Eu não vou te abandonar

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Jacqueline dormiu por quase 48 horas, seu corpo doía ainda que os remédios corressem por suas veias durante toda a noite, acordou uma única vez chamando por Camille, mas pela dosagem das medicações acabou adormecendo novamente. A filha foi a única que permaneceu no hospital, passando as madrugadas ao seu lado enquanto segurava sua mão, vendo-a contorcer-se vez ou outra em meio ao sono; era uma angústia da qual nunca havia sido alvo antes, sentia-se profundamente vulnerável ao ver a mãe naquele estado, era doloroso até para ela assistir seus gemidos que vez ou outra escapavam quando tentava se movimentar. Giorgio não acompanhou a filha e muito menos a esposa, permaneceu no hospital na primeira noite, mas não retornou pois alegou precisar trabalhar.

- Pai, por favor! Eu preciso ir em casa pegar umas roupas e tomar um banho, não posso passar mais uma noite aqui, preciso estudar para a prova da semana que vem. – Dizia Camille em um sussurro ao telefone para não acordar a mãe.

- Filha, eu não tenho como. Não há um ser competente aqui pra me substituir. Converse com o pessoal do hospital, avise que estará fora por algumas horas.

- Você é inacreditável. Não vou deixar a mamãe sozinha, ela acabou de sofrer um acidente. Nem assim você consegue fazer a coisa certa? – quase gritou, desligando a chamada em seguida.

A jovem passou as mãos pelo rosto e deu um suspiro cansado, não sabia da traição do pai, mas desconfiava, não era mais uma menina e tinha plena noção de que seus pais já não eram mais um casal há muito tempo. Pode presenciar muitas das noites em claro da mãe, chorando em silêncio para não a acordar; mal sabia ela que todas essas noites Camille também passou em claro, queria abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem, mas nunca se permitiu invadir esse espaço da mãe, deixou que ela escolhesse o momento certo para falar, mas esse momento nunca chegou, ela queria preservar a filha a todo custo, mas não preservava a si mesma. Tudo que Camille queria era que a mão tomasse coragem logo e se separasse de seu pai, que ela amava, mas sabia que não era um bom marido. E ela a apoiaria, no que quer que fosse.

- Filha...? – uma voz ressoou quase como um sussurro, tirando a jovem de seus pensamentos.

- Mãe! – virou-se para fitar a mulher que abria os olhos devagar com um vinco na testa que já denunciava algum desconforto.

- Estou com sede. – disse com a voz rouca. – a jovem imediatamente pegou o copo no aparador junto de um canudo, posicionou-o nos lábios da mulher que efetivamente parecia estar com muita sede.

- Como está se sentindo?

- Hum... dor... um pouco de dor. – Ajeitou-se devagar no leito.

- É tão bom te ver acordada, mãezinha... Eu fiquei tão preocupada. Tive tanto medo... – A jovem acariciava os nós dos dedos da mãe com os olhos marejados.

- Minha menina... eu estou bem. Está tudo bem agora. – Sorriu leve. – Camille, eu ouvi sua conversa com o seu pai.

O sorriso nos lábios da jovem sumiu. – Mãe... não queria que tivesse escutado o papai sendo um babaca logo após você sofrer um acidente.

- Não fale assim do seu pai, Camille. – disse levemente mais séria.

-Ele é um bom pai, mãe. Eu o amo..., mas ele é um babaca com você, me desculpe. – Protestou, escorando na poltrona.

- Certo. Falamos sobre isso em outro momento. Quero que vá para casa, agora. Precisa descansar e estudar, está bem? – ordenou.

- Mas eu não vou te deixar aqui sozinha. Não mesmo. – Cruzou os braços observando o rosto da mulher que a encarava.

- Não ficarei, querida. Pode ir, descanse. Eu ficarei bem, prometo.

- Se não ficará sozinha, vai ficar com quem? – a questionou e no mesmo instante um clarão lhe veio à mente, fazendo-a arquear as sobrancelhas e abrir levemente os lábios e acenar na sequência. – Ah... a Katherine, não é?

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