Capítulo 20

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Capítulo 20

O barulho da água, correndo encachoeirada por entre pedras e troncos, era tranquilizador. Pássaros cantavam nos galhos mais altos e borboletas volitavam sobre o riacho como se lavassem as patas sujas de pólen. Estela estava deitada sobre uma pedra, sentido o sol fraco a aquecer lhe a face. Sentiu a presença de Filipe antes de ouvi-lo se aproximar, mas manteve-se de olhos fechados.

__Aí está você.

__Precisava de um banho. – ela respondeu e se sentou.

__Por que não usa a tenda das mulheres?

__Não gosto, prefiro o rio.

__Não deve sair sem avisar, é perigoso.

__Para quem? - ela o inquiriu e riu.

__Você está bem? – ele ignorou seu comentário e sentou ao seu lado.

__Estou. – Estela respondeu e encolheu o corpo abraçando os joelhos.

__Sabe que pode confiar em mim, não é mesmo? – ele perguntou e a jovem não respondeu, então ele continuou: __Está aborrecida por ter vindo? Não queria ter saído de Tamara?

__Não, não é isso.

__Por Nur, Estela! Conte o que está acontecendo, por que se mantém afastada de todos, por que está sempre longe, escondida em algum lugar?

__Não gosto da forma como eles me olham, sei que estão com medo de mim. Principalmente depois do que houve no complexo. Até mesmo você.

__Não vou negar. – Filipe falou e olhou para longe. __Mas se você se afastar, será pior. Precisa conquistá-los. – ela riu, quase bufou.

__Conquistá-los? Filipe, eles temem os meus poderes, me consideram uma bruxa e só me toleram por que pensam que sou sua filha.

__Isso não é verdade. – ele falou com uma trava na garganta.

__Não. Tem razão. Eles me toleram por que acreditam que sou uma arma. Uma arma poderosa que pode ajudá-los a se livrarem do meu pai.

__O quê? – ele a observou com incredulidade.

__Sei que Marcus é meu pai.

__Desde quando sabe disso?

__Pouco tempo, tenho sonhado com ele e com minha mãe.

__E como você se sente em relação a isso? Não está com raiva por não termos contado? – ele perguntou preocupado.

__Não... não sei. Às vezes lembro-me do medo que eu tinha dele, ou talvez seja o medo dela que eu absorvia. Às vezes o ouço me pedindo perdão.

__Perdoá-lo? Como assim?

__Não sei. – ela respondeu com tristeza.

__É Selena que não quer que lutemos! Ela está pondo imagens em sua mente. – Filipe falou entre exasperado e decepcionado.

__Não creio que seja isso. Eu sinto como se fosse algo só meu. Sou eu que devo perdoá-lo. Ele fez algo...

__O quê? Algo com você? Quando era criança? – Filipe parecia desesperado, a ponto de estourar se soubesse de algum tipo de violência contra uma criança.

__Não, não me lembro. – ela levantou-se e quando se preparava para voltar ao acampamento ele a chamou.

__Espere. – Filipe a segurou pelo braço e a obrigou a olhar para ele. __Você não me disse tudo, o que está me escondendo? – ela sorriu levemente.

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