Capítulo.34.

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Então chega o Dia da Doação do Wood Valley. Aceito a sugestão de AN e uso os meus tênis Vans, principalmente porque não tenho nada parecido com botas de trabalho e está quente demais para as minhas botas de inverno, que são confortáveis e feias como o diabo, e que certamente fariam a Gem chorar de alegria ao ver a facilidade com que me torno um alvo. Uso a velha camiseta da minha mãe da Universidade de Illinois, lavada tantas vezes que as letras estão desbotadas, e uma calça jeans rasgada, e prendo o cabelo num rabo de cavalo.

Nem um pouco chique, mas acho que um dia dedicado ao trabalho físico e comunitário não exige nada sofisticado, nem mesmo no Wood Valley. Passo um pouco de corretivo na parte de cima do nariz, cobrindo o hematoma. Lição aprendida: nada de rímel.

Hoje a escola está fechada; em vez de irmos para as nossas salas normais, devemos nos apresentar para o trabalho na sede do Hábitat Para a Humanidade.

Pela primeira vez, o Theo quis que fôssemos de carro juntos, já que estava preocupado com a hipótese de se perder e ser sequestrado, ainda que o bairro não pareça muito diferente do lugar onde cresci. Aparentemente esse local necessita com urgência de 200 jovens ricos que jamais encostaram a mão numa ferramenta.

A nossa tarefa é erguer a estrutura de uma casa.

Alguém não pensou nisso direito.

Gem está aqui. Sim, porque ela e a Cry stal estão em todo lugar, e não posso fazer nada com relação a essa onipresença. Ela usa uma regata com buracos enormes para os braços, e por baixo um top de ginástica cheio de lantejoulas, uma dessas coisas que provavelmente não deveriam existir, mas pelas quais o um por cento mais rico da população está disposto a pagar enormes quantias de dinheiro. A blusa traz as palavras THUG LIFE, e não, não estou de brincadeira.

E ainda que o lugar seja bem grande – uma casa inteira será construída no terreno –, por algum motivo a Gem é atraída para o que odeia, então me encontra. Vem na minha direção, tão perto que eu não deveria ficar surpresa ao sentir o seu ombro trombar no meu. No entanto fico. A dor é aguda e perversa, e imagino que doa tanto nela quanto em mim.

Talvez mais, já que ela é ossuda.

– Com licença – diz ela, cheia de indignação justificada.Theo e eu acabamos de chegar, por isso ainda não consegui encontrar as minhas amigas, para pelo menos me cercar da minha equipe feminina totalmente ineficaz. Não que a Dri e a Agnes pudessem fazer algo, mas enfim.

O que a Gem quer de mim? Uma cena? Um soco? Lágrimas? Ou será que estou lhe dando exatamente o que quer ao ficar parada e olhando de queixo caído para ela? Nenhuma palavra sai, nem mesmo as fáceis que ela gosta de jogar contra mim.

– É sério isso? – diz Theo, e a princípio acho que ele está falando comigo, e me sinto tão sozinha que sou capaz de chorar, aqui mesmo, agora mesmo.

Finalmente fazer o que as pessoas querem. – Se encostar na Jessie de novo, juro por Deus que acabo com você.

O Theo está falando com a Gem, apontando o dedo na cara dela. Ele parece ameaçador, usando a própria versão de roupa para serviço comunitário: camisa de flanela xadrez tipo lenhador, calça jeans impecável de grife, tênis Timberland intencionalmente desamarrados. Ela simplesmente o encara, e vejo o chiclete parado idiotamente em sua boca.

– Pisque uma vez para mostrar que entendeu o que eu disse – ordena ele.

– Deixe pra lá – diz Gem, no instante em que o Liam se aproxima de nós, todo animado e sem perceber nada, bloqueando a saída dela.

Três coisas sobre você ( imagina com Dylan K.)Onde histórias criam vida. Descubra agora