Alma Negra

Capítulo 19

MERCADO DOS PEIXES

O sol brasileiro sempre possui a capacidade de estar incrivelmente quente mesmo nas estações mais frias, mas a brisa vinda do oceano que lhe refrescava a face tornava o ambiente levemente agradável, mesmo que o cheiro forte de peixe e algas podres a fazim torcer o nariz. A peruca preta que usava para esconder os cabelos dourados pinicava e o antebraço ardia no local onde escrevera o feitiço que impedia que outros a localizassem. A capa, enrolada de forma extremamente organizada dentro da mochila seria retirada assim que Cassandra chegasse ao local que pretendia, um que facilmente seria reconhecida se não tomasse extremo cuidado.

O Mercado de Peixes, carinhosamente apelidado assim por algum motivo que apenas os fundadores sabem, era um antro de contrabando de magia, segredos e qualquer coisa mais que precise e não possa ser encontrado nas comuns e sem graça lojas humanas. Lá era possível se encontrar qualquer pessoa ou qualquer coisa pelos longos e intermináveis corredores de barracas que se estendiam por quilômetros e quilômetros de cavernas subterrâneas. Cassie nem mesmo tinha certeza se o Mercado dos Peixes se instalara apenas em cavernas sem fim, até onde sabia, ele podia muito bem se abrir para o topo de uma montanha ou ter uma entrada submarina. O fato era que o local, parecido com um mercado das pulgas humano, não era visitado apenas por seres suspeitos e procurados, mas também por seres inocentes, humanos perdidos e qualquer um que precise de algum dos serviços das longas barracas. Mas o que realmente lhe importava era que tinha certeza que encontraria o que precisava lá dentro, talvez mais, mas também se arriscava ao se embrenhar no meio da multidão de seres mágicos que a qualquer momento poderia cuspir uma horda de buscadores em sua cabeça.

A entrada, ao menos a única que conhecia, era atrás de uma banca de flores guardada por uma fada com asas de libélula, seu nome era Gerlane. Os cabelos desbotados pelo Sol estavam presos em um rabo de cavalo e usava um vestido florido na cor verde, o qual destacava as curvas do corpo gordo e contrastava contra o bronzeado de sua pele. A fada não levantou os olhos do arranjo de flores que preparava quando Cassie se aproximou, mas sua postura se enrijeceu enquanto retirava uma margarida do lugar e a substituía por um ramo de mosquitinhos.

- Gerlane? - Cassie chamou, mordendo o lábio ao olhar rapidamente ao redor e retirar os óculos escuros.

- Sabe, vai precisar demais do que apenas uma peruca e óculos escuros para não ser reconhecida, Cassie. - Gerlane respondeu, arrumando a postura ao se dar por satisfeita com o arranjo e o colocar em uma das prateleiras da banca.

Não era intenção de Cassie suspirar tão alto, mas não pode evitar o fazer quando o alívio de ter sido lembrada pela fada lhe alcançou.

- Você se lembra de mim. Que bom.

- Claro que me lembro. Nunca esqueci um único rosto que tenha atravessado minha porta. - Disse com um pequeno sorriso, porém ele logo foi substituído por uma feição preocupada quando seus olhos escrutinaram os arredores antes de se fixarem em Cassie. -Aconteceu alguma coisa?

Cassie balançou a cabeça, negando ao se aproximar de um vaso cheio com flores de lavanda. O coração apertado e um nó em sua garganta a lembraram que muito havia acontecido, até demais, mas precisava focar em uma coisa de cada vez.

- Acho que já deve estar ciente do principal. Podemos conversar em um lugar mais... privado?

Gerlane a olhou por alguns instantes antes de assentir e se virar para a parede atrás de si, puxando levemente um vaso específico que abriu uma espécie de porta de pedra, a qual as duas rapidamente a atravessaram.

- Ouvi muitas coisas nos últimos meses, desde a última vez que me visitaram. - Disse a fada após fechar novamente a porta atrás de si.

Estavam em uma pequena caverna circular, em um dos lados uma passagem completamente escura escondia uma das entradas para o Mercado dos Peixes. Cassie suspirou ao se encostar na parede ao seu lado, abrindo a mochila para retirar a capa preta e uma bolsa de couro antiga.