os acordes do violino

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Mas o artista de rua começou a tocar mais batidas em sua melodia até que as duas meninas começaram a pular, de modo que nenhuma tristeza era permitida.

As lágrimas de Florence pararam de cair pelos seus olhos e Betty manteve seus olhos fechados, para sentir aquela tremenda harmonia. Todas as vezes em que foi para aquela cidade - pequena mas ainda carregando tantas possibilidades - ela percebeu que sua perspectiva havia estado errada por todo aquele tempo: aquela cidade tinha mais vida do que qualquer coisa que já vira antes.

Seus pés se moviam como se tivessem suas próprias asas. A garota estava em transe. Desde que andaram de bicicleta até a estação de trem, sentia que podia alcançar qualquer coisa. E aquele dia somente provava a verdade de seu sentimento.

As duas meninas entrelaçaram seus braços e continuaram a pular em círculos. As pessoas à sua volta as encaravam com sorrisos nos rostos. Havia algo de estranho acontecendo em seus corações naquele momento. Os fazendeiros e os compradores também queriam dançar com a harmonia do violinista.

O artista já tinha ido ali por variados fins de semana, mas, naquele meio, nunca foi notado. Sua música era bela, claro, mas teria se dispersado em qualquer outro dia com o som dos gritos sobre os preços e as frutas. Ele não tinha apenas aquele emprego para sobreviver – o que era bom para ele, uma vez que todos à sua volta tinham demais em suas cabeças para prestar atenção em seu trabalho.

Naquele dia, no entanto, o sol brilhava nele. Havia apenas algumas nuvens formando em volta do sol, o que não apresentava problema para as pessoas que ali estavam. Não havia nada que pudesse pará-lo de tocar aquelas incríveis notas musicais que intoxicava a todos, graças a atenção que aquelas duas meninas, estranhas para a cidade.

Os seus movimentos fizeram com que crianças se envolvessem para dançar junto. Seus parentes foram forçados a seguir e acabaram aproveitando a dança mais do que os pequenos. Os fazendeiros abandonaram suas barracas para assistir aquele pequeno e improvisado festival. Os casais mais velhos dançavam como se fosse seus primeiros encontros. Havia felicidade no coração de todos.

Florence parou de pular por um segundo para olhar a todos que estavam à sua volta. As roupas das crianças seguiam os seus corpos e seus movimentos animados, dançando junto. Os pais pulavam próximo de seus bebês, sentindo-se prontos para voar, como se fossem crianças novamente e tudo era possível. Os fazendeiros mexiam suas cabeças lentamente. Os idosos se beijavam e seguravam as mãos uns dos outros como se aquelas mãos fossem as únicas coisas que os seguravam em vida.

E, na sua frente, Betty.

A menina ruiva tinha o seu cabelo no ar enquanto pulava com as crianças, segurando as suas pequenas mãos. Seus olhos estavam fechados e ela sentia cada acorde do violino correndo pelas suas veias, acompanhando as batidas de seu coração. Havia poder saindo de seus dedos, havia amor.

Florence não podia parar de olhar para a menina que amava. Ela estava mais bela do que o normal, com aquela energia saltando de seu ser.

- Pode nos dar licença? Eu também quero dançar com a senhorita. – Ela perguntou à criança que dançava com Betty naquele momento. O pequenino abandonou a mão da menina rapidamente e correu para a sua mãe, que estava pronta para carregá-lo no colo.

- Oi. – Betty sorriu para Florence.

- Oi, menina bonita.

- Você que é bonita.

- Por favor. Você devia se ver pelos meus olhos. Não há ninguém que se compara a você.

A garota da cidade tinha as suas mãos na cintura de sua namorada, que colocou a sua cabeça no ombro da outra. De repente, lágrimas se formaram em seus olhos. Ela nunca havia sentido tanta alegria, o que a sobrecarregou de emoções. Ela desejou o poder de parar o tempo naquele instante, onde o seu corpo encaixava perfeitamente no corpo da outra.

- Eu te amo. – Betty sussurrou.

- O que? – Florence perguntou.

- Eu te amo, Florence. – ela falou mais alto.

A multidão escutou aquelas três palavras e pararam de se mover para assistir a resposta da outra menina.

O coração de Florence pareceu se afogar. Ela nunca soube exatamente como dizer aquelas palavras e, agora, as estava ouvindo. E elas pareceram extremamente naturais para ela, mas não eram o suficiente para descrever o que sentia por Betty.

O que ela sentia era maior, mais forte do que simplesmente amor. Amor parecia tão insignificante após escutar tantas pessoas em sua vida, seus pais e seus amigos, e pessoas nos filmes, professá-lo. O que ela sentia era mais único.

Parecia poder e liberdade, estar com ela. Parecia destino. Parecia que o universo havia trabalhado duro para colocá-las juntas e mantê-las daquela forma.

Ela tinha lágrimas em seus olhos. Havia uma tempestade em seu peito com todos aqueles pensamentos sobre ir embora e abandonar a garota, aquele amor. Mas, escutando aquelas palavras, nada realmente importava além delas duas. Era como se a tempestade houvesse se dissipado.

E, apesar de não acreditar na suficiência daquelas palavras, disse-as de volta.

- Eu também te amo, Betty.

Suas testas se tocaram e elas balançaram conforme a música, com suas mãos no corpo uma da outra. As pessoas à sua volta começaram a aplaudir junto à música.

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⏰ Última atualização: Jan 09, 2022 ⏰

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