Jacqueline acordara aquela manhã mais disposta do que nos últimos dias, já podia perceber uma melhora considerável em suas dores físicas e mobilização, as costas já não prenunciavam travar ao tentar se agachar, apesar de ainda resvalar algumas pontadas agudas nas tentativas. O braço podia considerar-se quase cem por cento recuperado, sentia-se imensamente aliviada de finalmente poder fazer suas próprias coisas, mas principalmente sua higiene pessoal. Não que não fosse bom ter Katherine ali cuidando de si com tanto desvelo, mas era imensamente mais confortável poder escovar os próprios dentes, lavar o próprio cabelo e, quanto ao corpo, poderia repensar se era melhor fazer aquilo sozinha ou ter as mãos da jovem escritora passeando por toda sua extensão corpórea; refletiu e, de fato, as mãos dela eram melhores em si do que as suas próprias.
A editora havia acordado antes da jovem, saiu do banheiro de banho tomado e o perfume de seu corpo recém lavado inundou o quarto onde a mais nova repousava em um sono leve e recompensador, era possível ouvi-la ressonar baixinho como um gato ronronando, a mulher de cabelos loiros sorriu ao vê-la ali tão singela disposta em seus lençóis, a paisagem era deveras mais bonita do que a que estava habituada, não se dava por observar Giorgio ressonar, até porque ele não ressonava, roncava como um porco no abate e apesar de quieto na cama ainda parecia ocupar espaço demais. De fato, Jacqueline percebia a cada mínimo gesto, situação e momento que há tempos não era feliz naquele casamento e não percebia.
A dor é sorrateira, não para chegar, sabemos exatamente o momento em que ela nos atinge em cheio, mas a forma como ela nos toma e se torna parte de nós, esse é o enigma que nunca saberemos desvendar.
A mulher afastou os pensamentos sobre o passado e deixou-se capturar pelo presente que lhe enchia os olhos e o coração, não havia outra coisa que deveria ocupar sua mente naquele momento além daqueles cabelos escuros e aquela pele alva que quase brilhava à luz do sol, nada além daquele afeto que transbordava daquele corpo e se derramava no seu próprio. Abriu as cortinas devagar para que a luz que vinha de fora não a incomodasse, sentou-se ao seu lado na cama e com a ponta dos dedos afastou os cabelos que lhe cobriam a face, aproveitou o gesto para acariciar suas bochechas e depositar um beijo afetuoso ali. Sussurrou:
- Querida, acorde! – sorriu vendo o vinco se formar na testa da escritora, prenunciando sua insatisfação em ter que levantar-se. – Não faça bico, meu bem. Te acordei mais cedo para tomar café comigo antes de ir para a Scarlet.
- Hum... queria dormir mais um pouquinho. – Moveu-se na cama virando-se para Jacqueline, deitando a cabeça em seu colo e envolvendo sua cintura com os braços.
- Não sabia que você era dengosa assim, dona Katherine. – Riu baixo e afagou os cabelos que se espalhavam por suas costas e cama. – Vamos, você prefere que eu te ajude a se vestir ou faça café da manhã para nós duas? A Ivana não vem hoje.
- Café, por favor... café! – Murmurou em tom abafado pelo abraço.
- Tudo bem, farei o café e você levanta pra ir tomar um banho e se vestir, está bem? – desalinhou-se do corpo da mais nova que contestou, mas aceitou.
Pouco mais de quinze ou vinte minutos depois Katherine já havia finalizado sua higiene matinal, vestiu-se da maneira casual chique que costumava para ir trabalhar; aquela manhã optou por uma camiseta branca de botões de pérola, uma calça de alfaiataria preta mais justa ao corpo e um par de scarpins cor de rosa claro; a jovem adorava roupas neutras com pontos de cor, costumava colocá-los nos sapatos, bolsas ou joias, tinha um senso de estilo considerável apesar de não ser escritora de moda. Seu perfume também era marcante e assim que adentrou a cozinha a editora pode perceber que ela já estava ali, virou-se de imediato para deparar-se com aquele corpo, que lhe era objeto de desejo, muito bem colocado dentro daquelas vestes.
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Por trás de seus olhos
FanficJacqueline Carlyle é editora chefe da Revista Scarlet, uma grande influência no mundo jornalístico. Uma mulher que inspira coragem e luta por aquilo que acredita, sem medo de correr riscos. Mas os dias da editora estariam prestes a mudar após a cont...