Vale de Mion
Daniel se recordava de sua mãe. Era uma memória gasta e desfocada, mas ele se lembrava dela; não fisicamente - se tinha cabelos castanhos ou loiros, olhos escuros ou claros – mas sim emocionalmente. Sentimentos infantis que o tinham acompanhado por boa parte de sua vida e que o tinham salvado das dores e humilhações durante os anos convivendo com seu pai. Recordava-se de se sentir seguro em seus braços, do timbre de sua voz sussurrando carinhos em sua orelha. Recordava-se do que era se sentir amado e, principalmente, como se sentia em casa ao ser ninado em seus braços, ouvindo-a cantar algo que sua memória descartou. Recordava-se dos dedos dela acariciando seus cabelos e de uma única palavra.
Ludaezni.
A palavra era a única certeza que tinha. Ainda que sua recordação fosse apenas fruto de sua saudosa imaginação, seu pai sempre repetia o apelido como forma de o sensibilizar quando percebia que o filho estava arredio; mal sabia o homem que dera ao filho sua mais valiosa memória.
Infelizmente, de nada servia naquele momento.
Daniel tentava de todas as formas se lembrar de qualquer coisa que pudesse indicar algo sobre Messor, o arco de Sina. Sua arma divina predestinada. Todos seus amigos aguardavam em silêncio, observando-o atentamente enquanto Dametra resmungava que estava começando a sentir a pele irritada por conta das raízes de Maria.
— Pensei que estariam mais interessados no assunto do que estão demonstrando. — Balbuciou a Tecelã, soando parcialmente ofendida e parcialmente entediada.
— Tudo isso de Armas Divinas é muito legal, mas não é exatamente nosso foco. — Maria respondeu, balançando a perna impacientemente.
— Mas seria tão legal ter uma arma incrivelmente poderosa igual a da Rose. O que você acha que é a arma de Rela? — Thomás perguntou à Rose, sorrindo de forma sonhadora. — A sua é uma espada e a do Dan é um arco, óbvio.
— Já sei o que é. — Rose sorriu maliciosamente, analisando as próprias unhas destruídas.
— O quê?
— Um fósforo. — Ela riu da cara de tédio de Tom, o qual lhe jogou um guardanapo amassado na cabeça.
— As duas crianças já acabaram? — Dametra resmungou, olhando-os com irritação. — Será que dá para vocês levarem essa situação a sério? Vocês precisam encontrar as Armas Divinas antes dos Buscadores.
Daniel suspirou, inclinando-se para frente ao olhar sombriamente o rosto jovial da oráculo.
— O que mais sabe sobre Messor e as outras Armas Divinas?
Dametra se virou para ele, iniciando sua fala com a voz sombria e urgente, como se tentasse os fazer compreender algo que deviam ter percebido muito antes.
— As Armas possuem uma magia que mesmo os maiores bruxos do nosso mundo nunca seriam capazes de reproduzir. Justitia sozinha é mais forte e mais mortal do que a maioria das espadas do mundo, mas quando usada por seu verdadeiro portador... Ela se torna algo que poderia dizimar exércitos com um único movimento.
Rose franziu o cenho para sua espada, observando os detalhes do cabo e da lâmina com atenção ao passar os dedos carinhosamente sobre ela.
— Ela é a melhor arma que já usei, mas... Não acho que seja tudo isso.
— Não estou dizendo que você é inexperiente, mas ela não é tão boa assim. Tentei usar há alguns dias e a única coisa que consegui foi deixar um talho na parede daquele casebre e dor no braço. Além de cega, é pesada. — Maria disse, mantendo os olhos sobre a arma.
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Alma Negra
Fantastik"O tempo não é capaz de curar todos os ferimentos." Uma pesarosa nuvem negra paira sobre Elfee desde a coroação de sua rainha. Morte e traição, bem como surpresa em aliados inesperados, forjaram uma cicatriz que marcará para sempre a cidade das fada...