as palavras de bárbara

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Os pais de Betty estavam lhe chamando para que voltasse para casa após o pôr do sol, então ela não poderia dormir na casa da garota como as duas haviam planejado anteriormente. Mesmo que estivesse levemente desapontada, Florence não gastaria o seu tempo reclamando da perda de uma noite com o seu amor; pelo contrário, levou-a para casa, segurando sua mão.

Betty estava prestes a abrir a porta de casa quando Florence a segurou pela cintura. Ela não sabia exatamente o que estava fazendo, mas seu corpo não podia deixar a garota assim tão facilmente.

Então Florence lhe deu um beijo no pescoço. Betty sentiu seus cabelos arrepiando no topo de sua cabeça. Relâmpagos desceram pela sua coluna.

- Posso te ver amanhã? – a menina da cidade perguntou.

Betty assentiu. Sua voz havia sido roubada com aquele beijo no pescoço. Ela não tinha mais nada a lhe oferecer, além de um amor imortal.

Após o aceno, Florence correu para casa. O sol já havia se posto e as estrelas brilhavam no céu. Na cidade, nunca era tão bonito. Aqueles pontos brilhantes no céu a faziam cada vez mais feliz; eram como sinais do Universo de que ela havia conhecido a verdadeira felicidade.

O vento soprava nos seus cabelos e vestido e ela nunca havia se sentido tão bem em sua própria pele. Sentiu que podia correr através do bosque e se perder ali dentro, a cada segundo mais viva.

Mas ela sabia que as belas estrelas acima de sua cabeça não eram as responsáveis por aquela sensação de liberdade. Ela sabia que era Betty.

Betty e seu enorme cabelo cacheado. Seus olhos cor de mel. As sardas em seu rosto. O ponto vermelho em seu nariz. Seus lábios rosas. Seu toque caloroso.

Amá-la lhe dava liberdade.

Quando estava com Betty, podia ser qualquer pessoa que quisesse. Podia ser si própria. Não precisava fingir que acreditava em qualquer outra coisa além da maravilha do mundo.

Antes da menina, ela costumava assumir que o mundo era cruel e não havia lugar para pessoas cujos corações eram grandes demais. Mas ali, no meio do campo, com os céus as abençoando com aquela luz, ela via as coisas diferentemente: sim, havia crueldade no mundo – mas a bondade brilhava acima. Podia haver luz em qualquer lugar, contanto que a deixássemos entrar.

Florence estava brilhando.

Ela foi para o seu quarto e deitou na sua cama. Alguns minutos se passaram até que a menina começou a se sentir sobrecarregada. Como poderia alguém amar outra pessoa tanto? E a garota sequer sabia! Florence não tinha coragem para dizer as palavras que os poetas dizem quando estão apaixonados. Ou talvez ela acreditava que somente palavras não eram o suficiente. "Eu te amo" não era o suficiente.

Como que ela poderia explicar para Betty que tudo o que ela desejava era um futuro ao seu lado, em qualquer lugar do mundo? Elas podiam escapar para a floresta ou pegar um barco até o continente mais próximo. Florence tinha certeza que ela seria feliz, contanto que a ruiva estivesse junto. Não havia razão para um futuro que ela não estivesse ali. Não havia razão para uma vida sem aquele tipo de amor.

Florence sempre assumiu que nunca sentiria algo daquele tipo. Ela nunca se sentiu pertencida a qualquer lugar. Acreditava que passaria a vida inteira pulando de conexões insignificantes para outras até a sua velhice.

E ela, certamente, não acreditava no amor do jeito que acreditava em Betty.

Mas não era a sua culpa. A menina não era cínica por natureza.

As mulheres de sua família não tinham tanta sorte no amor como ela tivera em suas juventudes e acabaram crendo que paixões transitórias eram amor verdadeiro.

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