Três Anos e Poucos Meses (Explícito)

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Entre pedidos desesperados e choros incessantes, Connie e Sasha tentavam me impedir de desertar da tropa. Uma vez feito, não haveria mais volta.

- Você é um completo egoísta! Nunca mudou nada! Você devia ter ido para a polícia militar já que nunca foi digno de usar esse brasão! – Sasha cuspiu as palavras apontando para o braço de minha jaqueta.

- Não seja estúpido Jean. Não faça as coisas de cabeça quente, você não está bem! – Connie puxou minha bolsa de viagem de cima da cama, e eu a puxei de volta, empurrando-o com a outra mão. Ele deu dois passos para trás e parou, assustado. Não era minha intenção machucar, muito menos abandoná-los, no entanto era minha última e única opção. Eu não suportaria mais viver essa mentira.

- Não encoste em mim! – gritei. Estava impaciente, confuso, movido pela raiva e pela decepção.

Os olhos de Connie e Sasha me olharam com reprovação, e eu soube que era hora de partir. Apesar disso e mesmo assim, os dois sabiam que eu não aguentaria por muito tempo. Senti uma ponta de tristeza pairar sobre a sala, o que me amoleceu um pouco. Precisei sentar para respirar; recompor meus pensamentos. Era tudo uma grande confusão.

Esfreguei meus olhos, e enterrei minha cabeça em minhas mãos.

Por poucos segundos, a imagem de Esther me veio na mente. Foi o suficiente para que eu não controlasse mais absolutamente nenhum de meus sentimentos. Chorei, silenciado pelas minhas mãos que abafavam meu rosto e minha boca. Por quanto tempo mais eu deveria suportar?

Fiquei ali por mais algum tempo. Despido de todos os meus sentimentos orgulhosos, de todas as minhas incessantes teimosias.

Lembrei da presença de Connie e Sasha, e levantei o olhar. Os dois permaneciam ali, olhando-me, mas agora com uma profunda tristeza.

- Eu não consigo – soltei, tentando engolir alguns soluços involuntários.

Sasha disparou em um choro alto e estridente, e me abraçou correndo. Ficamos os dois, pranteando como se estivéssemos prestes a morrer. Quase isso. Por dentro acho que eu já estava realmente morto.

Quando cessamos por um tempo, Connie se ajoelhou ao nosso lado, segurando a mão de Sasha e olhando-me fundo nos olhos.

- Faça o que for preciso, meu irmão. Estaremos com você – ele disse.

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Não me despedi de ninguém. Não me encontrei com Armin, Eren, nem mesmo Mikasa. Ela também não seria indiferente, pelo contrário, levaria a questão ao Capitão.

Saí o mais rápido que pude. Teriam que dar conta da mudança sem a minha presença.

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Cavalguei por horas até o meu primeiro destino. Esse, por sua vez, era uma das partes mais importantes para o meu completo processo de desistência da vida como ela era.

Amarrei meu cavalo em qualquer uma das árvores dali, e me despi completamente. Meus pés tocaram a água do lago sempre quente, enquanto voltavam em minha mente todos os momentos vividos com ela. Ela. Somente ela.

Me afundei na água, fechando os olhos. A memória era vívida ao ponto de ver e senti-la. Seus cabelos pretos e curtos. Sua pele macia e seu cheiro suave. Seus olhos brilhantes e sua boca cheia como uma fruta carnuda. Suas costas delineadas por uma dança de curvas; sua cintura como a de um instrumento de cordas. Seus seios como um belo conjunto de montes, apontados e roçando em meu peito. Sua intimidade cheia do seu doce gosto.

- Esther... Ah Esther... – gemi, não suportando sua falta.

Antes que eu pudesse ao menos controlar, senti meu líquido pulsar para fora, na água quente do lago.

Uma completa doença. De um sonho perfeito, Esther passara a ser o meu pior pesadelo. Sequer sobre meu próprio corpo eu possuía controle.

Senti nojo de mim. O que é que essa mulher havia feito comigo? Mesmo do além, ainda me despertava os desejos carnais mais insaciáveis e incontroláveis.

Tratei de me vestir e me despedir de seu fantasma, pela última vez.

Última vez.

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Meu cavalo trotava o mais rápido possível. Avistei a primeira torre da entrada do distrito, e apertei o passo. Estava perto.

Atravessei os portões da cidade sem precisar das credenciais, afinal, o uniforme da tropa bastava para a minha identificação. Corri o mais rápido que pude até meu destino final. Várias pessoas no meio do caminho me acenavam com sorrisos brilhantes no rosto; eu não entendia.

Avistei a grande porta de madeira da viela e parei meu cavalo ali. Amarrei-o no tronco que ficava em frente ao portal, e bati algumas vezes.

Não obtive resposta, então bati novamente. Silêncio.

Não bati de novo, apenas abri a porta.

- Mãe?! – chamei, esperando ela dar as caras, mas nada.

Sem esperar por mais nenhum sinal, corri pelos cômodos da casa. Todos estavam bem arrumados, completamente organizados como era de costume deixá-los.

Abri todas as portas; uma por uma. A última era do meu quarto; então entrei de uma vez.

Lá estava ela, sentada em minha cama, tricotando algo que eu não fazia ideia do que poderia ser. Parecia mais um remendo qualquer, do que qualquer peça que fizesse sentido. Ela deu um pulo em cima da cama, arregalando seus pequenos olhos.

- Pelos Deuses, mãe! – resmunguei, correndo para abraçá-la.

- Pelos Deuses, me solte! – ela gritou, afastando-me de si.

Recuei, dando alguns passos para trás. Não entendi absolutamente nada.

Suas mãos empurraram-me enquanto ela me apontava sua agulha de tricô. Eu permaneci estático onde estava.

- Tia, está tudo bem. Fique calma – ouvi. Me virei para a porta, e de lá vinha a voz que não me era estranha.

Enxerguei cabelos ruivos caídos em ombros finos, e minha mente voltou à alguns anos atrás.

- Louise?

Fluctuate (Parte II) - Jean KirsteinOnde histórias criam vida. Descubra agora