Capítulo.17.

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Depois da aula crio coragem para dizer ao Batman que teremos que desfazer adupla, já que não estou disposta a correr o risco de violar o código de honra do Wood Valley só porque ele não sabe lidar com outras pessoas. Estou me sentindo uma guerreira, poderosa por ter me apresentado a Adrianna e não ter me encolhido diante do esquadrão de vagabas loiras. Ou talvez porque, pela primeira vez desde que me mudei para Los Angeles, comi algo diferente de creme de amendoim com torrada no café da manhã. De qualquer modo, estarei imune ao vodu de garoto bonitinho do Batman. 

Não faz o meu tipo, repito para mim mesma logo antes de ir até o lugar em que ele fica sempre, perto do Karrinho de Kafé. 

Não faz o meu tipo, repito para mim mesma quando o vejo em toda a suaglória preta e azul, sereno feito um hematoma. 

Não faz o meu tipo mesmo, digo mais uma vez quando por acaso tenho que esperar na fila atrás de um grupo de cinco garotas que andam como leoas; uma é a líder óbvia, as outras são as suas lacraias vestidas de modo semelhante. Todas do tipo capaz de esfolar você viva e chupar os seus ossos. 

– Dylan, você vai no sábado, né? – diz a líder, uma garota chamada Heather, nem um pouco consternada com o abraço superficial do Batman ou o fato de ele continuar olhando para o livro que está lendo. 

Hoje não é Sartre. É Drácula, na verdade, o que é uma leitura ao mesmo tempo assustadora e adequada, considerando que estamos na época do Halloween. 

Não faz o meu tipo, não faz o meu tipo, não faz o meu tipo. 

– Talvez – diz ele. – Sabe como é. 

Palavras genéricas que não dizem absolutamente nada. Impressionantes em seu vazio. Não sei se eu conseguiria falar menos com tantas palavras, mesmo se tentasse.

– Claro, Dylan – diz outra garota. O nome dela é Rain ou Storm. Talvez Sky. Definitivamente algo relacionado à meteorologia em inglês. – Então, tipo, é, agente se vê.

– Sim – diz ele, que desta vez simplesmente abandona por completo ofingimento e começa a ler na frente delas. Totalmente sem energia.

– Certo, bem, tchau! 

Heather dá o seu melhor sorriso. Dentes perfeitos, claro, já que Los Angeles é a terra dos dentes artificiais, ou facetas de porcelana. Procurei "facetas" no Google ontem à noite e descobri que cada uma custa pelo menos mil dólares, o que significa que a boca da Heather custou cinco vezes mais do que o meu carro.

– Tcha-aaau – dizem as outras garotas, e finalmente vão embora.

O Batman parece aliviado.

– Em que posso ajudar? – pergunta ele, como se eu fosse a próxima clientenum drive-thru.

Então me lembro do projeto de inglês e de como o Batman simplesmente presumiu que eu pudesse ser rotulada como todos os outros.

– Bom, sobre A terra desolada... – começo, e enfio as mãos nos bolsos de trás, tentando parecer casual. – Se você não quer trabalhar comigo, tudo bem. Mas aí eu preciso contar para a Sra. Pollacke achar outro parceiro. Não vou deixar você fazer o trabalho sozinho.

Pronto, falei. Não foi tão difícil. Solto o ar. Fico meio tonta e trêmula, masnada aparente, espero. A minha máscara continua firme no lugar. Agora eu sóqueria que essa coisa toda acabasse logo.

– Qual é o problema? Eu falei que vou tirar 10 – diz ele, e se inclina mais para trás ainda.

Ele é mais dono daquela poltrona do que eu sou dona do banco onde lancho. Ele me encara de novo. Hoje os olhos verdes parecem quase marrons. Por que ele sempre parece tão cansado? Até o cabelo parece cansado, pois fica espetado em pequenos trechos aleatórios e depois se dobra para baixo, como se fizesse uma reverência derrotada.

– Não é essa a questão. Eu posso tirar 10 sozinha. Não preciso pegar caronano seu trabalho – digo, e cruzo os braços. – E, de qualquer modo, isso vai contra o código de honra. 

Ele me olha de novo e percebo uma levíssima vontade de rir. Melhor do que ser dispensada, acho, mas ainda assim é irritante.

– Código de honra?

Dane-se. Ele provavelmente é filho de algum ator ou diretor famoso e não precisa se preocupar em ser expulso. Nem em entrar para uma faculdade. Provavelmente nunca ouviu a expressão "bolsa de estudos". Teria que pesquisar.

– Escuta, eu sou nova aqui, tá bom? E não quero ser expulsa, me meter em alguma encrenca ou sei lá o quê. E é o primeiro ano, de modo que tudo conta.Por isso não me importa se você acha idiotice, estupidez ou sei lá o quê.

– Ou sei lá o quê – diz o Batman.

Outro risinho insondável. Eu o odeio. De verdade. Quando a Gem e a Crystal zombam de mim, pelo menos é por causa de coisas que posso dizer a mim mesma que não têm importância. As minhas roupas, e não as minhas palavras. Ouço a minha mãe dentro da minha cabeça, só por um segundo, já que a voz dela praticamente evaporou – passou de água para ar, ou talvez tenha se desintegrado, da terra ao pó –, mas por um segundo ela está ali comigo: Outras pessoas não podem fazer com que você se sinta idiota. Só você.

– Ou sei lá o quê – repito, como se estivesse participando da piada. Como se ele não pudesse me ferir. Engulo as lágrimas súbitas. De onde elas vieram? Não,agora não. De jeito nenhum. Respiro fundo e isso passa. – Sério, vou arranjar outra dupla. Não vai ser um problema.

Então eu me obrigo a encará-lo. Dou de ombros como se não me importasse. passo a impressão de que também tenho pessoas fazendo fila para falar comigo, como as leoas fazem com ele. O Batman me encara de volta, balança a cabeça um pouquinho, como se tentasse acordar. E então sorri. Não é um risinho dedesprezo. Não há nada de mau ou cruel. É só um bom e velho sorriso.

Ele não tem facetas de porcelana, ele parece usar delineador. Acho que ele não usa delineador, só nasceu assim: com feições bem marcadas.

– Certo, vamos fazer juntos – diz ele.

– Como?

Estou distraída porque o sorriso transforma o rosto dele. Num instante ele passa de um adolescente bonito e carrancudo a outro meio pateta, ligeiramente desajeitado. Quase posso vê-lo aos 13 anos, vulnerável, tímido, uma pessoa diferente daquela que é bajulada no Karrinho de Kafé. Aposto que eu gostaria mais dele naquela época, quando lia gibis da Marvel em vez de Sartre, quando não lutava com todas as questões difíceis e acabava triste, com raiva, cansado ou sei lá o quê.

Definitivamente gosto mais dele sorrindo.

– Vamos enfrentar A terra desolada juntos. "Abril é o mais cruel dos meses" e aquela coisa toda. Não é o meu poema predileto, mas é seminal – diz ele, que em seguida coloca o marcador de livro no Drácula e fecha-o, como se fosse só isso. Decisão tomada.

– Certo – digo, porque decifrá-lo me deixa lenta. Agora eu é que estou exausta. O sorriso dele é enigmático. Como uma imperfeição faz ele parecer ainda mais perfeito? E será que ele acabou de usar a palavra "seminal"? Você está triste, com raiva ou simplesmente tem 16 anos?

– Existe mesmo um código de honra aqui? – pergunta ele.

– Existe. Tem dez páginas.

– Vivendo e aprendendo. Ainda não nos apresentamos oficialmente, ou já? Sou Dylan. Dylan Kingwell

– Sn – digo, e apertamos as mãos como adultos de verdade: nada de bater os punhos, falsos beijos no rosto ou cumprimentos de cabeça masculinos. Os dedos dele são longos, finos e sólidos. Gosto deles tanto quanto do sorriso. Gosto mais ainda de tocá-los. – Holmes.– É um prazer finalmente conhecê-la, Sn. – Ele faz uma pausa. – Holmes. ( A partir de hj vou colocar esse sobrenome, mais pode imaginar o seu)

Dia 15. Definitivamente melhor.

Três coisas sobre você ( imagina com Dylan K.)Onde histórias criam vida. Descubra agora