(É... essa de cima sou eu.)
Está vendo o que os e-mails fazem? Eu nunca diria algo assim pessoalmente. Grosseiro.
Sugestivo. Como se eu fosse o tipo de garota capaz de fazer comentários assim. Quem, cara a cara com um membro da espécie masculina,saberia flertar, balançar o cabelo e, se a coisa chegasse a esse ponto, fazer muito mais do que beijar?
(Que fique registrado: eu sei beijar. Não estou dizendo que tiraria 10 numa prova sobre esse assunto ou então que ganharia a medalha de ouro nas olimpíadas, mas tenho quase certeza de que não sou péssima. Sei disso simplesmente por comparação. Adam Kravitz. Nono ano. Ele: todo babão e raivoso, língua rítmica, que nem um zumbi tentando engolir a minha cabeça. Eu:participante super disposta, três dias com o rosto esfolado.)
E-mail é um negócio bem parecido com ser diagnosticado com déficit de atenção: garantia de tempo extra nas provas. Na vida real, depois do fato consumado, eu quase sempre repasso as conversas na cabeça, corrijo as falas até aperfeiçoar o meu deboche espirituoso, despreocupado, sem esforço – tudo oque parece ser natural para as outras garotas.
É perda de tempo, claro, porque aessa altura já é tarde demais. Na organização de conjuntos da minha vida, a minha personalidade imaginada e a minha personalidade real jamais convergiram.
Mas nos e-mails e mensagens tenho aqueles instantes a mais deque preciso para ser a versão melhor, corrigida, de mim mesma. Para ser aquela garota que está na gloriosa interseção.
Eu deveria ter mais cuidado. Agora percebo isso. Posição perfeita. Sério? Não consigo decidir se parece mais coisa de homem cafajeste ou de uma vagabunda; de qualquer modo não parece coisa minha.
E o pior é que não faço ideia de quem seja o destinatário. Duvido que AN seja mesmo algum benfeitor que sente pena da garota nova. Ou, melhor ainda, um admirador secreto. Porque, claro, foi para aí que o meu cérebro me levou imediatamente, como resultado de uma vida inteira devorando comédias românticas e lendo muitas fanfics.
Por que você acha que eu beijei o Adam Kravitz? Ele era meu vizinho em Chicago. Existe história melhor do que a da garota que descobre que o seu verdadeiro amor morava o tempo todo na casa ao lado? Claro, o meu vizinho viria a ser mais como um zumbi com saliva misturada com refrigerante, mas tudo bem. Vivendo e aprendendo.Sem dúvida AN é uma piada cruel.
Provavelmente nem é "ele". Deve ser só uma garota má dando uma de predadora dos fracos. Porque vamos admitir: eusou fraca. Talvez até patética. Eu menti. Não sou faixa-preta em caratê. Não sou forte. Até o mês passado eu achava que era. De verdade.
A vida me deu socos,cagou na minha cabeça, e eu caí de boca, para misturar as metáforas. Ou não. Às vezes a sensação era de que a vida tinha cagado na minha boca.
O meu único motivo de orgulho: ninguém me viu chorar. E aí eu virei a garota nova do colégio WV, nessa região esquisita chamada de Valley, que fica em Los Angeles mas não é Los Angeles, ou algo assim, porque meu pai se casou com uma moça rica que cheira a amêndoas chiques, e aqui o suco custa 12 dólares, e... sei lá.
Não sei mais nada.Estou mais perdida, confusa e sozinha do que nunca. Não, o ensino médio não vai ser uma época que vou recordar com carinho. Uma vez a minha mãe me disse que o mundo é dividido em dois tipos de pessoa: as que adoram os anos do ensino médio e as que passam a década seguinte se recuperando deles. O que não mata fortalece.Mas alguma coisa matou a minha mãe, e eu não estou mais forte.
Então veja bem, talvez exista um terceiro tipo de pessoa: as que nunca se recuperam completamente do ensino médio.
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Oie, espero q tenha gostado do capítulo.
Quem será q é o AN?
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Três coisas sobre você ( imagina com Dylan K.)
RomanceE se a pessoa que vc mais precisa for alguém que vc nem conhece?