Capítulo 10

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Capítulo 10

Dois anos se passaram e o noivado de Sonia caminhava finalmente para o casamento. Um casamento de grandes proporções e gastos, pois Sara contratou somente os melhores para a realização do evento. Marcus continuou taciturno e pouco conversava com a esposa ou a filha. A perda de Jordano, Selena e Estela o marcaram profundamente, mesmo não tendo encontrado o corpo da menina, Marcus se convenceu de que a criança estava morta. Sara passou a ignorá-lo e a se dedicar somente a Sonia e ao seu futuro, e planejava uma festa tão grandiosa que ficaria na história.

__Sonia, minha querida, não acho que deva se servir de mais um pedaço de bolo. – Sara a repreendeu quando a viu cortar mais um pedaço de bolo de chocolate servido na casa de seus sogros. Ela corou em tom forte de rosa.

__Deixe a menina comer Sara! – Madalena que passou a gostar da menina a defendeu __Ela é tão magrinha.

__Mas se continuar comendo assim, não entrará no vestido. – Sara completou.

Sonia apoiou as mãos sobre o colo e abaixou a cabeça, sentia-se envergonhada e dava graças a Nur por seu noivo não estar por perto. Algumas vezes tinha impressão de que Luciano tinha vergonha dela, por algo que havia dito ou feito, por vezes a chamou de infantil, mas sempre lhe pedia desculpas quando percebia que a havia magoado.

__Luciano pretende mudar-se para Helvécia logo após voltarem da lua de mel. – disse Madalena enquanto passava geleia em mais um pedaço de torrada.

__Sim, eu entendo, apesar de sentir muito, pois vou ficar longe de Sonia, mas é o seu trabalho, o que se há de fazer? É dever da esposa seguir o esposo onde ele estiver. – comentou Sara olhando diretamente para a filha, que se mantinha calada.

__Interessante você dizer isso Sara. – comentou Madalena após sorver um gole de chá de sua xícara. __ Quando Marcus passou meses seguidos em Salenas, você não o acompanhou. – Madalena alfinetou a sogra de seu filho, que impunha regras rígidas a todos, inclusive sua doce filha, mas todos sabiam o porquê de seu marido viajar tanto para o sul.

__Porque ele não poderia se mudar para lá em definitivo, ficava por um tempo para tratar dos assuntos da empresa do pai. E achou melhor evitar esse vai e vem na estrada. – Sara justificou-se.

__Entendo. – Madalena suspirou e deu de ombros __E você, Sonia, está feliz com o destino da lua de mel?

__Sim, claro. – a jovem respondeu sorridente. __As planícies de Grinória devem estar mais quentes que aqui. Vai ser bom poder sair ao ar livre com roupas mais leves.

Enquanto Sara descrevia as vantagens do local onde passaria a lua de mel, sua mãe remoía a raiva que sentia pelos comentários maldosos das pessoas. Mas ela agora não precisava mais preocupar-se, pois a herege estava morta e nunca mais atrapalharia sua vida.

Em Tamara, Estela crescia ao lado de Samuel, como se fossem primos, já que Filipe ainda não havia desmentido a paternidade da menina. Ela estava com quatro anos e meio e sua inteligência era acima da média, aprendia tudo com facilidade, para alegria de Cleonice.

Filipe os visitava a cada três meses, o que deixava sua irmã feliz, mas ao mesmo tempo aborrecida.

__Por que não quer que Estela o chame de pai? – questionou Cleonice um dia quando disse a menina para cumprimentar o pai e ela respondeu: __Filipe não é meu papai. – enquanto tentava ajeitar os cabelos de lã da boneca Naninô.

__O quê? – Cleonice perguntou estupefata. __O que disse meu anjo?

__Telinha não tem papai. – ela ergueu seus olhinhos acinzentados e encarou Cleonice.

__Quem disse isso meu amor? – a mulher a pegou nos braços e sentou-se ao lado de Filipe no sofá. __Vamos minha querida, quem disse isso para Estelinha? Foi o Samuel?

A menina pulou dos braços dela para o colo de Filipe e com as duas mãozinhas, tocou em seu rosto e sorriu.

__Filipe é amigo de Telinha. – Filipe levantou-se e a colocou no sofá ao lado de Cleonice e saiu da sala em direção à varanda, sua irmã ficou de boca aberta e o seguiu.

__O que houve lá dentro? Você não pode tratá-la dessa forma. – ele olhou para sua irmã, atormentado com suas acusações e retornou para a cozinha. __Filipe está me ouvindo?

__O que quer Cleonice? Eu já fiz e faço tudo que posso por ela.

__Poderia amá-la. – ela falou em voz baixa, não queria que a menina escutasse.

__Não sei se posso, não consigo. – ele falou enquanto se recostava no balcão da pia. Observava a expressão de horror da irmã. Ela devia imaginar que ele era um desalmado, que não amava a própria filha. __Não entende? Estela não é minha filha. – ele confessou. __Ela é filha de Marcus e por culpa dele, Selena está morta. – ele gesticulou em direção à sala. Cleonice olhou para a sala e cobriu a boca com a mão.

__Você deixou que pensássemos que ela fosse sua. Por que fez isso?

__Eu nunca disse que era minha.

__Mas também nunca negou.

__Tive medo que não quisesse cuidar dela se soubesse a verdade. E ... e se os outros souberem... – ele fez uma pausa __ todos odeiam os Governadores, odeiam Marcus, tenho medo por ela, tenho medo que a utilizem contra Marcus.

__Não, não, Filipe. – ela sacudiu a cabeça vigorosamente em negativa, tocou em seu ombro. __Nós a protegeremos, é a filha de Selena, nós a protegeremos, - ela reafirmou__ ninguém precisa saber a verdade.

No casamento de Luciano e Sonia, estavam presentes todos os Conselheiros de Miranda e Lissandra, o Governador Geral Alexander, o Bispo Walfredo e pessoas influentes de outros setores.

O templo dedicado a Nur estava todo decorado com flores brancas e amarelas, assim como o vestido da noiva. Luciano trajava sua farda de gala e tudo aconteceu segundo as tradições. Os noivos trocaram seus juramentos e depois trocaram presentes, um objeto, algo que fosse importante e tivesse um significado pessoal. Sonia entregou ao marido o broche de ametistas que ganhara do irmão no seu aniversário de dezesseis anos, o ultimo presente que o irmão lhe dera. Luciano a presenteou com uma medalha de condecoração, a primeira que recebeu logo após o ataque rebelde.

A festa se estendeu por toda a noite e os noivos eram a encarnação do amor e da felicidade. Alexander discursou e comoveu a todos quando mencionou o ato heroico do irmão da noiva alguns anos antes e brindou a saúde do casal.

Naquela noite o Governador Geral suicidou-se em seu gabinete com um tiro na boca. Foi o primeiro caso de suicídio por arma de fogo desde que as guerras aconteceram, o novo Governo pós guerra e a Igreja aboliram todas as armas de fogo. Era por isso que a Guarda Nacional só utilizava tranquilizantes e armas de choque. Isso não quer dizer que não existissem, vindas de outros países, como Grinória, por exemplo, elas estavam por todo o lugar. O povo só não imaginava que o líder supremo do país fosse se matar com uma delas.

O Conselho geral e a Cúpula da Igreja se reuniram para eleger outro líder e não foi surpresa para ninguém, quando dentre três candidatos, Marcus fosse o escolhido para governar Ofir.

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