdade? Ou apenas mentindo?
Andy abre os olhos e se senta abruptamente ao pensar naquela última hipótese. É claro que ela queria acreditar em sua inocência, contudo, estava sendo difícil, pois as palavras ditas asperamente foram como farpas em seu coração. Novamente ele a desprezou, novamente disse aquelas coisas preconceituosas e a chamou de defeito...
Em pensar que um dia ele se apaixonou por seus olhos, em pensar que eles chegaram ao ponto de completar um ao outro, de saber o que o outro sentia mesmo sem haver queixas. Em pensar que um dia ele se declarou: "sua deficiência não importa mais" foi o que ele disse, e até mesmo recitou Romeu e Julieta, será que tudo não passou de uma mentira?
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Olhos de Vidro
FanfictionTodos tinham alguém, menos ele. Todos eram felizes, menos ele. A vida parecia tê-lo esquecido e a felicidade o abandonado, por muito tempo ele esperou, por muito tempo ele a procurou e quando estava quase desistindo, chegou o grande dia! Embry Call...