Capítulo 15

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Capítulo 15

__Por Nur! Eu não podia imaginar que Raíssa fosse uma das rebeldes. – exclamou Sonia com o Bispo Walfredo. Naquele final de semana, estavam todos reunidos na casa do Governador Geral, para comemorar o aniversário de Marcus. Sonia desejava uma grande festa, mas seu pai não permitiu, queria algo íntimo, alegou que sem Sara, não tinha graça.

__Eles são dissimulados minha filha. Nos enganam com doces palavras para ganhar a nossa confiança. Creia-me, eu já fui enganado por uma delas.

__Como ela pôde desperdiçar a oportunidade que o senhor lhes deu? Arranjou-lhe empregos, uma escola para os filhos. Que mal agradecida! – Sonia balançava a cabeça em sinal de reprovação. Marcus, no entanto, ouvia a conversa com certa suspeita. "O que o Bispo poderia querer com rebeldes?" Ele o obrigou a assinar a ordem de soltura de três rebeldes, supostamente arrependidos e dedicados à religião. Mas Marcus suspeitava que houvesse algo mais por trás das intenções do religioso.

Depois do jantar e da sobremesa, que consistia em um bolo decorado, feito especialmente para o aniversário, o Bispo e Marcus se reuniram em seu escritório.

__Fico feliz que tenha permitido a Sonia comemorar o seu aniversário. – disse o Bispo para Marcus. __Ela tem se esforçado para superar a perda da mãe.

__Sim, eu sei. – Marcus falou em concordância. E como o silêncio persistiu após a resposta curta, Walfredo lançou a pergunta:

__Então, por que estou aqui?

__Eu soube que um dos seus protegidos escapou. – Marcus falou enquanto se servia de uma bebida. Walfredo ficou em silêncio por um tempo depois resolveu falar.

__Sim, confiei demais. Meu erro, eu admito.

__Acredita que ele estava... Como era mesmo o nome dele?

__Hermínio.

__Acredita que esse Hermínio estava envolvido com o ataque a Usina Termoelétrica de Nice?

__Tudo leva a crer que sim. – Walfredo respondeu com seriedade.

__Colocaremos seu retrato nas fronteiras e nos portos. – Marcus falou com praticidade.

__Sim, já foi providenciado. – Walfredo respondeu __Mas não tenho esperanças de encontrá-los.

__E os outros? Lembro que assinei a soltura de três presos.

__Roberto morreu há pouco tempo, e Alessandro trabalha com vendas para a igreja.

__Morreu de quê? – Marcus inquiriu curioso.

__Pneumonia. – Walfredo soltou sem pestanejar.

__Não é perigoso deixar esse Alessandro solto por aí?

__Ele é meu espião. Mantém-me informado sobre seus antigos amigos de rebelião.

__Confia nele?

__Claro que não, mas tenho formas de mantê-lo ao meu lado. Seu pai vive em um asilo agora, mantido por mim.

__Chantagem não é um pecado perante Nur?

__Nur perdoa quando é por uma boa causa. – Walfredo disse com um ligeiro sorriso nos lábios.

__E o que descobriu? Com certeza ele não falou sobre a fuga do amigo.

__Ele estava no Setor 4, em Danath. Eu soube que entre os mineiros, a rebelião nunca acabou. Eu o mandei para que averiguasse a situação por lá.

__É de se esperar! – Marcus comentou __Aqueles homens não podem viver satisfeitos com a vida que têm.

__É a vida que Nur lhes ofereceu! – Bispo Walfredo professou.

__Isso não quer dizer que devam gostar.

__Então concorda com eles? – o Bispo o questionou com uma ruga entre as sobrancelhas.

__Não, mas não posso negar que alguns são bem infelizes em seu nascimento.

__Se fossem tementes a Nur, não reclamariam da sorte. _ Marcus se calou, sabia que nada que dissesse mudaria a opinião do religioso, mas gostou de saber que o Bispo mantinha espiões entre os rebeldes. Ainda tinha sede em descobrir o líder, pois a morte de seu filho não ficaria impune. Alguns anos na prisão não o satisfariam, só a morte deles poderia aplacar a sua raiva.

Dois meses depois, Filipe encontrou-se com Alessandro em Teldas, quando vendiam suas mercadorias. Filipe com suas joias recicladas e Alessandro com artigos religiosos.

__Bispo Walfredo ficou desconfiado depois da fuga de Hermínio. – disse Alessandro enquanto comiam um sanduiche em uma lanchonete de beira de estrada.

__Ele não tem medo que você fuja também? Estou surpreso que continue a viajar livremente.

__Não. – ele disse e riu. __Walfredo acredita que me tem em suas mãos.

__E não tem? – Filipe riu também.

__É o que ele pensa.

__Não tem medo que ele faça mal àquela família?

__Eles já não moram mais em Ofir, somente o velho vive em Melina.

__É seu pai! – Filipe falou um tanto sério. __Não deve se referir a ele dessa forma.

__Não, é o homem que me comprou depois que minha mãe morreu. Você sabe, já lhe contei essa história. Minha mãe se vendia no porto de Melina, meu pai deve ser um marujo qualquer e depois que ela morreu, a mãe dela me vendeu para esse comerciante. Fui um escravo e não um filho. Não me importo se Walfredo o pegar.

__Mas ele não sabe disso.

__Ele pensa que me preocupo com o homem. De vez em quando me faz ameaças veladas.

__Bom para nós. – diz Filipe. __Enquanto ele pensar que você trabalha para ele contra nós, você poderá nos manter informados dos planos de Walfredo.

__Bem, deixa de conversa mole. O que você pretende agora? Os mineiros ficaram um pouco desconfiados, estão com medo de outro fracasso.

__Não, não dessa vez. Vamos enfrentá-los com armas de verdade. Nada de bastões e flechas. Usaremos armas de fogo.

__Eles não sabem como usá-las. – Alessandro argumentou.

__Teremos que nos preparar.

__Isso levará anos.

__Tem razão e quanto mais cedo começarmos, mais cedo poderemos tomar o poder.

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