Depois de dizer à sua mãe tudo o que podia sobre os seus sentimentos, ela lhe avisou que precisava ir – queria conversar com a sua namorada sobre o que aconteceu desde que acordou.
Mas, antes de ir, pegou uma cesta de piquenique e a encheu com a ajuda de sua mãe. Colocaram ali um bolo de laranja e uma garrafa de café, com duas belas xícaras. Logo depois, a menina correu para o seu quarto para apanhar o seu violão. Pensou em conversar com a garota no meio do bosque e serená-la mais uma vez.
Assim que ela abriu a porta para correr à casa ao lado, sua mãe lhe deu um longo beijo na bochecha.
Os lábios da mulher estavam úmidos das lágrimas que caíram neles enquanto ela e sua filha conversavam e o coração de Betty quebrava e se consertava ao mesmo tempo. Sempre havia assumido que seus pais nunca entenderiam seus sentimentos e, principalmente, seu novo relacionamento. Assumira que teria que esconder aquela parte de si mesma deles, como fazia com diversas outras partes. Naquele momento, no entanto, ela sentiu suas paredes quebrarem para dar espaço a um belo jardim que poderia cuidar junto de sua família. De repente, tudo em sua vida parecia caminhar na direção certa.
Ela tinha amor ao seu redor. Uma única lágrima caiu de seus olhos ao rosto da mãe. Com o olhar, ela agradeceu a mulher que lhe havia dado a vida. Sentiu-se abençoada por poder andar na terra.
Ela correu até a grande casa branca, onde as flores mais lindas pareciam crescer em torno. Barbara estava na varanda, assistindo o movimento celeste, falando consigo mesma. Usava sua camiseta branca de sempre, calças largas e botas cheias de lama. Se Betty a tivesse conhecido quando mais jovem, entenderia que aquela mulher não havia mudado em nada: era ainda a filha de cabelos selvagens do maior homem da cidade, desejando viver a sua vida em todo o seu potencial. Entretanto, agora estava crescida e tinha a sua própria história: era a maior pessoa da cidade e era uma fazendeira melhor do que o seu pai ou seus irmãos foram; tinha um coração partido desde os dezoito anos e o carregava com orgulho, como se fosse uma arma escondida.
- Bom dia, Betty. – A fazendeira falou – Está aqui para ver a minha neta? Claro que está, que pergunta estúpida.
- Bom dia, senhora Barbara. – A garota ruiva respondeu, sentindo que eram amigas de tempos perdidos – Sim, está certa. A não ser que você também queira conversar.
- Bom, já que disseste... sente-se, por favor. – A mulher pegou uma almofada próxima de si e a pôs na cadeira mais próxima – Como você está, florzinha?
- Estou ótima, senhora Barbara. Esperando que a sua neta queira ir ao bosque comigo; preparei um pequeno piquenique, como pode ver.
- E vejo que também trouxe o seu violão! Você toca?
- Sim, toco, mas não acho que toco tão bem. – Betty olhou para a mulher ao seu lado, surpresa pela semelhança que dividia com Florence. Elas tinham os mesmos olhos e o sorriso ambicioso. Mas o cabelo... o cabelo de Barbara era cacheado e selvagem, assim como o dela.
Como a senhora não respondeu, a menina não sabia o que dizer. A fazendeira estava focada nos ventos que faziam suas flores dançar. Prestava atenção na música que as folhas faziam ao balançar. Estava longe demais para dizer qualquer outra coisa.
- Gostaria que eu tocasse um pouco para si, senhora Barbara?
- Você não precisa me chamar de "senhora Barbara" sempre que se dirige a mim. Sou apenas uma garota, como você. Um pouco mais velha, é claro. – Ela suspirou – E sim, gostaria disso.
Betty tirou o violão da capa e deitou o instrumento em seu colo. Não sabia o que tocar para aquela dama rica, então decidiu seguir os sons da natureza. Seus dedos eram longos e rápidos e ela acabou criando uma bela melodia para aquele dia de verão.
- É bonito demais, não é? – A mulher perguntou, olhando para o horizonte.
- É mesmo.
Barbara tinha lágrimas em seus olhos mas as escondeu da menina. A música que a jovem lhe tocava a lembrou do passado, tudo o que ela tinha feito de certo e errado. Ser velha lhe pesava. Gostaria de poder voltar ao tempo e tentar diferentes opções, diferentes linhas do tempo.
Gostaria de ser jovem e apaixonada novamente.
- Suba as escadas, querida. Florence gostaria de te ver.
Lentamente, Betty pôs a guitarra de volta na capa e agradeceu a proprietária da casa pela sua hospitalidade. Levou sua cesta e seu instrumento para o andar de cima para ver o seu amor. Barbara podia ouvir seus movimentos pela casa e sabia que sua neta ficaria feliz em vê-la também.
- Ah, ser jovem e apaixonada. – Ela falou para si mesma enquanto tomava um gole de seu chá.
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um segredo de verão
RomanceUma garota da cidade visita a fazenda da sua avó e ali fica durante o verão, antes de se mudar para outro país para seguir seus sonhos. Imediatamente, ela fica fascinada com a vizinha - uma menina ruiva e tímida chamada Betty, que, por sua vez, tamb...