Bônus Alec

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  • Dedicado a K
                                    

Mais um golpe de espada, apenas mais um e a cabeça nojenta e grotesca daquela Fúria rolou montanha abaixo. Odeio essas coisas!

Com o braço ferido, peguei o livro que vim buscar, eu tinha que sair rápido dali, antes que as irmãs daquela coisa, resolvessem vir atrás de mim. Não consegui fugir muito, logo ouvi aquele bater de asas demoníaco. As outras fúria vieram atrás da irmã.

Merda!

Tive que me enfiar num buraco entre as pedras, sorte minha já estar acostumado com os Vales do Inferno, mas, pelo jeito, eu ficaria um bom tempo ali. Usei minha capa para pressionar meu ferimento no braço, por ser um Anjo, logo me curaria, mas era um ferimento causado por uma Fúria, não poderia vacilar. Eu não pretendia passar tempo nenhum na enfermaria.

Teria que esperar amanhecer e poderia sair daquele buraco. Não tinha muito o que fazer, então vi o velho e pesado livro que guardava. Tinha ido busca-lo por ordem de Balthazar, deveria ser importante, mas nunca questionava o motivo, tinham me dado a missão, eu cumpria. Sem hesitação, sem perguntas, sem nunca falhar.

Então decidi olhar o livro melhor, o abri, que de mal podia acontecer?

Estava caindo, furiosamente, em velocidade tão alta que minhas asas queimavam. Me debatia, mas não havia onde me segurar. O impacto era inevitável.

O que tinha acontecido?

Tinha sido enxotado dos Céus, da minha propria casa sem ter o direito de saber o porque? Eles não tinham esse direito! Eu não tinha feito nada! Nada!

As nuvens passaram como um borrão, eu estava indo de encontro ao solo, daquele mundo inóspito e ridículo. De um povo atrasado e intolerante!

Não aceitava aquilo! Não podia estar acontecendo!

Minhas asas não me obedeciam, meu corpo se enchia de cortes, me sentia sufocado, não havia salvação!

Eu era um rejeitado, uma maldito Caído!

Ainda me debatendo, sem esperança nenhuma, me virei a tempo de ver o solo tão perto e se aproximando. Só tive tempo de fechar os olhos.

Acordei assustado, desnorteado.

Fazia um tempo que não tinha sonhos, eu nunca gostei deles. Olhei em volta, eu estava na casa de Edgar, no meu quarto. Julia dormia tão tranquila do meu lado, que fiquei com medo de acorda-la, mas tive que me sentar. Encostei na cabeceira da cama e comecei a observa-la.

Ela estava deitada de bruços, seus longos cabelos castanhos estavam espalhados pelo travesseiro. Seus rosto estava voltado para mim, tão serena, tão encantadora. . .

Minha fascinação por essa garota me assustava, cheguei a pensar que ela pudesse ser um tipo de bruxa maquiavélica, mas não. Era apenas uma humana normal.

Quando fui até aquela festa estupida, foi com o objetivo de me encontrar com Sly, um caçador das trevas que nunca perdia uma festa. Eu precisava conversar com ele, era uma coisa rápida e já iria embora daquele lugar. Mas então a vi.

Ela estava andando na minha direção, parecia brava com alguma coisa, porque nem me notou, acertou a cabeça no meu ombro e quase caiu. Edgar já tinha filosofado sobre como, um dia, eu me perderia nos olhos de alguém, nunca achei que, de fato, isso aconteceria. E muito menos que a dona daqueles olhos castanhos seria uma completa desastrada, tão nova e humana.

Não consegui me aproximar dela, não tive oportunidade e confesso que tive medo. Medo do que poderia acontecer. Até eu me chamei de imbecil, enfrento qualquer tipo de perigo, qualquer criatura das trevas, mas não tive coragem de ir puxar assunto com uma garotinha. Mas eu precisava encontrá-la, jurei para mim mesma que só precisava olha-la mais uma vez. Vê-la no seu cotidiano me tiraria essa "magia" que criei em volta dessa garota.

Falhei miseravelmente!

Eu andava por aquela rua imbecil, como um idiota, só para ter a chance de vê-la. Tentei me afastar, mas eu voltava, inevitavelmente eu voltava. Saí em missões, até encontrei com Mirella, uma outro Anjo Caído que eu alguma vezes já. . . vocês já entenderam.

Mas eu tive que voltar e nem foi minha culpa, não que eu não fosse voltar, mas não foi escolha minha, dessa vez.

Cori, o Anjo servo de Balthazar, meu antigo "chefe", me contratou para achar Damien, um vampiro oportunista que os tinha roubado. Eu não teria aceitado aquele serviço, na verdade, nem teria aceitado me encontrar com Cori se não fosse a insistência dele. Mas o nome de Damien me chamou a atenção, eu tinha contas a acertar com esse morceguinho exibido. Ele tinha armando um ataque contra mim e fugido, enquanto seus amiguinhos me atacavam. E, para melhorar, meu destino era a cidade onde ela morava.

Obvio que eu não esperava que aquilo fosse acontecer. Baixei minha guarda e Damien deve ter me visto. Não acho que ele tenha sido estupido o bastante para ir atrás dela, mas deve ter considerado um bônus ao descobrir que ia ataca-la.

Damien. . . só de pensar em seu nome minha raiva aumenta em níveis inacreditáveis!

Precisei sair da cama e comecei andar pelo quarto. Eu não mataria Damien, eu o torturaria cruel e vagarosamente. Ele pagaria extremamente caro por tudo aquilo! Ele nunca deveria ter se quer olhado para Julia!

Antes que ficasse louco, fui tomar banho. Com agua gelada para ver esfriava a cabeça.

Por isso que eu não queria toca-la, eu sabia, la no fundo eu sabia. Eu estava perdido na mão dela. Eu agia como um tolo, fazia promessas e o pior, eu sabia que faria até o impossível para cumpri-las! E por quê? Eu não sei!

Eu não sou assim, eu não confio, não crio intimidades!

Só existem dois seres no mundo com quem eu converso de verdade, Edgar e Li, uma sereia rainha que, nem eu sei dizer como, se tornou amiga. Acho que fui o único que não caiu em seus encantos, mas não posso dizer o mesmo de Edgar, se bem que ela não precisou usar magia nenhuma para te-lo.

Estou parecendo a Julia, divagando em assuntos aleatórios!

Essa garota estava me deixando louco! E o pior, se fosse para ficar com ela, eu aceitaria ser um demente, sem problema nenhum!

AngelusOnde histórias criam vida. Descubra agora