Choveu o dia inteiro após o café da manhã. Foi como se as nuvens soubessem exatamente como o coração de Florence estava de sentindo e decidissem agir. Ela não foi ao chalé de Betty para vê-la. A menina queria um dia para si própria, para tocar piano, talvez escrever cartas para a sua mãe e pensar na sua vida. Ela sabia que apenas vinte e quatro horas não fariam tanta diferença, mas desejava o máximo de tempo que pudesse ter.
Assim que tomou o seu café da manhã, ajudou a sua avó a molhar o jardim e foi ao segundo andar da casa para limpá-lo. Colocou suas roupas mais velhas para esfregar o chão enquanto cantava o mais alto que pudesse. Todos na casa podiam escutá-la, mas não se importavam; estava todos fazendo trabalhos manuais e a sua voz iluminava o lugar.
Ela jogou água e sabonete na madeira e esperou que a mistura fosse absorvida pelo material. Ela organizou as suas estantes de livros, lavou as suas roupas e reorganizou suas malas. Aí, quando percebeu que já havia feito coisas demais, tomou um longo banho e hidratou a sua pele com o seu creme favorito.
Quando desceu as escadas, com o seu cabelo preso em um coque e um pouco de maquiagem em seu rosto, um vestido branco de verão e seus sapatos favoritos, sua avó e seus empregados a olharam, completamente espantados. Todos sabiam que Florence era uma bela garota, mas ela estava radiante.
Ela não se sentia tão bem como gostaria, no entanto. Ainda tinha dúvidas em seu peito e não podia conversar sobre elas com ninguém. Sua avó já havia dito tudo que podia dizer e a menina não tinha outras amizades além de Betty, e não queria vê-la.
Então a garota sentou em frente ao piano e tocou as teclas delicadamente, esperando que algo bom saísse de seus dedos – algo tão bom que aliviaria sua preocupação. Mas a música não a ajudava como ela esperava – eram apenas notas aleatórias. Entretanto, ela não parou. Decidiu tocar seu repertório e apenas se deixar ir. Ela precisava desabafar e não tinha as palavras, mas tinha o piano e nenhum lugar para ir.
A fazenda, então, encheu-se de música melódica e triste. Barbara sentiu um desejo de mover o seu corpo enquanto fazia as suas contas, colhia as frutas e ensinava as pessoas que trabalhavam para ela. Alguns dos empregados começaram a cantar juntamente à música de Florence, criando palavras arbitrárias e jogando-as no ar. A garota, de repente, começou a tocar um som mais animado. Ela sabia que as pessoas à sua volta gostariam disso.
Ela também começou a cantar junto às suas palavras arbitrárias e criar as suas próprias letras. Todos estavam dançando sobre o chão de madeira daquela grande casa branca.
Apesar da ansiedade não ter abandonado o seu peito, a vida era bonita novamente. Ela somente queria que Betty estivesse ali, permitindo que a sua voz entrasse naquele coro imprevisto. Sua namorada tinha a voz mais encantadora, que podia alcançar notas que ela não conseguia.
Naquele momento, com as suas mãos ainda nas teclas do piano, Florence pôde ver o futuro. Betty estava ao seu lado, segurando as compras da semana, e falava sobre como elas podiam remodelar a sua casa. Elas viviam em uma cidade pequena o suficiente para ter paz e grande o suficiente para ter diversos tipos de entretenimento. Elas tinham um gato, branco. E ele amava destruir as plantas da varanda, que Betty cuidava tão bem. E, durante a noite, os três deitavam no sofá e assistiam a um filme.
Era uma vida simples. Era a vida perfeita.
Florence começou a chorar com as imagens correndo pelos seus olhos. Ela podia vê-lo perfeitamente, o seu destino. Ela fora destinada a amar Betty pelo tempo que tivesse na terra, porque aquele era o tipo de amor escrito por anjos. E elas seriam tremendamente felizes, mesmo passando por dificuldades, porque estariam juntas.
A garota tocou as notas do instrumento em uma melodia esperançosa. Sua avó estava ao seu lado, com algumas garotas que trabalhavam na casa. Quando as lágrimas abandonaram os olhos de Florence, Barbara também começou a chorar. Era como se pudesse sentir o que acontecia, e a sua neta sorriu para ela com lágrimas em seu rosto.
Ela nunca havia sido mais feliz, sabia disso. Não gostava da sua vida na cidade. Estava sempre em fuga. Mas, subitamente, não havia mais necessidade de fugir. Estava tudo certo. O que viesse depois daquele momento, aguentaria contente. Seria feliz, não importava como – estava segura disso. Sentia em seus ossos, em seu instinto.
As coisas tendem a resolver-se. E a felicidade sempre encontra um caminho àqueles que a esperam ou procuram por ela.
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um segredo de verão
RomanceUma garota da cidade visita a fazenda da sua avó e ali fica durante o verão, antes de se mudar para outro país para seguir seus sonhos. Imediatamente, ela fica fascinada com a vizinha - uma menina ruiva e tímida chamada Betty, que, por sua vez, tamb...