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Ah, se todo o tempo bom durasse, mas...
"a felicidade dura pouco".
Emily detestava essa frase.
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Emily Jones
Marta chegou feliz em casa ainda com sua caixa de linhas e agulhas nas mãos. Tinha um sorriso ansioso direcionado à filha, ansiosa pela proposta que queria fazer.
- Emy, que acha de ir trabalhar comigo na casa de costura?
Naquele tempo, uma garota tinha um acesso limitado a muitas coisas, mas por sorte uma delas não era o bordado. Emily sabia cantar um pouco, tinha desenhos aceitáveis, mas era nada mais impressionante que seus bordados. Ela sorriu feliz. Havia crescido para o posto, afinal.
Não tinha mais sete anos, tendo apenas que ajudar a cuidar de seu irmão. Tinha onze agora e como diria sua mãe, já era quase uma moça! Facilmente concluiu que ao lado de quem mais amava, fazer aquilo seria ainda melhor. Porém, tinha uma preocupação.
- E Isaac, mamãe?
- Não se preocupe, ele irá conosco! Saac é obediente, ficará ao meu lado - Marta sorriu, Emily também. Este era aquele momento de felicidade... Que como diria o ditado, durava pouco.
Os três, mais tarde, seguiram até a casa de costura, que se encontrava em uma esquina perto da casa. Era manhã, então, mais uma vez, Birmingham tinha seu movimento matutino. E, novamente, Emy observava as pessoas, os carros e os cavalos puxando carroças pelas ruas, distraída como sempre.
- Vamos, é aqui - Marta os aproximou de uma porta de vidro, que revelava a imagem de quatro mulheres trabalhando. Uma jovem, duas de meia idade, e uma senhora mais velha, já de cabelos brancos. O tilintar do sino ao abrirem a porta chamou a atenção das costureiras e Marta sorriu para todas.
- Trouxe companhia!
Todos começaram a se conhecer. A jovem de cabelos ruivos se chamava Rose, já as outras senhoras de meia idade, que depois Emily descobriu que eram irmãs - e se perguntava se não eram gêmeas pelos cabelos loiros e rostos tão parecidos, - se chamavam Katherine e Margareth. E por último, a senhora mais velha, Elizabeth, de cabelos grisalhos e feição doce.
As quatro trabalhavam sob máquinas de costura ou bordados a mão, concentras em suas tarefas e atentas aos adornos e detalhes.
- Sente-se aqui - Marta falou ao se sentar em sua cadeira, sinalizando a mão para que Emy ficasse ao seu lado. Já Isaac, ficou de pé, por mais que não tivesse tanta paciência.
A jovem Jones teve de fazer bordado de flores em algumas roupas, algo que ela gostava por mais que desse um pouco de trabalho. O tempo passava e o bordado ficava cada vez mais bonito, as rosas vermelhas pulando do tecido, junto de algumas flores brancas ao redor.
Sua atenção era grande, não querendo deixar nada passar, mas a voz de sua mãe a fez desviar os olhos.
- Oh, não - murmurou a mulher, cansada. - Isaac saiu. Emy, pode pegá-lo para mim? Preciso acabar urgentemente este trabalho.
Emily de bom grado, assentiu e deixou o tecido e a agulha de lado. Já estava há tanto tempo sentada na cadeira, que chegou a se sentir melhor quando se pôs a andar. Caminhando pelo chão de madeira da pequena casa, Emily procurou pelas portas dos fundos, imaginando ter sido por lá onde Isaac saíra sem ser visto.
Garoto inteligente, pensou.
Ao abrir a porta, o vento gélido chegou em seu rosto rapidamente. Estava protegida com um casaco, mas não lhe cobria muito o rosto, então a menina decidiu se encolher. Andando perto da casa de costura, Emily passava os olhos por todos os cantos. Nunca quis tanto achar o baixinho de calças listradas e suspensórios.
- Emy! Emy! - Ouviu a voz de quem, nem mesmo dormindo, deixaria de reconhecer.
Se virou ao som. Ainda perto da casa, em um beco um pouco escuro, lá estava o pequenino.
Mas não estava sozinho.
- Isaac! - Emy correu, da esquina onde estava, até ele sem saber se ficava feliz por tê-lo encontrado ou brava por ter sumido de repente. Ao se aproximar, seus olhos foram em direto encontro aos do irmão.
- Você está bem? - Perguntou em aflição. - Está machucado?
Por mais nervosa que Emily estivesse, Isaac era apenas sorrisos.
- Estou bem, estou bem! - Exclamava. - Esse moço bonzinho me ajudou! - O menino apontou para alguém ao seu lado. Emily ainda brigava com seu subconsciente, decidindo se levantaria ou não a cabeça. Por fim, olhou.
A nostalgia de tanto tempo voltou a sua mente como uma avalanche. Há 4 anos atrás... Naquele dia, em uma rua de Birmingham... Shelby.
Em todos aqueles meses teve tempo o bastante para ouvir muitas histórias sobre aquela família, onde a maioria era sua mãe que lhe contava. "O malvado senhor Shelby, o homem da máfia... Os famosos Peaky Blinders!"
Emily aprendeu a sentir medo deles, mas acima de tudo... Mesmo depois das histórias, se perguntava, lá no fundo, se veria mais uma vez aqueles olhos azuis.
E lá estavam. O par mais cintilante de todos. Bom, e aqueles olhos a encaravam com curiosidade. Ela viu o garoto dar um sorriso ladino.
- Sabe que não se deve deixar um garotinho sozinho por aí, não é?
Emily sentiu todo seu medo sumir, sendo substituído pela coragem de encarar profundamente o olhar pacífico do garoto à sua frente. Jones franziu o cenho, irritada.
- Eu não o deixei, ele fugiu! - Ela respondeu, mirando o olhar irritado ao seu irmão.
Deus, por quê?! Pensou ela desesperada. Por mais que tentasse desviar, seus olhos, em algum momento, voltavam até os daquele garoto. De alguma forma, mesmo que não quisesse, lhe eram tão... viciantes.
E - para seu alívio - realmente teve que olhá-lo quando o ouviu perguntar:
- Como se chama?
Foi assim que Emy reparou que Thomas usava as mesmas roupas que se lembrava. A camisa branca, os suspensórios, as calças curtas e as meias longas. Não podia lhe faltar com respeito, tinha medo do que poderia acontecer.
- Emily - falou, quase em um corte. Queria sair dali. Desesperadamente. Se sua mãe a visse falando com aquele menino...
- Emily... - O garoto fez tom para que completasse.
- Jones. Meu nome é Emily Jones - falou sem rodeios, como se quisesse o calar e não ter a chance de mais perguntas.
- Certo - ele deu um sorriso satisfeito. - Sou Thomas.
Emy abaixou os olhos. Sabia o sobrenome que ele levava consigo, não precisaria nem mesmo dizer.
Definitivamente precisava sair dali. Rápido.
- Tá legal, vamos, Isaac. Mamãe deve estar furiosa - Emily se apressou em segurar a mão do irmão e puxá-lo. Isaac que reclamava, chateado, por ter que se despedir de seu novo amigo, levantou a mão dizendo:
- Tchau, Tommy! - Dizia enquanto atravessavam a rua.
- Adeus, Jones! - Os dois sorriram, enquanto Emily de cara fechada se afastava junto a seu irmão.
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𝙊𝙨 𝙄𝙧𝙢𝙖̃𝙤𝙨 𝙎𝙝𝙚𝙡𝙗𝙮
FanfictionEmily Jones era apenas uma criança quando ouviu sobre os jovens irmãos Shelby. Após esbarrar com um deles, o aviso de sua mãe a fez repensar. Eles seriam maus? Tinham quase sua idade... Devia temê-los tanto assim? Bom, uma amizade - ou não - lhe tra...