Elfee
Damon se recusava a ficar na enfermaria por mais um minuto sequer. Estava arredio e furioso; os olhos lupinos permaneciam eclipsados pela dor da perda e do luto, assim como pela descrença daqueles entre os seus que ameaçavam lutar entre si para comandar a matilha. Ele não estava morto, mas a fraqueza de seus ferimentos junto com a desgraça que recaiu sobre Lua Negra o fazia se sentir como uma casca, sem forças e sem vida.
— Eu vou quebrar sua perna se você der um passo para fora dessa cama.
Priya rosnou para ele, cutucando seu peito dolorosamente com um indicador arqueado. Estava sem paciência para muitas coisas e lidar com um chato, manhoso e teimoso parceiro era mais do que se submeteria a aguentar.
— Não pode esperar que eu fique de repouso como um filhote febril enquanto alguns dos meus lobos lutam entre si e agem como idiotas e outros se afundam no luto! — Ele retrucou, afastando a mão dela discretamente de suas costelas doloridas.
— Nossos lobos, Damon! Nossos. Podemos ter apenas um alfa, mas eu estou tomando conta de tudo. Eu, ouviu? Não você. Precisamos de um alfa forte e você não vai conseguir se recuperar se ficar desfilando essa bunda grande e dolorida por Elfee. — Ela rosnou mais uma vez, batendo em sua mão com irritação e sorrindo vitoriosa quando ele conteve uma careta de dor. — AHA! Eu sabia. Agora toma sua poção e vai dormir! Precisa descansar, meu amor. Perder tantos de nós já é ruim o suficiente sem considerar que você sentiu todas as mortes mais do que todos.
Damon se recusou a deitar, no entanto. Suas garras estavam a mostra desde que acordara e suas presas coçavam para aparecer, mas era o instinto lupino dentro de si que mais o perturbava. Ele queria se transformar e correr, queria sentir seu pelo manchado pelo sangue da criatura que assassinara a maior parte de sua matilha. Ele ansiava por punir quem não tivera piedade nem mesmo com os idosos e os filhotes; via contra suas pálpebras sua toca destruída, seus anciões despedaçados e seus filhotes torturados. Estava cansado de poções com gosto de fruta podre e cutucadas dos curandeiros élficos.
— Quero falar com os celis. Pode chamar Cassie?
Ele enfim perguntou, tentando encontrar um tópico que distrairia Priya o suficiente para que ele pudesse se transformar e sair daquele lugar. Priya, contudo, se arqueou e desviou os olhos, encarando qualquer coisa que não fosse o rosto de Damon.
— Priya, onde está Cassie? — Ele perguntou, pressentido que não gostaria nenhum pouco da resposta.
Priya havia evitado contar a ele sobre o desaparecimento dos guardiões, principalmente porque ele precisava se recuperar e já haviam interferido no processo. Dois dias antes Edgar havia aparecido na enfermaria com o pretexto de ter certeza que "não estavam fingindo que ele estava acordado para tentar o fazer desistir de seu posicionamento". Priya havia mandado ele enfiar o posicionamento em um lugar nem um pouco agradável e o chutara da enfermaria. Infelizmente Damon estar acordado a impedia de cumprir sua promessa de matar Edgar dolorosamente. Depois desse episódio, ela lutava constantemente para manter o alfa na cama.
— Ela está bem. Está... — Respondeu.
— Está? — Damon perguntou, segurando a mão dela para que não fugisse.
Priya suspirou e soltou um xingamento baixinho, respirando fundo antes de responder.
— A última notícia que temos dela e dos celis é que foram atrás da Tecelã. Entraram no Vale de Mion e... Ninguém tem notícias desde então. Os élficos não conseguem entrar em contato. Eles iam enviar uma equipe, mas Araceli não consegue abrir o portal. O Vale de Mion foi selado.
Damon fechou os olhos e respirou fundo, deixando seu corpo relaxar sobre a cama enquanto assimilava suas palavras.
— Quanto tempo?
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Alma Negra
Fantasy"O tempo não é capaz de curar todos os ferimentos." Uma pesarosa nuvem negra paira sobre Elfee desde a coroação de sua rainha. Morte e traição, bem como surpresa em aliados inesperados, forjaram uma cicatriz que marcará para sempre a cidade das fada...