Capítulo 03

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Elfee

Elfee estava mais explosiva do que jamais estivera em décadas. A reconstrução da cidade há muitos dias já havia sido concluída; construções reerguidas e feridos recuperados. A enfermaria finalmente estava silenciosa novamente, restando poucos os que ainda precisavam de tratamento dos curandeiros. Infelizmente, a perda e os temores eram mais difíceis de ser curados. A cidade era um barril de pólvora, esperando apenas mais um desastre dentre todos os que já haviam acontecido. Os chefes tentavam manter seus representados sob controle, escutando seus pedidos e suprindo da melhor forma possível as perguntas que infelizmente ninguém podia responder.

As perdas, o luto, tornaram difícil que eles conseguissem respirar sem que os olhos das mais variadas cores se abalassem com as lembranças daqueles que já não estavam mais com eles. A morte mais sentida foi do Chefe Natural, Ursel, um fauno ainda na flor da idade, com muito o que viver. Havia lutado bravamente na batalha e morrera como herói, assim como muitos outros. Todos os faunos, ninfas e fadas que faziam parte de seu grupo haviam enviado seu corpo para o seio mais profundo da floresta que rodeava Elfee, entregando-o para que os espíritos da floresta cuidassem de seu corpo e guiassem sua alma para o além-vida.

Contudo, Elfee ainda era o maior refúgio para as espécies mágicas e precisava continuar. A rainha passara os dias e as noites garantindo que nenhum inimigo havia ficado em sua terra e ninguém a julgou mal quando ordenou que os naturais escolhessem um novo líder.

— Ursel merece um sucessor digno. — Ela havia dito à eles, escondendo sua fraqueza sob a coroa que agora descansava com a leveza de uma montanha em sua cabeça.

A escolha demorou menos do que era esperado e, em questão de poucos dias, o conselho de Elfee estava novamente reunido na Sala de Guerra, debatendo o que deveriam fazer nos próximos dias.

Ocorre que Elfee havia enfim eclodido. Uma explosão de temperamentos abalou todo o reino quando a notícia do massacre à Lua Negra chegou às orelhas de seus habilitantes. Fúria assolava àqueles que se recordavam que Elfee ainda existia porque a matilha os havia salvado e insatisfação e rancor abalava àqueles que entendiam que eles deveriam ter ajudado, deveriam ter ido ao socorro deles.

Mas não havia tido pedido de ajuda, ninguém os informara e ninguém sabia que os licantropos precisavam deles. Não que isso fosse impedir Elfee de fazer algo por eles; na manhã seguinte ao atentado os chefes informaram ao povo que, por ordem da rainha, aqueles que concordassem em receber um lobisomem em casa devia entregar seu nome ao chefe de seu grupo até o meio-dia. Perguntas assolaram os chefes por todos os lados, mas as respostas vieram mais rápido do que eles esperavam. Exatamente à uma hora da tarde, o portal principal de Elfee voltou a se abrir e dezenas de seres maltrapilhos entraram.

O que restava da matilha se arrastava para dentro do reino; alguns mancando e sendo escorados, alguns sujos, mas inteiros enquanto outros ostentavam grandes e sangrentos ferimentos, um punhado se mantinha na forma de lobo para carregar os mais gravemente feridos. Mas o choque maior foi quando o portal voltou a se fechar e o povo élfico ofegou ao compreender que fim levara grande parte da maior matilha de todo o continente. Mais da metade dos lobisomens da Lua Negra estava morta.

Eles eram liderados por uma loba enorme, outrora branca. Seu pelo estava duro pela sujeira da batalha e grandes nacos de pelo haviam sido arrancados de seu corpo. Havia um ferimento em suas ancas, mas ela não parecia se incomodar com ele, mas sim com o corpo inerte que carregava sobre suas costas.

Priya, a luna da matilha, parou a alguns passos de Araceli, os lobos parando atrás dela, exaustos, famintos e feridos. O povo élfico formara um semicírculo ao redor do portal, olhando com pesar para os aliados derrotados. Todos pareceram prender a respiração quando Araceli caminhou rapidamente até a loba, colocando a mão levemente sobre o enorme pescoço e recebendo com carinho o lamento choroso que veio da criatura.

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