é contigo

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A semana seguinte foi uma bênção. Florence escreveu uma carta para a sua nova amiga, para que ela viesse a qualquer momento que quisesse à casa grande. Então Betty foi ali no dia seguinte, quando seus pais foram para a cidade vender alguns de seus produtos.

Betty queria ficar bonita para a visita. Queria usar um belo vestido flutuante para impressionar a vizinha. No entanto, o único que tinha era um extremamente velho, oriundo da juventude da sua mãe, e a cor não fazia nada para o seu tom de pele.

Estava prestes a chorar. Florence provavelmente pareceria um anjo, como sempre parecia, e ela seria a garota mais entediante do mundo inteiro. Ela não podia entender o porquê de aquela garota sequer gostar dela. Provavelmente só estava sendo amigável porque sentia pena de Betty, a menina tímida do chalé ao lado que só conversava com o seu gato.

Ela sentou na cama e chorou os seus sofrimentos para longe.

Enquanto isso, Florence estava desesperada. A casa estava uma bagunça naquele dia. Havia pessoas demais a andar e gritar pela casa, para que terminassem de assar o que estavam assando, enquanto ela só queria usar a cozinha para preparar alguns petiscos para a sua amiga, que chegaria a qualquer minuto.

Suas mãos estavam tremendo. Quando passou em frente a um espelho, percebeu que estava pálida. Por que ela estava tão nervosa? Ela estava tão orgulhosa de si mesma no dia anterior, quando foi com toda a sua força bater na porta de madeira da casa vizinha para finalmente conversar com Betty.

Florence nunca foi uma menina paciente então ela sabia que estava certa em fazê-lo. Sabia que a vizinha queria ser sua amiga, então por que ela não ia para a fazenda? A garota da cidade decidiu que iria ali simplesmente por despeito, apesar de ter sido deixada do lado de fora na primeira vez que o fizera. Ela sabia que Betty só precisava de um empurrão, e ela se contentava em ser a pessoa que o faria.

Mas agora Florence sabia que não dependia mais dela. A vizinha ruiva também deveria querer ir ali e ser sua amiga. Ela simplesmente não podia voltar a sua casa, seria indelicado demais. A bola estava na quadra de Betty.

Florence rezou para que ela pegasse a bola metafórica, mesmo que ela não soubesse se havia algum ser místico nos céus para escutá-la. Rezou e rezou depois de mandar a carta, rogando para que a garota fosse à sua casa.

Ela a esperava antes do almoço, para que a vizinha pudesse comer todas as comidas que gostaria e não ficar sozinha pela maior parte do dia. Mas ela nunca chegou e Florence saiu da mesa para chorar no banheiro após comer a sua refeição.

O dia inteiro passou e Florence não obteve sequer algum sinal da garota. Preocupou-se. Teria ela feito algo ofensivo à ruiva? Teria ela feito algo inegavelmente mau? Ela começou a suar.

Ela foi para a cama, sentindo-se extremamente frustrada. Ela só queria adormecer o mais rápido possível para que pudesse deixar aquele péssimo dia no passado.

Mas, quando fechou seus olhos, apenas pensamentos negativos chegaram à sua mente.

Lágrimas começaram a cair pelo seu rosto. Ali, ela sabia que não conseguiria dormir. Estava demasiado triste para abençoar a si mesma com sonhos.

Havia também um som assustador vindo do lado de fora da casa. Apesar de não ser uma noite ventosa, a árvore em frente a sua janela estava balançando e suas folhas tremiam.

Corajosa como era, não se escondeu abaixo dos cobertores. Ela pulou da cama e abriu as cortinas e a janela. Havia um grande animal selvagem escalando a árvore e ela se sentiu completamente indefesa. Ela não conseguia fechar a janela novamente porque estava curiosa para ver o que ela, mas ainda assim não sabia se o bicho a atacaria.

Estava incrivelmente escuro. A lua não se mostrara aquela noite. Ela não podia ver o que estava à sua frente.

No entanto, de repente, uma voz gentil chamou o seu nome.

- Florence? Pode me ouvir?

Ela se alegrou. Aquela voz acalmou todos os seus nervos.

- Sim, Betty. Posso te ouvir.

- Desculpa por não ter vindo hoje. Eu estava muito ansiosa.

- Por que?

- Eu não me senti bonita o suficiente para vir e te ver.

- Essa é a coisa mais boba que eu já ouvi em toda a minha vida.

Ela ouviu Betty fungar.

- É só que... você é tão bonita. Eu queria apresentar o meu melhor mas eu não tenho tantas roupas assim.

- Eu acho que você sempre está fantástica.

Seus olhos se encontraram no escuro e Florence viu que sua amiga estava chorando. Ela começou a chorar junto. Eram lágrimas felizes. Não havia razão para o choro, mas as duas não conseguiam pará-las. Foi um belo momento que dividiram.

- Você quer entrar? Você deve estar com frio.

- Posso?

- Por favor, entre.

Betty moveu o seu corpo pela árvore até um ponto confortável, de onde pulou para a varanda. Florence estava impressionada. Ela não tinha tal habilidade de ser completamente livre, forte e selvagem.

Quando a jovem ruiva adquiriu equilíbrio e olhou para cima, Florence a abraçou. Era a primeira vez que seus corpos estavam interligados e ambas sentiram-se em casa. Enquanto seus corações se conectavam em um fecho, Betty sentiu o cheiro do cabelo de Florence e notou um pouco de baunilha no perfume. Ela estava no paraíso.

- Você está bem? – Florence perguntou.

- Estou ótima.

- Posso te fazer uma pergunta?

- Claro. – O nariz de Betty estava extremamente vermelho e Florence gostaria de aquecê-lo com um beijo.

- Por que você não se acha fantástica?

A jovem engasgou na própria saliva. Ela nunca havia pensado na possibilidade de ser fantástica. Aquele sentimento era reservado para garotas bonitas, as garotas descoladas, as delicadas e angélicas.

- Eu sou apenas normal. Não quero mentir para mim mesma. Sei que sou apenas uma fazendeira básica, com mãos ásperas e nada para falar.

- Tenho certeza de que você tem histórias incríveis sobre o seu passado.

- Não há nada para contar, mesmo! Nasci aqui, provavelmente morrerei aqui.

- Crescer aqui deve ter sido muito pacífico... - Florence suspirou. Ela gostaria de ter tanto conforto assim na cidade, onde cresceu em uma casa decente porém com os seus pais sempre aos gritos.

Ela sempre havia sido a maior vítima de tais brigas, já que ambos os adultos colocariam toda a sua raiva sobre os seus ombros infantis quando, na verdade, estavam com raiva apenas um do outro. Cresceu cheia de ressentimentos. Gostaria de ter ouvido somente os pássaros.

- Mas se você não quer permanecer e morrer aqui, como disse, só depende de você, não? – ela saiu de seu devaneio para voltar ao diálogo com a vizinha - Você decide como quer viver a sua vida.

Betty olhou para a parede da frente antes de olhar para a garota. Ela nunca havia pensado sobre sair dali.

um segredo de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora