-O quê? – pergunta Dylan, depois de me entregar o meu latte e eu não me
oferecer para pagar, como tinha treinado antes.Estamos sentados nas cadeiras estofadas do Starbucks, o Dylan à minha frente. Tenho dificuldade para formar palavras porque estou ocupada demais entando encontrar pistas. Sinto-me uma idiota por ter presumido que AN era Caleb. Não quero cometer o mesmo erro duas vezes.
– O que o quê? Eu não disse nada.
– Você está me olhando de um jeito engraçado. Estou com alguma coisa na cara?
Dylan começa a limpar os lábios, que têm uma pequena migalha do muffin de mirtilo, mas não é para isso que estou olhando.
– Desculpe. Só estou meio desligada. – Seguro com firmeza a minha xícara, as duas mãos aninhando-a como se fosse uma coisa frágil: um passarinho ferido.
–Acho que estou cansada do fim de semana.
– Como foi por lá? – pergunta Dylan, e sorri, como se quisesse mesmo saber.
O que me faz pensar que ele é o AN, porque o AN sempre quer saber tudo. E o que, claro, me faz pensar que definitivamente ele não é o AN, porque o AN sabe como foi o meu fim de semana.
Mas acima de tudo acho que ele não é o AN porque quero que ele seja o AN, e esse é o modo mais rápido de isso não acontecer: eu querer tanto.
– Ótimo. Quero dizer, foi meio difícil no início. Longa história. Mas depois ficou ótimo, foi até difícil vir embora – conto, o que é verdade e mentira ao mesmo tempo.
Foi difícil vir embora, mas seria difícil ficar. Sentir que não pertenço a lugar nenhum me fez ansiar pelo movimento constante; ficar no mesmo local ainda parece arriscado, como pedir para virar alvo. Pensando bem, deve ser por isso que o Dylan não dorme. Oito horas num mesmo lugar é perigoso.
– É, aposto que sim. Esse adesivo é novo? – Dylan aponta para o meu ninja, e percebo que, mesmo tendo ficado com aquilo no meu computador o dia inteiro na escola, ele é o primeiro a notar. Nem a Gem viu, porque o seu único trabalho hoje foi me chamar de "suada". Não é muito criativo, já que faz 32 graus em novembro.
– É. A minha melhor amiga de lá, Scarlett, fez pra mim. Deveriam ser como tatuagens. Sou meio apaixonada por eles.
– Todos são muito legais. Ela deveria vender.
– Foi o que eu disse! – levanto os olhos, e então, quando vejo o seu olhar, baixo os olhos de novo.
Isso tudo é demais para mim. Só preciso avançar rápido para a quarta-feira, encontrar o AN, seguir em frente. Se ele não for o Dylan, vou largar essa paixonite idiota. Theo está certo e errado: isso é brincar com fogo. Gosto muito de ficar perto dele.
Agora ele também está aninhando a xícara de café. Li em algum lugar que, quando a pessoa espelha a sua linguagem corporal, significa que ela gosta de você. Mas, se isso fosse verdade, eu estaria sentada com as pernas cruzadas, e há muito tempo teria pegado o hábito nervoso do Dylan, de esfregar o cabelo. Em vez de imitar os seus gestos, quero me arrastar para o seu colo. Pousar a cabeça no seu peito.
– Grandes mentes, cara.
– Grandes mentes.
Você é o AN?
Por que usa uma camisa do Batman todos os dias?
Por que não dorme?
– Por que você não dorme? – pergunto, porque parece a pergunta mais fácil. A menos invasiva, se bem que talvez já tenhamos ultrapassado essa barreira.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Três coisas sobre você ( imagina com Dylan K.)
RomanceE se a pessoa que vc mais precisa for alguém que vc nem conhece?