um milagre

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Em um daqueles dias, Florence perguntou a Betty se gostaria de ir à sua casa. Ela não sabia o que fariam juntas, só sabia que queria estar perto. Talvez poderiam ficar dentro da casa, tocar música, ou talvez poderiam correr pelo campo de lavandas, deitar ali e esperar pela passagem da vida.

Poderia fazer qualquer coisa com a vizinha. A sua presença era o suficiente para que Florence sentisse que a vida era uma bênção e que o universo era mágico. Ela descobriu que magia deveria ser real, já que Betty também o era.

Não queria pensar em como aquela relação poderia acabar cedo. Queria acreditar que o verão duraria para sempre e que ela nunca precisaria escolher entre ir ou ficar. Aquela escolha era basicamente impossível para uma garota de sua vida. Como poderia decidir algo tão grande quando sequer havia visto o mundo para ver o que a fazia feliz?

Ela só sabia que queria fazer Betty feliz. Mais feliz do que ela já havia sido com a sua família, com outros amigos, com outros parceiros. Considerava a vida uma tremenda aventura apenas quando a ruiva estava ao seu lado para tocar-lhe a mão, trançar o seu cabelo, beijar o seu rosto.

Estava mais apaixonada do que podia botar em palavras. A única maneira que conseguia dizer à menina que ela era o último pensamento em sua mente era estar ao lado dela todo o tempo. Acreditava que suas ações, seu toque, poderiam decifrar seus sentimentos para a menina.

Talvez pedindo para que ela fosse à sua casa, para que corresse seus dedos pelas costas dela enquanto ela tocava violão, assasse seu bolo favorito e sorrisse a cada palavra que deixava sair de seus lábios fosse o suficiente. Talvez o silêncio fosse o suficiente.

Betty lá foi e levou a sua guitarra. Também havia assado alguns biscoitos antes de chegar ali. Biscoitos de canela, como os primeiros que fizeram juntas. Sabia que a garota os apreciaria. Florence a abraçou como se ela fosse uma necessidade fisiológica e a menina ruiva sentiu o seu coração a derreter dentro de seu peito.

Ela também não sabia como explicar o que sentia pela menina da cidade. Todas as vezes que mencionava viver fora do país, para fugir e ser tão livre quanto gostaria, Betty sentia a sua alma sair do seu corpo. Sabia que Florence iria embora com o seu coração nas mãos. Abandonaria Betty sem nada, exceto por uma memória.

Mas ela não se importava. Imaginava que a menina valesse o coração partido. Ela valia cada possível coração partido que Betty pudesse ter. Porque o que elas tinham era real. Era a única coisa que lhe importava na vida. Nada poderia comparar, nada era tão importante.

Florence a conhecia e a entendia mais do que qualquer outra pessoa poderia fazê-lo. Ela sentia como se finalmente pudesse ser quem era verdadeiramente – mesmo que ainda estivesse descobrindo quem essa pessoa seria.

Quando os braços da garota a rodeavam, era como voltar para casa.

Por um minuto, pensou que choraria. Mas estava feliz demais para deixar lágrimas obstruírem o seu rosto e o da garota.

Decidiram se sentar no meio do campo de lavanda. Ali, ninguém as perturbaria. Na casa, havia pessoas demais, incluindo a avó de Florence, e a menina não se sentia tão confortável amando Betty em público. Não queria que nenhum estranho julgasse o que elas tinham ou dissesse que ela estava cometendo um erro: ela só queria amá-la. Sem complicações. Sem perguntas.

No meio das flores roxas, Betty lhe tocou músicas de amor e Florence bordou as duas em um pedaço de tecido verde.

O sol se pôs, fazendo com que os céus ficassem violeta e laranja. Elas deitaram na grama e seguraram a mão uma da outra. Elas estavam experienciando um milagre.

um segredo de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora