uma visita muito esperada

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Betty viu a garota da porta ao lado a procurando do lado de fora da sua casa. Ela queria ir ali encontra-la, abraça-la como se as duas se conhecessem desde o nascimento, mas ela não o fez. Ela estava confortável, do lado de dentro. Ela era desastrada demais para ser vista por aquela garota que aparentava um pássaro místico.

Alguns dias se passaram e ela se sentia cada vez mais triste. Seus pais não entendiam quando ela simplesmente se trancava no quarto e chorava toda a água de seu corpo pela dor que ela sentia em seu peito; ela nunca viveu grandes histórias, então como ela poderia estar tão machucada?

A verdade era que seu coração doía na espera de ser visto e compreendido. Ela sentia demais e não conseguia expressar os seus sentimentos para ninguém. As pessoas mais próximas a ela eram um pouco mais duronas do que ela era. Sua mãe costumava reclamar quando a menina sentia pena das galinhas que seriam levadas de lá. Eles precisavam de dinheiro, a mulher costumava dizer, mas Betty ainda assim chorava. Ela tinha uma conexão com tudo que tinha vida e ver os animais sofrendo a fazia sofrer também.

Ela tinha certeza que aquilo era muito estranho da parte dela. Quem sofria tanto pelas árvores, pelas flores e pelos pássaros cantando liberdade além dela?

Ela passava seus dias assistindo a vizinha a sair da grande casa branca. Ela tinha diversos vestidos, em diversas cores, e parecia que tudo lhe caía bem. Betty sequer sabia seu nome, mas sabia que a amaria se tivesse a chance – como ela amava o mundo inteiro à sua volta. Apaixonadamente e intensamente.

Betty se imaginava escovando os seus cabelos, escutando-a cantar enquanto ela tocava o violão, assando-lhe biscoitos e sussurrando segredos em seu ouvido. Em sua imaginação, aquela garota era o seu mundo.

Em uma tarde qualquer, ela estava acariciando o seu gato, Oliver, e bebendo uma xícara de café enquanto apreciava a vista pela janela. Estava chovendo e ventando muito; as árvores balançavam e nenhum pássaro cantava. Mas o som do vento batendo naquela casinha velha era agradável.

Betty amava dias chuvosos. Era como se a natureza estivesse concordando com a sua melancolia.

Ela colocava algumas músicas antigas para tocar no velho rádio da família e Oliver a assistia enquanto a garota fazia movimentos tímidos com o seu corpo. Ela estava sozinha em casa e não havia ninguém para assistir a sua valsa de uma pessoa só. Ela estava verdadeiramente feliz.

De repente, ela escutou uma batida na porta. Não podia ser! Seus pais tinham a chave, portanto não bateriam na porta... e não havia marcações para negócios futuros. Provavelmente fora um trovão que a assustou.

Mas aí aconteceu novamente. Duas batidas fortes na porta. Dessa vez, o gato saltou de susto. Era alguém desesperado para se esconder da tempestade. Betty se levantou para abrir a porta o mais rápido possível.

De primeira, não reconheceu a pessoa. Assumiu que era uma garota devido às botas que a pessoa usava; eram pequenas demais para serem pés de um homem, mas ela não queria julgar errado. A pessoa usava um casaco de chuva enorme e era impossível ver o seu rosto. Mas ela tinha cabelos longos. Tudo estava molhado e embaçado na visão de Betty.

Subitamente, a pessoa tirou o seu capuz e seu rosto ficou visível. Era a garota da casa ao lado em toda a sua glória.

Apesar de ter o seu rosto molhado pela chuva e parecer assustada, seus belos olhos falavam por si próprios. Betty podia ver que ela era determinada e forte antes que ela pudesse falar qualquer coisa.

A garota em quem ela tinha pensado por semanas estava finalmente na sua frente. Tão perto mas tão longe de ser alcançada. Betty pensou que não era digna o suficiente daquela proximidade. Ainda assim, a garota deu um passo para frente, entrando na casa sem um convite, e tirou o seu casaco.

- Olá. – ela falou, com um sorriso belo e encantador. Sua voz soava ainda mais perfeita do que Betty podia imaginar – Desculpe por entrar assim, mas você não me deu muitas opções.

Betty a olhava como se fosse uma miragem.

- Eu sou a Florence, a propósito. E você é a Betty, não é? – ela apresentou a sua mão para que pudessem se cumprimentar direito – Estou muito feliz por finalmente te conhecer.

Apesar de não ter dito, Betty também estava muito feliz por finalmente conhecê-la.

um segredo de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora