Em outras palavras: motivo nº 4.657 para eu não me encaixar aqui.
O meu pai não é um magnata do cinema, o que quer que isso signifique; é farmacêutico. Na nossa cidade não éramos nem um pouco pobres, na verdade eu considerava normais. Só que nenhum adolescente tinha os próprios cartões de crédito. Eu fazia as minhas comprinhas com dinheiro economizado, e não costumávamos tomar um café de cinco dólares sem primeiro fazer a conta infeliz e perceber que aquela bebida custava quase uma hora de trabalho.
Os meus pais nunca foram muito interessados em dinheiro, em roupas ou nas merdas chiques que são onipresentes aqui. Eu não era o tipo de criança que pedia coisas de marca – na verdade isso nunca foi do meu feitio, e, se fosse, tenho quase certeza de que a minha mãe faria um sermão. Não apenas porque só podíamos cometer excessos de vez em quando, mas porque a minha mãe considerava as grifes e as coisas decorativas uma perda de tempo. Coisas idiotas para pessoas idiotas.
Preferia usar o dinheiro que ela e o meu pai economizavam para viajar a lugares interessantes ou doar a boas causas. A experiência é mais importante do que as coisas materiais, dizia, e depois falava sobre algum estudo de ciências sociais que tinha lido e provava definitivamente que o dinheiro não compra felicidade. Eu nem sempre concordava com ela – me lembro de uma briga que tivemos por causa de um vestido de 200 dólares para o baile da oitava série –, mas agora sinto orgulho da minha criação, mesmo que isso signifique que nesta escola eu seja ainda mais estranha numa terra estranha.
De repente a gratidão que o Batman inspira em mim se transforma em fúria. Como ele ousa sequestrar a minha nota? Diferentemente do pessoal endinheirado daqui, espero conseguir uma bolsa para a universidade. Não posso apenas confiarna promessa de nota máxima que ele fez. E se a Sra. Pollack descobrir que não trabalhamos juntos? Quando me matriculei, tive de assinar um compromisso de honra. Tecnicamente isso poderia ser considerado fraude e ficar registrado no meu histórico.
Amanhã precisarei criar coragem para dizer ao Batman que devemos trabalhar juntos, ou terei que pedir à Sra. Pollack para me arranjar um novo parceiro.
Odeio ter um monte de dever de casa para fazer e ainda precisar arranjar tempo para algum trabalho de meio expediente.
Odeio o fato de Scarlett não estar aqui.
Odeio o Theo, que simplesmente chegou em casa e, apesar de eu estar sentada ali na sala, não se deu o menor trabalho de ser gentil e dizer: "E aí, como foi o seu dia?"
Odeio até o meu pai – que, como concluí depois da morte da minha mãe, é mais fácil de amar do que de sentir pena – por ter me trazido aqui, por me deixar sozinha para resolver as minhas coisas. Não consigo nem mesmo encontrá-lo em lugar nenhum. A minha mãe ficava furiosa quando eu usava a palavra "odeio".
Ela achavaque era uma palavra ingrata, superestimada, e sem dúvida ficaria furiosa comigo por usá-la para me referir ao meu pai. Mas, afinal de contas, ela se foi e ele está casado com outra pessoa. Com certeza, nenhuma regra antiga continua valendo.
Para: Alguém Ninguém (alguemning@gmail.com)
De: Sn ________ (Sn567@gmail.com)
Assunto: E agora um eufemismo
Ei, Guia Espiritual. Não quero parecer ingrata nem nada, mas precisodizer: A SUA ESCOLA É UMA DROGA.
Para:Sn ___(Sn@gmail.com)
De: Alguém Ninguém (alguemning@gmail.com)
Assunto: conta uma novidade você está chovendo no molhado .
agora, por favor, pare de gritar. estou ficando com dor de cabeça.
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Três coisas sobre você ( imagina com Dylan K.)
RomansaE se a pessoa que vc mais precisa for alguém que vc nem conhece?