possibilidades

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Dois dias mais tarde, Florence bateu na porta de Betty. Ela queria ter ido ali no dia anterior mas tinha medo da avó não aprovar. Sentia que a senhora a observava de longe e era como os seus olhos pudessem queimar suas costas. A garota, portanto, ficou preocupada, pensando que a menina ruiva se sentiria triste devido à sua ausência.

Mas Betty não se importava. Ela só esperava que a garota da cidade viesse o mais cedo que pudesse. Era uma bênção poder estar com ela.

A garota ruiva apenas queria ser mais ousada, talvez até roubar um beijo. Ela podia cheirar os lábios de Florence, que provavelmente tinham o gosto de framboesas – sua fruta favorita.

Ela não ousava, no entanto. Ela não podia ser a pessoa a tomar o primeiro passo. Ela queria que Florence se sentisse confortável com ela para que viesse lentamente, como acontece quando se tem medo de se apaixonar.

Betty não sabia dizer se tinha medo. Talvez medo não fosse a palavra certa para descrever o que sentia. Ela desejava as mãos de Florence em sua cintura, em seu pescoço, em sua pele – e não tinha vergonha em admiti-lo. Ela sabia que era mais do que uma amizade, o que queria com a menina da cidade. Olhando para ela, tudo o que via era possibilidade. Possibilidade de um futuro melhor e pra um amor louco, verdadeiro, incandescente – algo que nunca esperou achar.

Todo o seu mundo era confinado naquela área rural. Ela reconhecia que o ambiente era bastante pacífico para viver uma vida inteira; ela ouviu que a cidade era barulhenta e perigosa. Acostumada com os pássaros cantando no início da manhã, ela não podia imaginar uma vida onde ela acordaria com os gritos estressados de outras pessoas.

De qualquer maneira, ela também não se imaginava como os seus pais. Não se via vivendo naquele chalé até a sua velhice ou cuidando da propriedade depois de eles serem enterrados na terra abaixo. Não era sequer uma propriedade grande e ela não podia fazer experimentos com a terra tanto quanto ela gostaria. Por que ficar em algum lugar onde não se pode crescer?

Ao mesmo tempo, ela não tinha nenhum plano. Como que ela sairia dali? Deveria ir para a cidade e estudar? Mas ela era uma aluna terrível e provavelmente não seria aceita em nenhuma faculdade boa. Onde ela poderia trabalhar? Não tinha nenhum talento impressionante para mostrar a quaisquer negócios e seria rejeitada.

Viu-se em uma encruzilhada. Por que será que temos que tomar decisões tão terríveis quando somos tão jovens, sem conhecer o mundo ou nós próprios?

Betty não sabia o que deveria ser. Por outro lado, Florence sabia exatamente quem deveria ser, e isso a inspirava. A garota ruiva sentia que ela merecia melhor, e ela queria ser aquilo para ela. Ela queria ser o suficiente para a bela menina.

Betty desejou ter planos para ver o mundo assim como a outra tinha.

Talvez ela não fosse destinada para ser alguém que crescesse. Talvez ela fosse como uma árvore, firme e forte em apenas um lugar. Talvez ela não fosse destinada a voar para longe, bem longe.

Mas, ah!, como ela gostaria de fazê-lo. Mesmo que fosse para assistir a outra garota realizar os seus sonhos. Para apoiá-la e amá-la.

Quando ela finalmente viu Florence após o piquenique que tiveram, Betty estava encantada. Ouvir as batidas na porta fez com que seu coração pulasse uma batida.

- Olá! – disse a menina da cidade. Seu cabelo estava preso em um coque e parecia que ela tinha acabado de correr uma maratona: suas bochechas estavam vermelhas como as cerejas que sua avó plantava no jardim, e suor descia pela sua testa.

Ela estava fantástica, como se o espírito selvagem houvesse lhe tocado a alma.

- Oi – Betty suspirou. Como podia ser alguém tão bela, de tirar o fôlego?

Florence entrou na casa como se fosse sua e sentou no sofá. Quase instantaneamente, Oliver sentou em seu colo. A jovem ruiva não pôde acreditar no que vira, já que o gato odiava quase todo mundo que conhecia e sequer sentava no colo de sua mãe.

- Ele realmente gosta de você. – Ela disse, sorrindo.

- Ótimo, pois eu também gosto dele.

Betty sentou ao seu lado e sentiu uma vontade tremenda de colocar a sua cabeça nos ombros da vizinha, mas não teve a coragem de fazê-lo. Florence, no entanto, se aproximava da garota lentamente.

Seus pais não estavam em casa. Tinham ido à cidade a negócios e deixaram a filha sozinha. Como não tinha muitos amigos próximos, confiavam nela a ficar bem até que voltassem. Pouco sabiam que ela agora tinha uma amiga, assim como tinha uma queda na mesma amiga.

Betty deitou a sua mão no pelo do gato, esperando que Florence lhe tocasse acidentalmente. Sentiu-se ridícula fazendo aquilo, como se fosse apenas uma criança que nunca tivera contato físico com ninguém fora da família. Mas a verdade era que Florence tinha um efeito nela que ninguém jamais tivera. Suas mãos tremiam sempre que ela estava perto. Ela não sabia como parar aquilo.

Florence tomou a isca e segurou a sua mão.

- Está nervosa, querida?

- Você me deixa nervosa.

- O que eu posso fazer para que você pare de tremer?

Betty sabia exatamente o que dizer, mesmo que não pudesse imaginar aquelas palavras caindo de seus lábios. Era direto demais. Mas a sua timidez não a parou. Era como se o seu coração tivesse tomado controle.

- Me segure.

- Alegremente.

Florence colocou um de seus braços sobre a cabeça da vizinha e a puxou para mais perto. Betty cheirava a girassóis e tinha gosto de canela.

um segredo de verãoOnde histórias criam vida. Descubra agora