Prólogo

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1920, Inglaterra

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1920, Inglaterra

No inverno, Birmingham costumava ter céus mais nublados do que o normal, algo que assustava a filha mais velha da família Jones, Emily.

Não eram uma família rica, nunca foram e talvez nunca viessem a ser, mas nem por isso Emy se queixava do frio que às vezes entrava pela janela meio quebrada de seu quarto.

Vinham de Nottingham, uma das cidades mais pobres em toda a Inglaterra e tal questão faz as pessoas se perguntarem: como foram parar alí, então? Um parente distante da família havia oferecido a casa a eles. Por mais que não fossem as melhores condições para se morar, Emily pensava em como a antiga casa era ainda mais precária. Ela suspirou, com um sorriso.

Poderia ser pior.

Sentiu seus olhos pesarem, o sono a anestesiando, rapidamente como o vento solto que soava do lado de fora. Agradeceu por não estar nevando. Como já tinha em mente antes, poderia ser pior, bem pior. Tinha roupas, uma cama, comida, família. Vivia bem.

- Emy... - Uma voz suave e conhecida a chamou. A menina se virou na cama, não deixando o ar gelado entrar pelas cobertas, e quando seu olhar seguiu o som ela sorriu ao ver Isaac, seu irmão caçula, à beira da cama.

Por mais que a diferença de três anos fizesse Emily, que tinha apenas sete na época, parecer uma adulta para o menino, o cuidava sempre que podia, enquanto sua mãe trabalhava como costureira perto de sua casa. Se sentia na responsabilidade de cuidar de seu irmão, mas não carregava aquilo como um fardo, e sim, como um ato de amor.

- Oi, Isaac - Emy sorriu, encarando seus olhinhos escuros. - O que houve?

- Tive aquele pesadelo de novo - Isaac abaixou os olhos, envergonhado. Ela apertou os lábios, sem saber o que dizer. Ele sempre tinha o mesmo pesadelo, um monstro vindo lhe puxar as cobertas, e às vezes aparecia ao lado de sua cama.

Emily suspirou por fim.

- Quer dormir aqui?

Isaac levantou os olhos no mesmo instante e sua cabeleira negra e bagunçada se remexeu ao assentir com a cabeça. Diferente de Emily, que puxou sua mãe de tez morena, Isaac tinha a pele pálida, clara, como a neve que às vezes caía nas manhãs mais frias. A mesma cor de pele de seu falecido pai, pela bendita guerra.

Ela sorriu vendo-o escalar a cama, que parece a coisa mais alta do mundo quando se tem 4 anos. O cobriu com a coberta quente e grande o bastante para os dois e desta vez, sem interrupções, as crianças conseguiram ser embaladas pelo sono.

Emily imaginava se sua vida iria mudar algum dia... Como se Peter Pan pudesse aparecer em sua janela de repente, os levando para a Terra do Nunca, igual nos livros em que ela lia rapidamente nas prateleiras das livrarias. Teriam um final feliz?

Porém a vida não era um conto de fadas... Mas se podia fazer a escolha de imaginar que ela fosse ou não...

Alí, Emily caiu em sono profundo, ao lado do irmão naquela noite de inverno, sem se preocupar com o vento frio vindo de sua janela.

***

𝙊𝙨 𝙄𝙧𝙢𝙖̃𝙤𝙨 𝙎𝙝𝙚𝙡𝙗𝙮Onde histórias criam vida. Descubra agora