o interlúdio de florence

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Florence tentou o seu melhor a entrar na casa sem que sua avó percebesse. Por mais que a senhora não fosse rígida com ela, a menina tinha medo de responder um monte de perguntas sobre onde ela estava e com quem ela estava. Queria que a tarde com Betty permanecesse um segredo, pelo menos pelo momento.

Ela pensou que talvez aquela amizade fosse mais preciosa se o mundo não a descobrisse. Se elas pudessem tocar as suas mãos sem que ninguém comentasse. Se pudessem deitar no meio da floresta e fantasiar um mundo melhor sem que ninguém se intrometesse.

Ela foi ao banheiro mais próximo de seu quarto e tomou uma longa ducha. A água quente tocou a sua pele de modo violento, como ela gostava. Florence tinha sujeira em todo o seu corpo e, em alguns pontos, sua pele coçava.

A garota pôs uma camisola e seguiu, com passos leves, para o andar de baixo, com o objetivo de pegar algo para comer na cozinha. Apesar de ter comido muitas frutas e bolos com Betty durante o dia, seu estômago gritava por mais.

Os degraus de madeira rangiam. A casa inteira estava silenciosa. Ela se sentiu como um fantasma, amaldiçoando aquela fazenda.

Ela estava segura da sua própria solidão no andar de baixo devido à escuridão e ao silêncio. No entanto, Barbara estava acordada e a aguardava na mesa de jantar.

- Estive te esperando por bastante tempo, mocinha.

Florence assustou-se. Os únicos sons que ela havia ouvido na casa era o rangido da escada e sua própria respiração. Não esperava que a sua avó estivesse acordada e ali, apenas a aguardando.

- Me perdoe, vovó! Você já comeu?

- Não, não comi. Vamos lá.

Barbara aqueceu uma torta de carne e batata antes da neta chegar, então finalmente colocou o prato na mesa. Cortou um pedaço para si e outro para a neta. Comeram em silêncio.

Florence havia pensado que a avó estaria mais furiosa, mas a senhora parecia calma. Com toda honestidade, ela nunca havia levantado o tom de voz a ninguém. Tinha uma calma que era natural dela – a calma que apenas pessoas que encontraram a paz interior podem ter.

A velha mulher não sabia se podia fazer as perguntas que queria fazer, então permaneceu quieta.

Ela sabia que a garota estava saindo com a filha dos vizinhos; havia visto Florence correr para o chalé algumas vezes, olhando para dentro, procurando a adolescente ruiva. Até que um dia conseguiu entrar.

Ela também sabia que a neta havia tido um piquenique em algum lugar com a mesma garota.

Ela se via na filha de sua filha. O longo cabelo preto, os olhos verdes destemidos e os sonhos poderosos. Era como assistir o próprio passado se desenrolar na sua frente.

A sua neta estava certamente brilhando – o brilho que apenas o amor pode trazer a uma jovem moça.

Ela apenas esperava que Florence não cometesse os mesmos erros que ela havia cometido em sua juventude. 

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