Jacqueline despertava lentamente, não por vontade própria, mas sim pelo barulho insistente de seu celular que não parava de tocar na mesa de cabeceira. A editora resmungou, mas esticou o braço para ver quem insistia tanto em incomodá-la aquela hora da manhã; fitou a tela do celular com os olhos semicerrados, dando-se conta de que já eram quase 10h da manhã, o corpo saltou da cama em um impulso premeditado, fazendo-a chocar-se com o outro corpo que repousava ao seu lado, naquele momento Jacqueline se deu conta do que havia ocorrido na noite anterior e que aquele corpo ao seu lado não era de seu marido, mas sim de Katherine.
Jacqueline permaneceu imóvel e os flashes da noite anterior começaram a surgir em sua mente, fazendo seu estômago formigar pelas sensações recém vividas junto da jovem. Não podia acreditar que havia passado a noite com a escritora, uma de suas funcionárias e tão jovem, por sinal.
Não conseguia decidir se o sentimento era de arrependimento ou de satisfação, sentia um medo estranho, mas ao mesmo tempo sentia um calor interno, uma pulsão de vida, como não sentia há tempos.
Dissipou os pensamentos e optou por acordar a mais nova, que não parecia querer despertar tão cedo, depositou uma mão delicadamente afastando seus cabelos do rosto e sussurrou seu nome em tom baixo, mas suficientemente audível.- Katherine... acorde, querida. Estamos atrasadas.
A jovem suspirou, tentando localizar-se naquele espaço-tempo, que ainda não havia se dado conta de que era ao lado de Jacqueline Carlyle, em sua cama. Os olhos abriram lentamente e os braços se espalhando pelos lençóis, esbarrando nas pernas seminuas de sua chefe; o toque foi suficiente para despertá-la por completo e perceber de quem se tratava. Katherine sentou-se imediatamente, puxando o lençol branco sobre seu corpo que ainda estava nu, fitou Jacqueline com olhos de surpresa, levemente assustada, sem saber exatamente o que dizer naquele instante.
- Eu sei... temos muito o que conversar. Não fique assustada. - disse a editora, percebendo o olhar perdido da jovem. - Podemos conversar no caminho para a Scarlet, precisamos ir. - a mesma disse-lhe acariciando seu rosto em um gesto terno, levantando-se logo em seguida.
Katherine permaneceu imóvel, agora era ela quem revivia os flashes de seus corpos emoldurados sobre aquela cama na noite anterior, fechou os olhos em breves segundos e sentiu a garganta secar, o beijo de Jacqueline e o toque suave de sua pele sobre ela era a sensação mais prazerosa que já havia sentido, queria eternizar aquela noite em seus pensamentos, por mais inacreditável que aquilo parecesse naquela manhã.
- Katherine, vamos! Você ainda é escritora da Scarlet, já estou terminando de me arrumar. Tome um banho rápido, deixo uma toalha limpa para você no banheiro. - a jovem apenas assentiu e correu para o banheiro para se arrumar o mais rápido que conseguisse, seguindo as ordens da mulher que lhe roubou o fôlego, mas ainda era sua chefe.
Quase 40 minutos depois ambas se encontravam no carro de Jacqueline a caminho da revista, o silêncio era audível dentro do carro e nenhuma das duas sabia como iniciar aquela conversa, havia uma tensão palpável entre seus corpos que se misturava a um receio que dizia "será que ela se arrependeu?".
- Jacqueline...
- Katherine...
Ambas pronunciaram no mesmo instante, tirando um riso singelo daquela situação. Olharam-se docemente e perceberam que a angústia era recíproca, mas eram adultas e precisavam daquela conversa.
- Tudo bem, você primeiro. - disse a editora.
- Bem... na verdade, eu nem sei muito bem o que dizer, Jacqueline. Não sei se te peço desculpas e digo que isso nunca mais vai acontecer ou se eu te agradeço por ter me dado uma das noites mais maravilhosas que já tive. - a jovem disse encarando as próprias mãos.
- Katherine, eu compreendo. Acredite. Também não sei exatamente o que dizer, mas de uma coisa tenho certeza: não vou lhe pedir desculpas por ter me tocado com tanto desejo e não vou pedir desculpas por ter desejado muito aquele momento. - a editora disse com sinceridade, alternando entre observar a rua e olhar para a jovem. - Você... Katherine... me deu algo que há tempos eu não tinha. Se está se sentindo culpada por conta do meu marido, saiba que somos mais amigos do que casal. Eu te disse, não sou quem você pensa e nem minha vida é como você imagina.
A jovem respirou fundo pensando em como responder àquelas palavras, mas sentia-se aliviada de certo modo. - Bem... eu acho que fico feliz que você não se arrependa, isso me tranquiliza um pouco. Você é uma mulher incrível, Jaqueline... você é tão.... linda... tão.... nossa! Gostosa. Desculpa, mas isso é o mais sincera que consigo ser agora. - a escritora enfim olhou-a nos olhos, percebendo o sorriso de canto da mais velha, que lhe parecia profundamente sedutor naquele momento.
- Você também é, Katherine. Não imagina o quanto.
Jacqueline estendeu sua mão esperando a jovem entrelaçar seus dedos, não disse nada, deixou que suas peles conversassem naquele pequeno gesto de tocar de mãos e dedos, o que havia por trás de seus olhos falava mais do que seus lábios poderiam transmitir naquele instante. Que sentimento inesperado, que noite inusitada e que vontade de repetir aquilo novamente. Nenhuma das duas sabia se aquilo seria possível, mas seu corpos gritavam em desejo, seus poros emanavam a necessidade de envolver-se outra vez naquele gesto íntimo que prenunciava longos sentimentos que já nasciam.
O caminho, silencioso, era seguido do embalar de uma canção que também refletia o indizível em seus tão recentes corações pulsantes."Você poderia me ter tão facilmente se quisesse..."
Darling, I'd wait for you
Darling, I'd wait for you
Even if you didn't ask me to
Tie a lasso round the Moon
And bring it on down to youI'd bottle the feeling you give me
And shelve that stuff for years to come
'Cause, baby, when your arms are around me
I'd swear that I'm holding the SunI'd give you the Sun, if you asked me
You could have all of the time
You could have the stars, and the trees
When dividing up the universe, you could have mineYou could have mine
Darlin', I wish that you
Could give me some more time
To herd the whole sky in my arms
And release it when you're mineI'd tell you: I thought I loved you too
I just didn't have the words to say
I'd put the piece in your backyard
In hopes to be enough for you to stayI'd give you the Sun, if you asked me
You could have all of the time
You could have the stars, and the trees
When dividing up the universe, you could have mineYou could have mine
You could have mineI'd give you the Sun
I'd give you the SunI'd give you the Sun, if you asked me (I'd give you the Sun)
You could have all of the time
You could have the stars, and the trees (I'd give you the Sun)
When dividing up the universe
You could have mine
You could have mine
You could have mine(...)
*****
A letra dessa música é linda e cheia de significados subjacentes que vão representar muita coisa depois, recomendo que busquem a tradução e sintam o afeto das palavras. ❤️
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Por trás de seus olhos
Fiksi PenggemarJacqueline Carlyle é editora chefe da Revista Scarlet, uma grande influência no mundo jornalístico. Uma mulher que inspira coragem e luta por aquilo que acredita, sem medo de correr riscos. Mas os dias da editora estariam prestes a mudar após a cont...