Capítulo.36.

40 7 0
                                    


Não consigo almoçar.

Estou nervosa demais.

Em poucas horas vou ter o meu primeiro encontro com Caleb, embora não seja um encontro de verdade, e não sei se pode ser chamado de primeiro, já que nos falamos pela internet o tempo todo.

Ontem à noite trocamos mensagens até tão tarde que caí no sono com o computador no colo e acordei com as palavras dele piscando na tela:

três coisas: (1) bom dia. (2) estou com marcas de teclado na cara. dormi no "sdfgh". (3) você viaja daqui a 24 horas e eu vou sentir a sua falta.

– Não estou engolindo que o Caleb seja o AN – diz Agnes, quando recuso a sua batata frita pela quinta vez, argumentando que estou preocupada com a hipótese de vomitar.

– Quero dizer, a Dri está certa, ele é esquisito, mas não sei.

- Ele não é, sabe, tímido. É tipo o cara mais direto que já conheci.

– Mas eu contei a ele onde eu trabalhava e ele apareceu lá. Eu o vi super digitando na festa da Gem no momento exato em que estávamos trocando mensagens. E, sempre que falo com ele, ele faz um negócio esquisito de sacudir o celular, tipo "Escrevo pra você", e um segundo depois ele escreve. E ele me disse algo que eu tinha dito. Só pode ser ele.

– Sem dúvida é ele – pondera Dri. – E estou impressionada por você ter dado o primeiro passo.

Corajosa. – A Dri não está olhando para nós. Está encarando o Liam, sentado do outro lado do refeitório, longe da Gem.

– Será que eles terminaram?

– Não faço ideia – respondo e dou de ombros. – E não me importo.

– Talvez você tenha destruído o Gemian.

– Gemian?

– Gem e Liam. Gemian.

Reviro os olhos para a Dri.

– Quero falar de s/naleb. Acho que eu saberia se a irmã dele tivesse morrido – diz Agnes, e o meu estômago se aperta.

– Você disse que ele nunca falava sobre ela. – Dri dá uma de multitarefa: fala com a gente e ao mesmo tempo assiste ao show do Liam.

Eu me preocuparia com a hipótese de ela estar se expondo demais, só que o Liam não está nem aí. Só espero que a Gem não repare.

– E houve boatos.

– Quero dizer, é, eu ouvi dizer que ela era uma gracinha e que tinha um problema alimentar grave, então quem sabe? Mas pensei que os pais a tivessem mandado para um hospital psiquiátrico na Costa Leste, não que ela, tipo, tivesse se matado ou algo assim – relata Agnes.

Seu tom é casual demais, como se estivéssemos conversando sobre um personagem de livro, não sobre a vida de alguém real.

Fico pasma pensando em como todos somos insensíveis, como nos sentimos confortáveis diminuindo os problemas dos outros. Uma gracinha. Problema alimentar grave. É tão fácil falar!

Ainda mais quando as pessoas não passam por isso!

Eu gostaria de nunca ter falado sobre a irmã dele. Agora sinto que traí o Caleb, que contei segredos que eu não tinha o direito de expor. Fico feliz por nunca ter falado nada sobre a mãe dele.

– Será que ele disse isso metaforicamente?Como se parecesse que a irmã dele tinha morrido – sugere Dri, mas faço que não com a cabeça.  Caleb não foi nem um pouco vago. – Ou talvez só tenha dito isso para criar uma identificação contigo, sabe, por causa da sua mãe.

Três coisas sobre você ( imagina com Dylan K.)Onde histórias criam vida. Descubra agora