Os dias passaram e Betty ainda estava surpresa pelas flores que havia recebido. Ela nunca havia recebido flores antes. Ou qualquer coisa antes, para ser sincera.
Ela não tinha muito contato com pessoas de sua idade. Seu melhor amigo era o seu gato laranja. A pessoa com quem mais conversava era a própria mãe. Ela acreditava que não havia ninguém no mundo que a conhecia verdadeiramente – e ninguém realmente a conhecia, porque ela sequer conhecia a si mesma. Como seria possível ser compreendida se ela mesma não mostrava como queria ser compreendida?
A garota da porta ao lado, no entanto, se sentia diferente. Apesar de Betty não ter conversado com ela, ela sabia, em seu âmago, que a garota a entenderia caso conversassem sobre coisas. Coisas em geral. Nada específico. Só a crucial dor de crescer.
Betty queria fazer algo para ela. Talvez também lhe dar flores. Mas aquelas que tinha em seu jardim eram poucas e seriam necessárias para completar o rendimento da casa. Então o que ela poderia fazer?
Ela provavelmente não poderia oferecer nada de tão especial. A garota era uma convidada na maior casa da região. Provavelmente tinha bolos e geleias todos os dias, e tantas pessoas com quem conversar! Todos aqueles empregados querendo lhe tratar bem! Ela provavelmente tinha tudo que o seu coração desejava.
E onde se encaixaria Betty? Ela provavelmente não poderia fazer algo tão fantástico como o buquê que recebeu; então ela se contentou em assistir a menina de longe, de sua janela. Às vezes, quando saía de casa para molhar as plantas, ela via a menina correndo em seu belo jardim ou sentada em um canto, lendo livros. Quando ela estava fora de casa, Betty tentava se esconder. Ela queria ver a garota mas não queria ser vista por ela.
Ela era feia demais, atrapalhada demais para sequer chegar perto. Seria melhor não falar com ela.
Além disso, ela tinha medo da realidade ser decepcionante. Quando olhava para a estranha, via uma garota bela, moderna e gentil que a entenderia como gostaria de ser entendida. Ela sabia que aquilo era apenas a sua imaginação. A estranha provavelmente nunca falaria com ela sem achar que era estranha e nunca consideraria ser sua amiga.
Por outro lado, ela lhe mandou flores... e um bilhete fofo...
Talvez ela deveria tentar?
Talvez aquele sonho poderia transformar-se em algo real, e algo lindo.
Dias viraram noites e Betty ficou cansada de se esconder atrás de tantas paredes. Ela queria andar até a garota e segurar a sua mão e dizer tudo sobre ela – mesmo que esse "tudo" fosse um mistério para ela própria.
A ruiva usou as tarefas domésticas como uma distração para deixar de pensar sobre a estranha na casa ao lado. Não havia razão para ficar obcecada com a possibilidade de conversar com ela se Betty não fosse corajosa o suficiente. Ela limpava uma parte da casa todos os dias e ia com o seu pai em todas as suas reuniões. Ela ajudava os vizinhos com as suas hortas e aprendia a cozinhar para que a mãe não o precisasse fazer. Durante essas semanas, ela foi a filha perfeita.
Mas o que realmente fazia os seus dias eram os vultos da garota que via quando saía de casa. Seu longo cabelo escuro voando com o vento, como as suas roupas. Ela parecia um passarinho, pronto para fugir. E, no seu subconsciente, Betty podia se ouvir pedindo para que ela a levasse junto.
Ela queria saber como os seus dias eram e o que a fazia feliz. Porque, por aqueles momentos, aquela garota a fazia feliz.
Era isso. Ela precisava dar algo de volta.
Não flores. Seu pai venderia os girassóis em uma feira próxima da vila e ela não podia pegar flores o suficiente para fazer um belo buquê – especialmente porque sua família a questionaria sobre. Ela não queria que soubessem o seu segredo. Se fosse somente dela, seria mais especial.
O que seria a coisa perfeita para apresentá-la?
Em uma tarde qualquer, ela sabia o que devia fazer.
Ela colheu algumas cenouras de seu jardim e preparou um belo bolo. Ela o enrolou em um papel bonito e o colocou em uma cesta delicada. Também escreveu um bilhete e colocou apenas uma flor ao lado. Com o presente preparado, correu para a porta da menina.
Ela esperava que poderia fugir antes que qualquer pessoa abrisse a porta, então colocou o presente no chão e bateu no grande portal de madeira três vezes. Quando ouviu passos de alguém pulando pelos degraus da escada, correu para casa. Não estava pronta para ser conhecida. Ela só queria que a menina soubesse que era adorada.
Florence abriu a porta com tremenda alegria. Não havia ninguém do lado de fora, o que a desapontou. Ela pensou que talvez aquele dia seria o momento em que conheceria a bela vizinha cantante! Ela olhou para os seus próprios pés, para lidar com os próprios sentimentos de tristeza, e assim o viu.
Ela o pegou o mais rápido que pôde e o segurou bem perto de seu coração. Ela tinha sido respondida! Ela tinha sido conhecida!
Ela correu para o andar de cima, para o seu quarto, e abriu o presente sobre a sua cama. No cesto, havia um bolo amarelo, um girassol e um bilhete. Com letras pequenas e delicadas, estava escrito:"você é linda. gostaria que fôssemos amigas"
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um segredo de verão
RomanceUma garota da cidade visita a fazenda da sua avó e ali fica durante o verão, antes de se mudar para outro país para seguir seus sonhos. Imediatamente, ela fica fascinada com a vizinha - uma menina ruiva e tímida chamada Betty, que, por sua vez, tamb...