Um Ano e Várias Lembranças - II

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Esther - Depois da retomada de Shiganshina.


- É confuso, e quanto mais eu te explicar, menos você irá entender. E, Eren precisou intervir diretamente na situação de Jean com essa garota... Louise - Zeke disse, pegando um cigarro de dentro do maço. Ele aproximou seu rosto do meu, encarou-me nos olhos, e acendeu seu fumo na ponta do meu. 

- Preciso que confie em mim, em nós. Em mim e Eren. Nós temos a resposta para tudo isso, e não estamos deixando Jean de fora. Estamos salvando-o. - Ele tragou o cigarro com vontade, sentando-se próximo à janela, na única cadeira pequena que o quarto tinha. 

Desviei meu olhar do seu. Era difícil de acreditar em todas as coisas que Zeke me dizia. Era como se toda minha vida tivesse sido apenas uma grande mentira, e eu, não tinha outra opção que não fosse acreditar em tudo aquilo. 

- Zeke... Por que não me disse nada disso antes? Por que não... - parei de falar para tragar mais um pouco do cigarro, antes da ansiedade tomar conta do meu corpo novamente. - Sabe... Eu não me sinto mais parte de nada, eu não sei... Talvez ele esteja melhor com sua prima, meia irmã, seja lá o que ela for. Eu não o mereço, e sequer posso vê-lo, ou... ou terei de... de matá-lo - terminei de falar, com lágrimas nos olhos.

Zeke se levantou, colocando uma de suas mãos em meu ombro, acariciando com delicadeza. Eu nunca tinha recebido tal carinho dele - nem sabia se poderia chamar de carinho. 

- Por mais que ele esteja louco, Esther, essa garota, foi apenas uma peça na vida de Jean para reaproximá-lo do propósito final - ele disse, apertando meu ombro mais uma vez. - Daqui algum tempo, ele estará de volta na tropa, creio eu.

O olhei com cautela. O olhar de Zeke de fato se parecia com o de seu... irmão. Era tão difícil para eu me acostumar com aquela ideia. 

- Pense em tudo o que eu disse, Esther. Logo eles estarão aqui, e você não terá mais tempo. 

Com essas últimas palavras, Zeke se virou e saiu, deixando-me no emaranhado de pensamentos confusos sobre tudo o que havia dito. Sobre Jean, sobre Paradis, sobre Marley, a guerra e a liberdade. E agora eu precisava lidar com toda aquela loucura, sozinha.


Esther - Dia do ataque à Marley.


Ver seus olhos castanhos logo ali em minha frente, ao mesmo tempo encheu-me de esperança, tristeza e solidão. Seu corpo estava mais alto e forte, e transparecia as marcas que o tempo havia cravado em sua pele. Seus cabelos estavam compridos, e me lembrei de quando pedi para que os deixasse assim - ele tinha ouvido.

Meu coração retumbou dentro de meu peito, mas ao mesmo tempo, eu senti que iria vomitar com tudo aquilo. 

Os últimos anos se passaram na frente dos meus olhos, e eu implorei aos Deuses para que ele me matasse de uma vez, ou para que talvez Levi aparecesse por ali e me cortasse em mil pedaços. 

Nada do que passei em Marley nos últimos tempos poderia ser comparado com o que eu sentia agora. Nenhuma das inúmeras torturas que eu havia sofrido, se comparavam com aquela. Vê-lo em minha frente e não poder tocá-lo, não poder beijá-lo. Eu queria dizer tantas coisas...

- Fique longe disso tudo, Jean. Eu te imploro - foi o que eu consegui falar. 

Ele disse algumas palavras para as quais não me atentei, antes que eu pudesse descer o capuz. Meu rosto agora estava exposto, e toda a verdade era traduzida em meu rosto. 

Eu estava viva. Eu era a Titã fêmea. Eu o havia traído. 

E ele sabia. 



Fluctuate (Parte II) - Jean KirsteinOnde histórias criam vida. Descubra agora