Capítulo22

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O plano da Dri é ter uma vida através de mim, o que é uma novidade total, já que até hoje ninguém quis ser eu. Nunca. Ela me disse para mandar um torpedo se Liam dissesse algo interessante. Na verdade, se ele dissesse qualquer coisa.

– Quer aprender via mensagens a mexer numa caixa registradora? – perguntei com toda a seriedade no fim do último tempo, pouco antes de pular no carro e ir para o meu primeiro turno na Atenção, Lombadas!.

Não tinha certeza de até que ponto ia a obsessão da Dri, mas, como alguém que já teve uma boa cota de paixonites, entendo a necessidade de obter informações. Os detalhes permitem que a gente finja conhecer o nosso alvo de obsessão, mesmo não conhecendo nem um pouco.

– Pode pular essa parte, a não ser que ele faça alguma coisa fofa enquanto explica – disse Dri, felizmente entendendo que, de fato, eu não estava tirando com a cara dela.

Até agora Liam não disse nada que valesse a pena ser memorizado, nada realmente interessante. A caixa registradora é do mesmo modelo que havia no Rei das Vitaminas, por isso não deve ser um problema. A minha função parece ser ficar a maior parte do tempo sentada atrás do balcão e me levantar quando ouvir o sino da porta anunciando um novo cliente. A julgar pelo rápido tempo de reação do Liam, está claro que isso logo vai virar um reflexo.

– Que tipo de música a sua banda toca? – pergunto.

De propósito não digo "a Orgasmópolis", principalmente porque acho que não consigo dizer isso sem ficar vermelha. O logotipo da banda é um grande O com aparência vaginal, com uma língua atravessando-o. Rolling Stones misturados com Georgia O'Keeffe. E, claro, o nome é uma forçação de barra. Não dá nenhum ponto a eles no quesito sutileza.

– Acho que rock. Mais ou menos. Sabe o Lou Reed?

Confirmo com a cabeça, mas só ouvi falar vagamente. Não sou uma daquelas pessoas capazes de entrar no jogo da música, gente que se sente o máximo por fazer referências a bandas desconhecidas.

– Tipo ele, mas moderno. E talvez melhor – diz Liam, e sorri, e então percebo que só está de brincadeira.

Ele não é presunçoso como a maioria dos caras do último ano, que ocupam espaço demais quando andam nos corredores – batendo em armários, fazendo cumprimentos complicados e comentários sobre as garotas que têm o azar de passar por perto na hora. Liam, apesar de carregar o Earl, é um pouco mais contido, o tipo de cara que pode pedir permissão para beijar você.

Eu: Ele se comparou ao Lou Reed, mas de um modo fofo, autodepreciativo.

Dri: Liam é o melhor.

Eu: *resmungo*

Dri: O melhor, não. O mais gato.

– Com quem você está trocando mensagens? – pergunta Liam, e guardo o telefone rapidamente.

Não quero deixar a Dri sem graça, mas, para dizer a verdade, tenho a sensação de que ele não faz ideia de quem ela seja.

– Com a minha amiga Dri. Bom, o nome dela é Adrianna, mas todo mundo a chama de Dri –explico. Ele dá de ombros. Não está interessado. – Ela é muito legal. Estava sentada comigo quando você apareceu hoje no almoço.

De novo, nenhuma reação. Imagino o que ele diria se eu contasse que ela sabe o dia do aniversário dele, para que faculdades ele está se candidatando e seus pratos favoritos. Que, na cabeça dela, os dois têm um relacionamento complexo e sólido. Não importa que seja totalmente unilateral. Acho até que a Dri prefere que seja assim. Existem garotas como a Gem e a Cry stal, destemidas com relação a garotos, orifícios e secreções, e existem garotas como Dri e eu, que morrem de pavor de rejeição, mecânica e ângulos ruins. Sabemos a distância que ainda precisamos percorrer para nos considerarmos mulheres.

Três coisas sobre você ( imagina com Dylan K.)Onde histórias criam vida. Descubra agora