Um Ano e Doze Meses

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Hange de alguma forma conseguiu contornar a reunião problemática. Eren não estava mais lá para ouvir. Tinha saído batendo os pés e bufando, indignado com a coisa toda.

Confesso que não me senti mal. Estávamos ali pelo mesmo propósito, não por qualquer tipo de amizade.

Propósito este informado por Hange, logo depois.

- Para os que não estavam aqui anteriormente, e para os que ainda não possuem ciência da proporção de nossos problemas, espero que não se amedrontem quando eu terminar de falar - ela ajeitou os óculos no nariz, e abriu alguns papéis em seu colo. Pude jurar que sua boca se contorceu em uma linha fina de tristeza antes de começar a falar de novo.

- Estamos em uma guerra. E achamos que enfrentaríamos apenas um inimigo. Não é verdade.

Sasha segurou uma de minhas mãos com força e molhou seus lábios secos, o reflexo de sua ansiedade.

Talvez ela fosse a única ali dentro que ainda se preocupava verdadeiramente com a minha miserável vida. Ou ela apenas não queria me deixar escapar da guerra.

- Nosso inimigo é humano. Se chama Marley, é onde residem alguns dos titãs que já vieram até aqui nos fazer uma visita - dessa vez ela deu um leve sorriso, como se realmente pudesse achar aquilo engraçado. Louca, insana.

Não me assustei com nenhuma informação, não me abalei com as verdades e revelações que foram ditas naquela sala.

Também não me acovardei, diferente de como imaginei que seria.

Em algum momento quando os nomes de Reiner e Bertolt foram ditos, cerrei meus punhos e mantive o olhar fixo no chão.

Minha alma, apesar de anestesiada nunca iria se conter caso o assunto fosse aqueles dois.

No final de toda a história, o convite final foi feito. Nos juntaríamos a tropa, e enfrentaríamos o inimigo, ou voltaríamos para casa e morreríamos como covardes.

Covardes. Essas foram exatamente as palavras de Hange, e se eu não sentisse tanta empatia pela mulher, diria que ela tinha falado diretamente comigo. Afinal, eu era o maior dos covardes ali.

Aceitei ficar. Enfrentaria tudo aquilo, já que não existia opção melhor - e eu era ainda mais covarde para querer deixar o conforto das instalações da tropa e voltar para os prostíbulos e bares.

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Durante algumas semanas, o único pedido, foi que nos preparassemos. Eu voltaria para o time de elite - agora reformulado, e comandado por Mikasa - e treinaria todos os tipos de combate, de manhã, até a noite.

Os equipamentos de locomoção e nossos trajes também haviam mudado, e agora existia uma equipe de ciência por trás de tudo isso, responsável pela evolução da praticidade e tecnologia no combate.

- Não há como enfrentarmos nossos inimigos, sem o mínimo de preparo - disse Hange, em uma reunião. Essa, no caso, para apresentar um novo tipo de bomba de pequeno território. Chamavam de "granada". 

O nome do objeto não fora inventado. Na verdade, algum tempo depois da descoberta da existência da terra inimiga, alguns navios fretados com soldados de Marley foram interceptados por Eren e pela tropa.

Sem muita escolha, os Marleyanos foram obrigados a ficar aqui e desembarcar com todo tipo de objetos, comidas e tecnologias de guerra. Daí a "granada", e vários outros.

Alguns homens se recusavam a permanecer na ilha, tentavam fugir pelo mar e acabavam morrendo sem saída. Outros se juntaram à tropa - sem nenhuma opção - e prometeram colaborar com as nossas atividades.

Fluctuate (Parte II) - Jean KirsteinOnde histórias criam vida. Descubra agora