Prólogo

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A tendência autodestrutiva humana deixara de a surpreender desde sua mais tenra idade. Sangue era derramado pelos motivos mais supérfluos, inimigos feitos apenas por puro orgulho e necessidade de se auto-impor. A maior fraqueza da humanidade sempre foi e sempre será não saber reconhecer a fragilidade de seus corpos delicados e a força de sua união capaz de transformar areia em aço.

Os humanos levarão à degradação de sua própria raça.

A criatura não tinha pressa ao caminhar entre os humanos afobados, alheios à presença da mais pura crueldade que aguardava pacientemente pelo momento em que todos iriam se ajoelhar aos seus pés, gemendo e implorando para que ela os salvasse.

Ela os despedaçaria por tamanha fraqueza.

Obrigando-se a mandar os pensamentos para longe, a criatura se concentrou na missão prestes a ser realizada. Fora escolhida em meio a tantos outros, se elevara sobre os fracos e os menos poderosos, agora seria o momento de gritar ao mundo sobrenatural que nenhum deles a poderia derrotar. Nem Guardião, nem fada e nem ninguém poderia se tornar um combatente à sua altura. Todos seriam mortos antes disso.

Os portões de vidro escuro se ergueram em sua linha de visão, uma fachada ostentando o lobo uivante para a lua e protegendo um dos lugares com mais influência sobrenatural do país exatamente sob o nariz dos vermes humanos. Ela sorriu ao se aproximar, roçando as unhas sob o vidro que ostentava o nome do local.

Toca do Lobo.

Eles não perceberam quando a criatura atravessou suas proteções; nem mesmo as sentinelas que vigiavam o local notaram que a escuridão havia entrado no recanto que, naquele momento, era um lar seguro e longe dos conflitos do mundo, tanto mortal quanto sobrenatural.

Lobos descansavam nas pequenas praças cuidadosamente preservadas, balançando suas caldas enquanto os menores da matilha riam e pulavam uns sobre os outros, uivando e rugindo de formas infantis e ridículas. Algumas das crianças mais velhas jogavam um esporte humano qualquer, correndo em meio aos gritos e risadas atrás de uma bola surrada. Adolescentes implicavam uns com os outros enquanto batiam suas mãos no tampo de uma mesa, animados com o jogo de cartas em suas mãos.

— Que fofo.

A criatura sorriu ao parar no meio da rua, soltando uma leve risada ao perceber que seu parceiro estava mais do que certo ao lhe afirmar que ela se recordaria de suas palavras quando estivesse prestes a exterminar um dos maiores aliados dos Guardiões, destruindo toda e qualquer confiança que as criaturas sobrenaturais pudessem ter naqueles fracos herdeiros.

— E por que eu deveria fazer algo assim?

Ela havia perguntado à ele, despreocupada com os arfares que alguns dos servos do líder Buscador dera com tamanha falta de cortesia. Ele precisava dela tanto quanto ela precisava dele.

— Porque nós vamos garantir que os Guardiões caiam por terra.

Ele sorrira de forma demoníaca, caminhando ao seu redor como alguém que sabe que iria governar o mundo.

— Nós os destruiremos de dentro para fora...

A criatura ainda ouvia as palavras do Buscador quando abriu os braços, fixando os olhos mortais sobre a loba de pelo claro que permitia alguns filhotes trançarem seu pelo. Priya.

— Os Guardiões são fracos, dependentes demais dos laços emocionais.

Rugidos e guinchos soaram ao seu redor e alarmaram aos integrantes da matilha Lua Negra. Em segundos estavam em posição, rosnando para o ambiente ao redor deles sem que pudessem vê-la.

— Não conhecem suas habilidades e não imaginam que um é inútil sem o outro. Nós destruiremos sua confiança, quebraremos seus espíritos e mataremos qualquer chance que eles possam ter de nos derrotar.

A criatura sorriu quando os portões de vidro escuro caíram e a invasão começou. Ela havia destruído qualquer chance de defesa que os lobisomens poderiam ter, assim nada impedia que os demônios e bestas entrassem na Toca do Lobo.

— Tudo começou com a morte daquele celi lobisomem e o próximo passo deverá ser com a mesma espécie.

Gritos de desespero começaram a soar pelo ar. Fogo se ergueu das casas, incendiando qualquer lugar que eles achassem que poderiam se esconder. Carne queimada, sangue fervente e fumaça de desespero inundou seu olfato como a um suave perfume invernal.

— Seus aliados se tornarão inimigos e seus inimigos se unirão a nós.

Ela sorriu quando seus olhos pousaram sobre Damon, o alfa negro como a noite; ele estava furioso ao se lançar sobre um sangríneo que cercava um grupo de filhotes assustados. Priya, sua companheira, lançou-se sobre eles, protegendo-os e os guiando para um local seguro. Não que restasse algum lugar seguro.

— Os Guardiões estarão sozinhos, não confiarão uns nos outros, e a ruína caíra sobre eles. 

Alma NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora