coração em chamas

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Florence foi para o chalé de Betty assim que o sol apareceu. Ela sabia que seus pais estariam ali, mas precisava ver a garota desesperadamente. As palavras de sua avó lhe estavam assombrando como fantasmas.

Ela tinha apenas dezoito anos mas tinha tanto medo do que a vida lhe guardava. Era agora uma jovem adulta e precisava fazer uma terrível escolha.

Sempre havia sonhado em deixar o país, para ver lugares desconhecidos. Sabia que sua miséria vinha de sua família e ir tão longe a livraria de qualquer trauma ou tristeza que carregava em seu coração. Simplesmente sabia. O mundo pertencia a ela, estava ali para que o dominasse. Então ela só precisava fazê-lo. Dar o primeiro passo, entrar no avião para estudar no estrangeiro e viver sua vida lentamente, para aproveitar o máximo que pudesse.

Mas ela se sentiria sozinha. Estava sempre sozinha. Havia passado pelos maiores momentos de sua vida sem ter ninguém para conversar, exceto por algumas garotas da escola que ela fingia gostar. Não havia ninguém que realmente a entendesse naquela época.

E ela aceitava aquela situação. Pelo menos, pensava que sim.

Aprendeu a aproveitar sua própria companhia. Costumava levar-se ao cinema e comprar um balde de pipoca para si mesma sempre que podia. Ficava horas na biblioteca pública, lendo múltiplos livros. Tocava o piano apaixonadamente, nada no mundo importava mais do que os seus momentos. Era só ela e seu pesado coração.

Não tinha expectativas de companhia para o futuro. Assumira que encheria sua futura casa de plantas e animais, o que seria vida e luz o suficiente para ela.

Assistir a sua mãe lidar com o seu pai todos os dias realmente a distanciou de relacionamentos. Apesar de seu pai amá-la, era um homem orgulhoso. E ela não conseguia se imaginar cuidando dos desejos e temperamento de um homem. Não de um homem orgulhoso, pelo menos.

Ela nasceu para ser livre e solta na natureza e ela não podia ter ninguém a segurando. Sua própria mente era obstáculo o suficiente.

Mas, agora, ela não conseguia se imaginar indo embora sem Betty. Estar naquele avião sem ela seria um pecado – um que a faria queimar.

O que ela devia fazer? Não seguir os seus sonhos e viver ali na fazenda e envelhecer com a menina? E se ela se arrependesse no futuro?

Apenas uma coisa era certa. Ela, seguramente, se arrependeria de deixá-la no passado.

Florence não queria o mesmo destino de sua avó. Não queria deixar o amor de sua vida para trás para que ela pudesse ser feliz sozinha; até porque a felicidade não seria verdadeira, visto que não seria compartilhada com a única pessoa que ela amava.

Então ela sentia a necessidade de discutir tudo aquilo com Betty. A garota ruiva saberia o que fazer, ou pelo menos deixaria que seu coração respirasse um pouco. Ela precisava de ajuda para fazer a escolha mais importante de sua vida. E, como envolvia outra pessoa também, era importante que essa pessoa fosse parte da discussão.

Mas, apesar de Florence tacar pedras em sua janela, Betty não apareceu.

A menina da cidade ficou ali até que os céus viraram cinza. Enormes nuvens esconderam a cor azul e chuva aterrorizante começou a molhar os campos.

Florence correu para casa, com o seu coração em chamas.

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