Capítulo 11

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Vale de Mion 

Maria havia encontrado a trilha que os levaria para a casa da Tecelã antes que o Sol nascesse, mas apenas haviam iniciado a viagem horas depois do amanhecer. A sorte tinha estado ao seu lado e nenhum tivera um ferimento maior do que alguns hematomas e arranhões superficiais, mas a exaustão os havia abalado e todos resolveram recuperar suas energias antes de mais uma viagem. Limparam-se o melhor que puderam em uma das ramificações do riacho, comeram os alimentos que Daniel e Cassie pegaram no casebre e cuidaram para que os cavalos estivessem alimentados e descansados para quando precisassem viajar novamente.

Não houve muitas conversas durante o momento de descanso, palavras trocaram em um momento ou outro, nas trocas de turno ou quando desmontaram o acampamento. O silêncio era sempre incomum quando se tratava daqueles cinco, mas se encerrou no instante em que subiram nos cavalos e voltaram a se mover.

— Qual é o plano? — Rose perguntou quando diminuíram a velocidade em um trecho particularmente íngreme.

Daniel, o qual se mantinha sempre por último e usando suas sombras para identificar qualquer ameaça, se aproximou e colocou um dos odres de água em sua mão.

— É provável que a Tecelã esteja nos esperando quando chegarmos. Se conseguirmos chegar, na verdade. — Ele respondeu, tirando os olhos de cima da namorada apenas quando teve certeza de que ela iria beber a água e não fingir como das outras vezes. Estava quente demais.

— Como sabemos que estamos na trilha certa? Dametra confundiu as habilidades de Maria antes. — Tom perguntou, jogando algumas frutinhas silvestres na boca.

Maria, a qual liderava o grupo, puxou levemente as rédeas de Akira para que eles pudessem a alcançar. Normalmente odiava quando era subestimada, mas não podia se irritar com Tom naquele momento, principalmente porque se fazia a mesma pergunta.

— Se ela o fizer, vamos continuar. Em algum momento vamos chegar a algum lugar ou conseguir enviar uma mensagem à Elfee. — Maria respondeu, apertando as rédeas enquanto mantinha os olhos em frente, na trilha invisível que deveriam seguir.

— Mel e Fallon já devem ter percebido que algo está errado. E Araceli vai autorizar que alguém venha nos buscar. — Cassie respondeu, levando a mão inconscientemente à orelha e à pedra lumina disfarçada de brinco que não estava lá.

Poucos anos atrás, a maioria das criaturas sobrenaturais se comunicava com mensagens enviadas pelo fogo, animais ou feitiços mensageiros. Maria e Melanie haviam se unido para criar uma forma de comunicação que facilitasse a troca de informação e o armazenamento de dados. Tudo foi feito usando poderes dos celis e os unindo com os élficos, o que resultou na criação das pedras luminas. Elas cresciam como botões de flor e se conectavam profundamente com seus donos. Cassie, perdida em seu luto, nem percebera o quanto sentia falta da sua, um belo exemplar na cor azul marinho e no formato de lua crescente.

— Não sabemos o que está acontecendo do lado de fora. Se formos pela lógica desse lugar, podemos estar desaparecidos por horas ou anos. Não acho uma boa ideia torcermos por ajuda. — Daniel respondeu, pesaroso.

Rose suspirou ao olhar atentamente para ele. Seus olhos cinzentos estavam perdidos, mas havia algo sombrio por detrás das íris. Ela rapidamente compreendeu o que ele relutava em lhes informar.

— Já faz meses. Ninguém vem. — Ela sussurrou, amargurada.

Assentindo com pesar, Daniel suspirou ao se virar para Maria e segurar com firmeza as rédeas de Zara, sua égua de pelagem preta.

— Nos leve à Tecelã. Se alguém pode nos tirar daqui, é você.

A incerteza havia brotado dentro de si no momento e que lhes dissera ter conseguido encontrar o caminho para a casa da Tecelã. Maria se sentia presa em um momento do passado que não era bem-vindo naquele instante. Meses atrás, no que parecia outra vida, os cinco guardiões haviam deixado Elfee e embarcado em uma busca naquele mesmo lugar, onde seus poderes os havia convencido ter encontrado o caminho para a mesma casa que buscavam. Estava errada; dias se passaram sem que eles fossem a lugar nenhum. Perderam-se no meio de uma prisão sem fim até que a Tecelã se decidisse que estava pronta para falar com eles.

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