melancolia

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Florence bateu na porta de Betty no dia seguinte. Ela não sabia o que dizer, ela nunca planejava nada em antecedência. Ela viu um gato laranja a escalar a janela. Ele chiou assim que viu a estranha. A garota não sabia o que esperar, ela só queria ver a vizinha.

Aquela bela menina ruiva que cantava lindamente quando pensava que ninguém a assistia.

O sol brilhava naquele dia. Os girassóis no jardim brilhavam e a luz do dia teria queimado a cabeça da garota se não houvesse uma grande árvore atrás dela. Olhando à sua volta, ela pôde admirar a floresta de eucaliptos a alguns quilômetros de distância, nas montanhas. Ela sonhou em correr no meio daquelas árvores com a menina ruiva e em brincar de pique-esconde por horas, assustando os parentes das duas.

Às vezes, ela se imaginava voando, deixando tudo para trás. Toda a dor e o sofrimento e o caos. Mas, no fim do dia, ela desistia da ideia. Ela não era tão corajosa como um animal selvagem, não importava o quanto gostaria que fosse.

Florence permaneceu ali por alguns minutos até perceber que ninguém lhe abriria a porta. Ela não havia visto ninguém sair de casa aquela manhã então não podia acreditar que não conheceria a sua vizinha e futura amiga.

Seu coração quebrou em apenas alguns segundos. Seu peito estava pesado. Ela sentiu como se fosse amaldiçoada. Talvez fosse por isso que ela não era sortuda. Talvez ela tinha inventado o futuro de aventuras com aquela garota; talvez a garota nem a quisesse conhecer.

Mas e a carta que ela recebeu? Ela não a imaginou, ela tinha o papel para provar!

Recuperando a fé em si mesma e na estranha, ela deu uma volta pela casa para ver se alguém lá de dentro lhe acenaria ou se apresentasse. No entanto, a única resposta que recebeu foi do gato, que voltava para dentro através da janela.

Depois de alguns minutos, ela foi chamada por um dos empregados da fazenda, portanto teve que correr de volta para de onde saiu. O vento estava contra ela, de modo que ela se sentiu poderosa a correr contra a sua força. Ela se sentiu como uma força da natureza.

Os seus cabelos e seu vestido estavam voando alto. Enquanto corria, ela abriu seus braços. Se ela fechasse os olhos, poderia ver a si própria no céu. Mas, no fim, ela era apenas uma humana e o único lugar ao qual chegara foi a porta.

Ela tirou suas botas marrons antes de entrar na casa. O almoço estava servido e a sua avó gostaria de comer com ela. Ela estava tentando ter uma conversa com a jovem, mas Florence estava desfocada demais. Estava olhando pela janela, onde a grama era verde, o céu não tinha nuvens e o homem da outra casa estava molhando suas plantas.

- Florence, estou falando com você.

- Ah? Oh, me desculpe, vovó.

- O que está acontecendo? Por que está olhando para o vizinho?

- Por nada.

- Você não me engana, garotinha.

A jovem riu. Havia uma razão pela qual a sua avó, Bárbara, era a maior empreendedora da região. Ela era a mulher mais inteligente que havia conhecido. Além disso, a senhora sempre disse que se reconhecia na neta, então talvez Florence fosse fácil de ler para ela.

- Bom, há uma garota naquela casa. E eu gostaria de ser amiga dela. Eu te amo muito, vovó, mas ficar aqui por alguns meses sem ninguém da minha idade pode me entediar facilmente.

- Ah, é a Betty! É uma garota muito gentil, um bocado tímida. Talvez você tenha que ser paciente.

- Eu posso esperar.

Ela não sabia o nome da garota até aquele momento e, portanto, salvou-o em seu coração. Betty. Era um nome tão bom para a garota que assistia há alguns dias. Encaixava nela, que tinha olhos redondos e sardas em seu rosto.

Apesar de que ela queria provar a si mesma que era uma pessoa paciente, ela sabia que seu coração doía por vontade de conhecer a garota da porta ao lado.

Ela mentiu à avó sobre precisar de amigos da sua idade; ela, de fato, não poderia se importar menos. Estava acostumada a ter apenas amigos mais velhos, especialmente porque se sentia tão incompreendida pelos seus colegas. Mas Betty... havia algo de diferente nela.

Talvez fosse a aparência livre e selvagem. Ou a voz gentil.

Ela não podia entender porque a garota escreveria um bilhete para ela se não queria ser vista. Florence amava ser vista. Ela sabia que era bonita. Seus cabelos longos e pretos e seus pequenos olhos verdes eram surpreendentes.

Será que Betty sabia que também era surpreendente? Ela teve um pressentimento que a vizinha não sabia o quão encantadora era, e era a missão de Florence fazê-la perceber.

Depois do almoço, ajudou a lavar os pratos e foi à sala. Não estava conseguindo se concentrar e não sabia se deveria escrever outro bilhete para a garota. Palavras escritas não eram o suficiente para o que queria expressar, para o que tinha em seu coração.

Então sentou-se em frente ao piano e permitiu com que as suas mãos corressem pelas teclas. Sua avó e uma das senhoras que trabalhavam para ela sentaram-se perto e escutaram-na fazer mágica musical enquanto lágrimas caíam de seus olhos.

um segredo de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora