Dia Um

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No início, Embry tentou emergir daquele barril com certa fúria e usando de muita força, mas, depois de algum tempo, foi o desespero que o impulsionou a tentar sair daquela situação. A falta de oxigênio feria seus pulmões, no entanto, era óbvio que os vampiros não o deixariam morrer tão cedo, e quando sua cabeça finalmente é retirada da água, ele não evitou uma respiração pesada, ofegante e urgente.

O quileute ainda sentia as mãos geladas prenderem os seus braços e ouvia com clareza as risadas sarcásticas de todas aquelas criaturas. Sua vontade naquele momento era a de aniquilar todos eles e, por pensar demais na ideia, acabou deixando escapar um rosnado, revelando as intenções de seu lobo interior.

― Quer virar lobinho quer? – pergunta Hector como se falasse com uma criança. – Se você reagir, serei obrigado a machucar a garotinha humana. Ana está com ela agora, lá em cima, no quarto, tão silenciosa que a menina nem sequer notou sua presença...

Droga! Embry já sabia daquilo, sabia que se tentasse algo era Andy quem pagaria o castigo. Ele nem sequer iria se transformar de verdade, apenas sentiu vontade, e antes mesmo que pudesse cogitar uma resposta ou qualquer outro pensamento, Hector agarrou seus cabelos negros e o afundou no tonel de água novamente.

A brincadeira perdurou durante muito tempo, mais tempo do que o quileute gostaria na verdade, e, a pior parte, era não poder mover um músculo contra eles. Jonh já havia se fartado daquele jogo logo nos primeiros minutos, pois não via a hora daquela etapa terminar, contudo, Hector parou somente depois de Embry colocar pra fora toda a quantidade de água que havia engolido.

― Solte-o e deixe-o se recuperar, quero amarrá-lo à cadeira ainda hoje – ordena o líder do clã, saindo do porão em seguida.

Foi somente quando Tayrone soltou suas mãos, que o quileute percebeu o quanto suas pernas estavam bambas e que, na verdade, era o vampiro quem o mantinha de pé. Seu corpo foi ao chão instantaneamente, com os pulmões ainda ofegantes e buscando a normalidade, os olhos desfocados, e o tronco nu encharcado assim como seus cabelos.

Embry sentia-se cansado, muito cansado. Seu lado lobo sempre lhe dera a resistência necessária para aguentar as lutas e as surras que lhe davam, mas agora era o seu lado humano quem estava sendo atacado e fragilizado.

― E esse é só o primeiro dia, garoto lobo – esclarece Jonh.

― Embry – sussurra em resposta –, eu tenho nome...

― Tanto faz – resmunga Tayrone. – Agora se levante, temos outro entretenimento para você.

― Como... Como ela está? Posso vê-la?

― Não, não pode. E ela está bem, já que você soube se comportar. Agora levante! – Embry se levanta lentamente. – Muito bem, cãozinho obediente – debocha.

Tayrone aponta para a mesma cadeira que o quileute usara anteriormente, o rapaz se sentou e acompanhou, com certa lentidão mental, enquanto Jonh lhe amarrava ao móvel, prendendo não só o seu tronco, como também suas mãos.

― Fique aí – ordena o irmão de Gregory –, e comporte-se.

Os vampiros trocam risadas maliciosas enquanto subiam as escadas para  o andar superior, deixando Embry finalmente em paz. E quando a nuvem em sua mente desapareceu, o quileute se deixou raciocinar por alguns minutos enquanto arrebentava as cordas que o prendiam. Francamente, ele era o peão naquele lugar, mas, ainda assim, tinha seu orgulho e não se permitiria ficar amarrado daquela forma.

Mesmo solto, o lobo precisaria permanecer ali, esperando o retorno dos vampiros e torcendo para que eles cumprissem com sua parte do acordo. Embry fecha os olhos por alguns minutos, deixando sua mente vagar e imaginar Andy sorrindo graciosamente para ele, enquanto mirava os olhos em seu rosto como se pudesse realmente vê-lo... Ah, quanta perfeição para um único ser humano, e pensar nela era algo tão bom, que ele nem sequer notara quando os seus humildes pensamentos se transformaram em sonho e o guiaram a um sono profundo.

Olhos de VidroOnde histórias criam vida. Descubra agora