Dia Três

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Aquela fora de longe e de perto a pior noite que Embry tivera em toda a sua vida. Levou apenas alguns segundos para que as pontas da Dama de Ferro perfurassem sua pele, adentrando sua carne e lhe causando uma agonia constante e ininterrupta.

Em sua mente circulavam lembranças das lágrimas de Andy, a imagem frágil da humana penalizava Embry a ponto de sufocá-lo, a angústia fluía de seus olhos e de seus lábios descontroladamente, fazendo o lobo chorar e soluçar como uma criança desesperada.

Do lado de fora nada podia ser ouvido, nenhum grito, nenhum soluço, nada... A Dama de Ferro não deixava escapar nada de seu corpo pesado e de puro metal. E como se não bastasse isso, a cada tentativa do quileute de respirar, o fazia sentir as pontas do sarcófago se mexerem dentro de sua carne, fazendo-o lembrar que aquilo perduraria até o amanhecer.

Embry já estava em silêncio ao raiar do dia, não havia mais lágrimas a serem derramadas, não havia mais voz para gritar o quanto odiava aqueles vampiros, aquela situação e a si mesmo, por ter machucado Andy. Apenas o sossego fúnebre pairava naquele porão e ele permaneceu inerte e de olhos fechados, apenas desejando o fim de tudo aquilo.

O barulho das trancas sendo abertas chega aos ouvidos do lobo, a porta da Dama de Ferro se abre subitamente, fazendo seu semblante se contorcer ao sentir as pontas saindo de seu interior. Uma risada ecoou depois disso, alguém parecia se divertir com seu sofrimento e, ao abrir os olhos, o quileute se condoeu diante da expressão de escárnio de Hector.

― Vejo que alguém teve uma noite difícil – debocha. – Vamos, saia logo daí...

O lobo o ouvia, mas não obedecia. Seu corpo estava dormente e melecado com uma mistura de sangue, suor e lágrimas.

― Saia logo, seu sarnento! – esbraveja com nojo, puxando o braço do quileute para impulsioná-lo a sair.

Ele cambaleia alguns passos e logo cai, sentindo um incomodo rápido em seus ferimentos, mas sendo logo aliviado pela frieza daquele chão. Sem forças, era assim que ele se sentia. De seu orgulho não sobrara mais nada, Embry não tinha mais como manter a cabeça erguida diante de seus inimigos, pois sentia fome, cansaço e fraqueza.

― Tem algo a me dizer antes de começarmos nossas brincadeiras, garoto lobo?

― Me mate – sussurra ele, sentindo sua voz sair rouca pelo tanto que gritara durante a noite.

― O que disse? – pergunta o vampiro, sorrindo com a frase que ouvira muito bem e agachando-se ao seu lado somente para ouvi-lo repetir.

― Por favor, me mate de uma vez.

― Não acredito. – Se levanta, batendo palmas e festejando. – Eu lhe disse que antes da semana terminar você pediria pela morte! – Ri. – Eu sabia que a humana o afetaria, mas não imaginava que seria tanto.

― Eu lhe imploro – sussurra num timbre mais choroso –, acabe com isso logo...

― Oh, que bonitinho, está até implorando – comenta com euforia –, é uma pena que eu não pretenda matá-lo agora.

― Por favor, por favor, por favor...

― Não, não e não. Ainda quero vê-lo rastejar, mas, por hora, o deixarei descansar. Vamos conversar com a ruiva novamente.

Embry fecha os olhos com força, o semblante contorcendo-se novamente. Hector observa o corpo largado no chão com extrema satisfação e, dando-lhe as costas, sobe as escadas do porão sem remorso ou pena do prisioneiro enfraquecido.

O quileute gira no chão após sua saída e fica a fitar o teto. Por quanto tempo mais aguentaria aqueles jogos? Era estranho pensar no quanto estava forte e disposto no dia anterior, e no quanto se sentia fraco agora... Sem Andy nada fazia sentido e, ao magoá-la, ele sentiu que a estava perdendo novamente. A morte começava a parecer um sonho para o naquele momento; sumir, morrer, desintegrar, ele queria qualquer coisa, contanto que aquela sensação de vazio desaparecesse.

Olhos de VidroOnde histórias criam vida. Descubra agora