O primeiro gesto

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Jacqueline havia reorganizado sua agenda aquela manhã após o pequeno acidente envolvendo Katherine. Se sentira profundamente culpada e ainda que a jovem tivesse lhe garantido estar bem, não saia da cabeça da editora a imagem da jovem ao chão e a sensação inesperada que sentiu diante daquele instante. Era estranho demais para Jacqueline não saber dar nome ao que sentia, sempre fora muito bem resolvida emocionalmente, possuía uma inteligência emocional invejável, mas desde que a jovem escritora entrou na revista, Jacqueline se sentia inexperiente emocionalmente diante da mesma, se vendo como nunca antes, perdendo o senso das emoções.

Katherine estava sentada em sua mesa, rodeada por papéis, catálogos da Scarlet, um copo de café já frio e o computador com três linhas escritas de um artigo que há deveria ter sido finalizado. A escritora também tinha algo ocupando sua mente aquela manhã e não eram ideias para finalizar sua escrita. Em sua mente pairava a imagem de Jacqueline correndo ao seu encontro, as pupilas dilatadas ao vê-la ao chão, as mãos trêmulas; olhá-la naquele instante lhe deu a sensação de poder sentir as batidas descompensadas de seu coração que, por mais um pouco, saltaria para fora do peito. A jovem sentiu o olhar de desespero da chefe e o toque receoso, no entanto cuidadoso, ao tocá-la, relembrou a sensação de suas mãos envolvendo sua cintura, segurando firme enquanto a própria tentava se ajustar e voltar a caminhar. Seria estupidez demais pensar que aquele momento foi um grande gesto? Não que Katherine quisesse ser atropelada, pensava consigo mesma que isso seria um grande absurdo, mas ao mesmo tempo havia uma dualidade dentro de si que a fazia crer que sem aquele pequeno acidente, não veria Jacqueline olhá-la com aqueles olhos.

Os pensamentos da escritora foram cortados pela voz aguda e despretensiosa de Andrew, anunciando que a editora gostaria de conversar com ela em sua sala. Katherine despertou de seus pensamentos, levantando-se com um certo desconforto, percebeu que poderia ter torcido um dos tornozelos ao cair, mas seguiu firme, não queria que Jacqueline se sentisse ainda mais culpada.

- Oi, Jacqueline! Gostaria de falar comigo? - disse a mesma ainda na porta do escritório.

- Oi, Katherine! Entre, por favor, querida...

Katherine sentiu um leve arrepio no estômago ao ouvir a doçura com a qual a editora pronunciou aquelas palavras. "Querida..." ela ainda não havia a chamado assim. Seria uma forma de ser gentil pelo atropelamento? A mulher de cabelos pretos se questionava cada vez mais.

- Venha, sente-se aqui no sofá. É mais confortável e você pode descansar um pouco. - a editora levantou-se e direcionou-a até o sofá que ficava próximo à janela.

Katherine apenas assentiu, sentando-se logo em seguida, no entanto, não conseguiu disfarçar a feição de incômodo quando os pés voltaram a ficar imóveis, parecia que o sangue estava esfriando e a dor, finalmente, atingira seu corpo. Jacqueline percebeu e em um gesto puxou a corda das percianas, cobrindo toda a sala de vidro e impedindo a visão de quem estivesse fora de sua sala. Não disse uma só palavra. Abriu o armario grande à esquerda de sua mesa e tirou uma caixa que parecia ser de primeiros socorros, então voltou-se para Katherine e sentou-se ao seu lado gentilmente.

- Sei que esta com dor. Por que não me deixou levá-la ao médico? Estou tão preocupada, Katherine. Me sentindo tão culpada... - pronunciou sem olhá-la nos olhos, de cabeça baixa, revirando a caixa em busca de algo.

- É só um pequeno incômodo, você não precisa se preocupar. Talvez uma pequena torção, nada tão absurdo. Não se sinta culpada, Jacqueline, acidentes acontecem e você não fugiu. Ficou lá e me ajudou com muito cuidado.

- Ainda assim... continuarei preocupada até que esteja de fato bem. Tome. Esse analgésico é um dos melhores, ao menos te deixará aliviada diante da dor. - disse, entregando os comprimidos para a jovem junto a um copo de água.

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