Capítulo.31.

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-O que vocês acham de eu pintar uma mecha de pink? Um pouquinho descentralizada? – pergunta Dri, e passa os dedos pelo cabelo castanho desgrenhado.

Estamos sentadas do lado de fora durante o intervalo, os rostos inclinados para o sol como flores famintas de desenho animado. Agora tenho óculos escuros – a Dri e a Agnes me ajudaram a escolher um par genérico – e adoro o meu novo acessório. Parece transformador, como se de algum modo eu fosse uma pessoa diferente com grandes quadrados de plástico cobrindo o rosto.

– Pink? – pergunta Agnes.

– Pink com um ponto de exclamação em vez de um "i"? – também me manifesto.

– Talvez – responde Dri. – Tanto faz. Os dois.

– Não.

Agnes diz isso na lata, sem tentativa de preservar a possibilidade. Veto total, exatamente o que a Scarlett fez quando pensei em colocar um piercing na cartilagem na frente do canal auditivo.

Bom, me vetou depois de me mandar procurar no Google como se chama de verdade essa parte do corpo, porque nunca mais queria ouvir as palavras "cartilagem na frente do canal auditivo"
numa mesma frase. Não posso dizer que a culpo. Por acaso o nome é trágus, algo que parece ligeiramente sujo. Ninguém deveria ter um piercing no trágus.

– Que tal todo pink? – pergunta Dri. – Tingir a cabeça toda.

– Não sei – digo. – Gosto do seu cabelo como ele é.

– Por quê? Por que você faria isso com você mesma? – reclama Agnes. Apesar disso, nem a Dri nem eu temos coragem para comentar que o cabelo vermelho dela é tão artificial quanto o da Dri ficaria se fosse tingido de cor-de- rosa. Se bem que o vermelho da Agnes funciona de um modo que acho que o rosa da Dri não funcionaria. Não há um limite nítido entre vermelho e rosa
quando o assunto é cabelo.

– Só queria mudar – diz ela.

– Ah, tipo quando você fez aulas de ukulele. Você só quer ser notada – diz Agnes, sem cerimônia mas não sem gentileza.

– Saquei.

– Eu tenho me sentido... não sei, meio invisível ultimamente. Tipo, sabe,tirando vocês, ninguém notaria se eu não viesse à escola – diz Dri, e se inclina para trás até ficar deitada, olhando o vasto céu azul, tão aberto que nem há nuvens para serem vistas.

Penso em contar a ela que AN me disse para ser sua amiga, que ele obviamente notou como ela é gente boa e divertida, mas por algum motivo fico sem graça. Quero que ela pense que a nossa amizade foi totalmente natural.

– Honestamente, eu seria capaz de matar para ser invisível – confesso. – A Gem e a Crystal não me deixam em paz.

– Elas que se danem – reage Agnes. – Elas só queriam ser descoladas como você.

– Eu não sou descolada. Sou o oposto disso – reajo.

– É descolada, sim. Quero dizer, agora que te conheço, percebo que na verdade você é mais do que descolada. De algum jeito você emite uma vibração tipo de fodona, que não liga a mínima pra nada. E você é gata – elogia Agnes. – No mundo da Gem, ninguém além dela tem permissão pra ser gata.

– Fala sério! De quem você está falando? – pergunto.

– Elas só estão com ciúme porque o Liam gosta de você. Quer saber? Até eu sinto ciúme porque o Liam gosta de você – diz Dri.

– Ele não gosta de mim. Eu só trabalho na loja da mãe dele.

– Pois é – diz Dri.

– Não, sério, nós só trabalhamos juntos. E, só pra deixar claro, eu não gosto dele. Pelo menos não nesse sentido.

Três coisas sobre você ( imagina com Dylan K.)Onde histórias criam vida. Descubra agora