Alma Negra

Capítulo 12

Elfee

Os cientistas há anos estudam a profunda influência da lua sobre diversas áreas da vida terrestre. O satélite natural do planeta Terra é responsável por mais do que a simples mudança das marés e o tamanho das ondas; na realidade, o poder do astro é tão poderoso que mesmo a agricultura e os animais dependem de seu ciclo, assim como existem culturas que acreditam que a lua interfere em aspectos – tanto banais quanto extraordinários – da vida; como nos meses gestacionais ou nos diferentes cortes de cabelo.

Não é de conhecimento exclusivo dos seres sobrenaturais a ligação profunda que os lobisomens possuem com a lua, em especial quando, em sua fase lunar, o satélite se encontra no ápice de seu poder. Os mitos antigos acreditam que as transformações dos lobisomens são acionadas quando a lua cheia surge no céu, tornando-os feras perigosas que matam, dilaceram e deixam destruição por onde quer que passem. Os licantropos se tornaram criaturas a serem temidas e caçadas; as culturas incentivaram o uso de substâncias como acônito e prata para sua erradicação, principalmente quando era a temida lua cheia, o momento em que os lobos saem da toca. Mas, dificilmente, as histórias são contadas corretamente e com todos os fatos quando passadas de uma pessoa a outra.

É fato verídico que lobisomens se ferem com prata e que acônito os faz passar extremamente mal, mas a lua cheia não tira a sanidade e nem os transforma em bestas prontas para matar. Na realidade, as transformações dos lobos ocorrem quando eles quiserem, no instante em que quiserem e no lugar que quiserem. A mordida de um licantropo transmite a transmutação e a única transformação que realmente é afetada pelo ciclo lunar é a primeira, quando a transformação é ativada pelo poder contido no satélite. Durante o resto de suas vidas, como ocorre com diversos animais, o ciclo lunar apenas interfere em seu temperamento, tornando-os mais sensíveis aos instintos lupinos e menos propensos aos limites impostos por suas humanidades. Lobos que em geral são calmos e mansos podem se sentir ameaçados facilmente quando a lua cheia brilha em seu apogeu, mas nenhum ser licantropo perde a noção do que está fazendo ou se transforma em uma besta assassina de quatro patas.

Contudo, esse tipo de crença não surgiu por falta de motivação. As antigas alcateias tinham um costume chamado Tributum Lunae. Como muitos costumes humanos, não havia um único licantropo que não ansiasse o momento em que participaria de um dos momentos mais sagrados para os lobisomens.

O Tributum Lunae era uma espécie de caçada realizada especificamente na lua cheia; ura um momento de se permitir libertar os instintos que constantemente precisavam segurar. Uma noite inteira para viver sobre quatro patas, livres das correntes e das algemas impostas para que eles pudessem viver em sociedade. Era uma noite de purificação, onde uivavam para a lua como forma de se despedir de seus companheiros que iniciariam sua caçada junto à Lua. O Tributum Lunae os permitia uivar e chorar por seus mortos, assim como a correr e caçar por seus vivos.

Damon se recusara firmemente a voltar ao ócio em uma cama na enfermaria, insistindo que um alfa deveria estar cuidando da alcateia e não se recuperando em meio ao luxo e aos mimos; poderia se recuperar tão bem entre os seus quanto entre os curandeiros de Elfee. Priya, mais do que firmemente, discordara, mas bastou sair de perto de Damon uma vez para que ele se aproveitasse da situação e saísse na surdina. Quando ela o encontrou, o alfa apenas lhe dera um sorrisinho culpado e dissera que ela poderia lhe dar o troco depois.

— A fogueira está pronta? — Perguntou ele à companheira, observando com um falso sorriso os poucos que restavam de sua alcateia.

O choque inicial de ver tão poucos do seus ainda demoraria a passar, mas Damon não permitiria que aqueles poucos vissem o quão desolado ele estava. Precisava ser forte pelos que cansaram de ter forças.