Capítulo 28

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Capítulo 28


Em Tamara, Cleonice acordou com uma sensação de opressão no peito. Sentia que algo estava errado. Samuel a encontrou recolhendo os cacos de uma travessa de vidro no chão da cozinha.

__O que houve mãe? Está chorando?

__Bobagem.

__Diga logo ou vou imaginar todo tipo de coisa.

__É só uma sensação horrível.

__Um pressentimento? Acha que aconteceu algo errado com eles?

__Eu não sei. Talvez seja só preocupação. – ela falou levantando-se com os cacos na pá e os jogou no lixo. __Não fique preocupado.

__Vou até a mercearia. Pode haver notícias no rádio.

__Isso! – ela falou e bateu de leve em seu ombro. Não sabia se era melhor saber ou não, o que poderia ter acontecido.

Enquanto seguia até o centro do Vilarejo, Samuel se perguntava intimamente por que sua mãe pressentira o perigo e ele não. Será que só as mulheres possuíam o dom da premonição? Caminhava distraído por entre as casas de madeira quando foi surpreendido.

__Oi! – Samuel saltou, pronto para lutar quando alguém tocou-lhe o ombro.

__Você quase me mata de susto! Nunca mais faça isso, poderia ter machucado você.

__Me confundiria com um dos Guardas de Ofir? – Rebeca o inquiriu com um sorriso, fazendo Samuel sorrir também. __Aonde vai?

__À mercearia.

__Vou com você. – ela respondeu e entrelaçou os braços nos seus. Samuel olhou de modo curioso para a garota e resolveu seguir adiante.

__Quando chegaram? – ele perguntou sem realmente querer saber.

__Ontem. – ela falou e olhou ao redor. __Mamãe conseguiu uma vaga para lecionar na escola da Vila.

__Fico feliz por vocês. – ele respondeu sendo educado.

__E você, pretende trabalhar em quê? – ela voltou o olhar para o rapaz de cabelos ruivos e rosto gentil. __Você conseguiu completar os estudos?

__Sim. – Samuel respondeu entre dentes.

__Então, se especializou em quê?

__Sou técnico agrícola. – ele falou com desgosto.

__Pode procurar uma das estufas do setor 3. – ela disse e sorriu.

__É sério? – ele questionou com sarcasmo e ela gargalhou.

__É claro que não. Só se fosse para ajudar seu tio a roubar todo o estoque do Governo.

__Meu tio não é um ladrão!

__Ele é sim. – ela foi veemente. __Não é porque rouba para os pobres que não é ladrão.

Samuel soltou o braço do dela e caminhou mais rápido.

__Ei! – ela correu até acompanhar o passo apressado do rapaz. __ Não fique bravo. Eu não estou recriminando as atitudes dele. Sei que o nosso Governo é opressor e que precisamos de mais pessoas como seu tio.

Naquele momento eles chegaram a mercearia do Senhor Afonso. Samuel entrou e pediu ao velho senhor de cabelos grisalhos para ligar o rádio.

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