Por trás de seus olhos

Quando tudo começou

Os dias de Katherine LeBlanc vinham sendo incansavelmente longos, talvez pela ansiedade angustiante que lhe apertava o peito e lhe enchia o estômago de borboletas após o recebimento de um e-mail encaminhado pela revista Scarlet. Katherine havia recebido a confirmação de sua aplicação para um vaga de estagiária que não era de fato no departamento que gostaria, mas que já era o bastante para um começo, afinal, era a Scarlet, e isso já lhe enchia de sonhos e esperanças.

LeBlanc sempre fora uma jovem cheia de sonhos e pulsão para realizar o que quer, sua pretensão era e continua sendo ser escritora e, mirar na Scarlet foi o mais alto que já havia almejado, mas por mais impossível que tenha parecido no início, o universo resolveu lhe dar uma chance para um novo começo. A vida sempre lhe trouxera muitas surpresas e esta havia sido mais uma que ela abraçaria sem pestanejar.

Katherine vestiu suas melhores roupas, queria impressionar, mas ao mesmo tempo sem ser extravagante ou notável demais; optou por cores discretas mas com toques muito sutis vibrantes, como os pares de brincos dourados em formato de um rosto esculpido em linhas. Achava-os singulares, peculiares e estranhamente modernos, perfeitos para a nova estagiária de uma revista como a Scarlet.
Pegou sua bolsa, a agenda, um segundo caderno para anotações, as chaves do carro, respirou fundo e disse a si mesma "É isso aí, Katherine. O começo de uma nova vida. Não se esqueça de arrasar." saindo apressadamente na sequência, fechando a porta do apartamento e seguindo viagem até a Scarlet.
Ao chegar, maravilhou-se com a imensidão do edifício, três escadas rolantes levavam até um saguão que não parecia ter fim, com pessoas indo e vindo em seus ternos, vestidos, casacos e todo tipo de roupa que dizia "bem vindos ao universo Scarlet".

Katherine adentrou o elevador e a ansiedade começava a tomar conta de si, por mais controlada que estivesse tentando ser. As portas se abriram e a realidade, enfim, chocou-se com seu corpo.

- Meu Deus, eu estou aqui. Eu estou aqui!!! - Disse a jovem para si mesma, saindo do elevador quase saltitando.

Katherine aguardava na recepção por sua nova chefe, quando uma figura deslumbrante e impecavelmente bem vestida parou ao seu lado, olhou despretensiosamente até que o choque atingiu sua mente ao reconhecer a mulher, ninguém menos que a editora chefe da revista, Jacqueline Carlyle.
A jovem não arriscou dizer uma só palavra, mas para sua surpresa, sua presença não foi ignorada, pois Jacqueline fitou-a com um leve sorriso em seus lábios.

- Olá, você é escritora? - Questionou a editora.

- Ah.. e-eu... não, sou estagiária. E você... uau... é Jacqueline Carlyle. - pronunciou a jovem com um certo encantamento e admiração.

- Sim, sou eu mesma. E você é..?

- Katherine LeBlanc. A jovem apresentou-se rapidamente.

- Prazer em conhecê-la, Katherine. Bem vinda à Scarlet. Ah! E não é porque é estagiária que significa que não seja escritora. Para mim, tem cara de escritora. - A mulher sorriu e retirou-se logo em seguida, deixando a jovem estarrecida e em estado inerte pela sua presença, que despertou algo um tanto peculiar dentro dela, mas que não saberia nomear naquele momento.

O dia correu estranhamente rápido e Katherine já se sentia levemente exausta por perceber a dinâmica caótica de sua chefe, que não era nem um pouco como Jacqueline, nenhum sinal de simpatia e leveza, somente exigências e uma certa indiferença e rispidez. Apesar do cansaço, a jovem decidiu sentar-se em uma sala vazia para fazer o que lhe tirava do mundo e lançava num campo tão somente seu, escrever.

As palavras iam sendo colocadas no papel, uma enxurrada de sentimentos que precisavam ser despejados nas folhas e liberar Katherine dos pesos que não conseguia carregar sozinha. Permanecia focada e compenetrada na transmutação dos pensamentos e palavras, somente uma voz pode quebrar seu fluxo de escrita.

- Olha ela aí... Sabia que era escritora. - Disse a editora suavemente, com um sorriso largo e um brilho leve no olhar.

A jovem olhou-a docemente, mas não respondeu ao comentário, apenas observou, mas dessa vez com cuidado e calma, a mulher à sua frente.

- Quando chegar aqui amanhã, procure pela Lauren do RH, há uma vaga de escritora aberta, diga que eu indiquei você. - Jacqueline piscou levemente para a jovem e seguiu caminho.

Katherine sorriu desacreditada e empolgada ao mesmo tempo; de fato, era o começo de uma nova vida, melhor do que esperava e com ainda mais surpresas. Sentia-se, ao mesmo tempo, intrigada com a escolha de Jacqueline, pois mal a conhecia, como poderia saber que era uma boa escritora? Ou que seria a escolha ideal? Não achava respostas para tal ação, mas sentia-se grata e infinitamente feliz pela nova oportunidade. Mas principalmente pela, ainda inexprimível, sensação que começava a florir dentro de si ao olhar para a editora.