Capítulo 14

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Elfee permanecia a mesma na superfície, mas diferente de formas mais profundas. As decorações destruídas da comemoração da milésima metamorfose de Araceli foram retiradas e as ruas foram limpas; animais pastavam pacificamente nas áreas gramadas e o costumeiro som do bater de asas se misturava aos sons da cidade sobrenatural em pleno meio de dia.

Estavam avançados no outono àquela altura, a climatização controlada pelas fadas, ninfas e faunos da tribo dos naturais comprovava o fato. A temperatura era mais fria e as árvores perderam muitas de suas folhagens, restando folhas laranjadas e marrons penduradas nos grossos galhos. Rose, por um momento, imaginou como deveria ser a cidade quando observada de cima. Sabia que as fadas e demais habitantes presavam por diferentes biomas e que respeitavam cada um deles em sua individualidade. Elfee fora projetada para ser uma cidade onde o mundo fosse refletido e, dependendo do caminho que você tomasse, descobria como era fácil atravessar uma viva e úmida floresta tropical e chegar a um quente e seco deserto com suas plantas espinhentas e animais rastejantes. Elfee era a Terra dentro da Terra.

Claro que sem internet, poluição de qualquer tipo ou humanos.

Bem, muitos humanos. Rose tinha certeza de que já cruzara com um ou outro quando saia das Oficinas ou almoçava no Ceroulas.

Cara, como ela sentia falta de uma refeição decente do Ceroulas.

A refeição, contudo, teria que esperar mais algumas horas. Os meses perdidos no seio do Vale de Mion haviam passado na cidade das fadas também, considerando os olhares abismados e misturados com preocupação ou indignação que eles recebiam conforme seus cavalos trotavam para longe do portal de entrada em Elfee. Rapidamente, eles foram cercados por cidadãos solícitos que os ajudaram a desmontar e levaram seus cavalos para os estábulos, prometendo-lhes que cuidariam bem deles.

A celi tinha certeza de que eles estavam mais preocupados com os animais do que com os celis, mas não pode deixar de lançar um olhar cauteloso para Tyon, seu cavalo, o qual lhe fez o favor de lhe dar uma boa mastigada em seu cabelo antes de se permitir ser levado.

Cavalo bocó.

Ela lhe levaria algumas balas de menta depois.

— Princesa, você está bem? — Daniel lhe perguntou, passando o braço por sua cintura e a encarando com aqueles malditos olhos cinzentos que lhe enviavam borboletas no estômago.

— Estou bem. — Ela sorriu, ficando na ponta do pé para lhe dar um selinho suave. — É estranho ver tantas pessoas depois de ficar no meio do nada.

Ele assente, olhando ao redor e pressionando levemente a base de sua coluna para que ela começasse a andar. Os outros já estavam bons passos a frente.

— Está prestes a ficar mais animado.

Daniel diz depois de alguns instantes, os olhos estavam fixos em um ponto vários metros acima de suas cabeças, contra o Sol. Rose rapidamente identificou a sombra de grandes asas bloqueando a luz, mas o resto da figura nada mais era do que uma silhueta difícil de ser identificada. Por um momento, invejou os poderes de sombra e luz de seu namorado, tinha certeza de que ele conseguia ver sem nenhum desconforto a pessoa que se aproximava.

— Finalmente. — A figura disse ao mesmo tempo que pousava, as asas azuis de uma borboleta monarca suavemente balançando atrás de si. — Vocês estão vivos. — Disse com alívio a Rainha Araceli, abrindo-lhes um sorriso radiante.

— Não sem muito esforço. — Disse Thomás em um tom bem-humorado, aproximando-se deles enquanto mastigava um bolinho de favo de mel. Rose já havia desistido de entender de onde ele retirava suas comidas, principalmente ao considerar o grupo de ninfas risonhas a alguns metros.

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