Uma Semana para a Morte

4.2K 339 86
                                    

Apesar de o medo percorrer cada fio de sua pelagem, Embry sentia seus músculos se energizarem com a ideia de ter Andy em liberdade novamente. Suas patas golpeavam o chão furiosamente, fazendo montes de terra e neve serem arrancadas do solo a cada segundo.

Seus olhos estavam tão focados no trajeto que percorria que o lobo mal notara o dia clarear e o vento se tornar ainda mais forte. As grandes nuvens negras ainda permaneciam pelo céu, correndo como um grupo de morcegos se reunindo para uma marcha fúnebre. Devia ser por volta das sete horas da manhã quando, sem aviso prévio, um estranho raio rasgou as nuvens, trazendo consigo um som ensurdecedor.

Embry sente seu coração falhar algumas batidas com o susto que tomara, somente então reparando no dia cinzento que se iniciara. Os raios ricocheteavam no céu, dando ainda mais adrenalina para a corrida do lobo, contudo, ele não deixava de imaginar que aquela, na verdade, era a forma da natureza se despedir de um de seus protetores.

Levou pouco mais de uma hora para que ele finalmente chegasse ao local indicado. O tal esconderijo era uma casa no lago, na realidade, com um andar, uma varanda grande e um píer, onde um barquinho boiava suavemente. O telhado vermelho fazia contraste com o verde ao seu redor, a construção era bem distante da estrada principal, embrenhado na floresta, e, a julgar por seu bom estado, certamente era roubada.

O lobo retorna à forma humana, vestindo apenas uma bermuda para cobrir sua nudez e marchando apressado em direção a casa, com a mochila em suas costas. Enquanto se aproximava, Embry ouviu o alvoroço em seu interior e de repente um tiro rasgou o ar, acertando a neve bem próxima aos seus pés descalços.

― Ana! – exclama ao recuar, mas sem realmente levantar o tom de voz. – Sou eu, vim como pediram: humano, sozinho e sem truques.

Houve mais um alvoroço dentro da construção antes da porta ser finalmente aberta, revelando a imagem sedutora da vampira nômade.

― Vejam que interessante, o convidado finalmente chegou para a festa – debocha a vampira. – Achei que fugiria como um filhotinho assustado, no entanto fez o contrário, e ainda conseguiu ser pontual...

― Entre, cachorro – ordena uma voz masculina, cujo dono não se dera ao luxo de sair e se apresentar.

Embry se aproxima lentamente, sentindo seus instintos gritarem em protesto pela presença dos vampiros. "Corra! Perigo", gritava seu lobo interior, "inimigos", lhe alertava. E quando Ana fechou a porta atrás de si, ele percebeu que não estava mais em tempo de sair.

Os olhos do quileute percorrem a sala em análise. Era bonita e confortável, na janela mais próxima tinha uma escrivaninha com uma espingarda – provavelmente fora dali que atiraram contra ele –, entretanto o que mais lhe chamou a atenção foi o vampiro sentado na poltrona do outro lado do cômodo. Cabelos curtos, rosto pálido e determinado, olhos vermelhos e postura ereta, como um rei sentado em seu trono.

― Essa não parece uma casa que um clã nômade seria capaz de ter – indaga.

― De fato! – esclarece Ana. – Tivemos de tomá-la de seus verdadeiros donos...

― O que fizeram? – pergunta apenas por perguntar.

― Nada demais, eles estão felizes agora... Descansando no fundo do lago. – Solta um suspiro profundo, fazendo uma negativa com a cabeça. – Pobre casal, se tivessem cedido a casa teríamos poupado suas vidas, ou, pelo menos, a de seu filho... Porém, ele era apenas um bebê, no fim das contas, nem chegou a sentir medo ou a sofrer.

Embry fecha os olhos em condolências àquela pobre família. Por que os vampiros tinham de ser sempre assim? Sempre cruéis e ordinários? Estar frente aquele clã de assassinos fazia-o valorizar ainda mais o estilo de vida adotado pelos Cullens, que, apesar de vampiros, pareciam bem mais humanos que aqueles malditos vermes.

Olhos de VidroOnde histórias criam vida. Descubra agora